As preocupações globais estão aumentando em relação ao desmatamento e à degradação que ameaçam fazer com que a floresta amazônica ultrapasse o “ponto de inflexão” e se transforme em uma savana. Os cientistas temem que o retrocesso já esteja em andamento em partes da Amazônia Legal no Brasil. Cientes dessas ameaças, presidentes de oito países amazônicos se reuniram em Belém nos dias 8 e 9 de agosto para uma reunião de cúpula com o objetivo de se comprometer com redobrar esforços para acabar com o desmatamento, proteger a biodiversidade e acelerar o desenvolvimento “verde”.
Apesar da resistência dos interesses da agricultura comercial, da pecuária e da mineração, há um reconhecimento crescente de que o modelo convencional de extração de matérias-primas deve ser rapidamente substituído por uma nova abordagem que amplie a bioeconomia regional. Mesmo havendo consenso para expandir uma economia mais sustentável, ainda há discordância sobre o que está (e o que não está) incluído na “bioeconomia” e como ela é interpretada localmente. Esse debate é mais que apenas semântico, já que a definição da bioeconomia tem implicações reais para leis, políticas e investimentos dentro e fora da Amazônia.
Nesse contexto, o BID e o Instituto Igarapé iniciaram um novo projeto de pesquisa para entender melhor as definições e abordagens compartilhadas na Amazônia para estimular a bioeconomia na região. A equipe espera identificar áreas de convergência e divergência entre os oito países ao estudar interpretações locais provenientes da literatura acadêmica e política. O Instituto já identificou centenas de estudos e mais de 350 pesquisadores que trabalham com a bioeconomia na região. Os resultados do estudo apoiarão o BID e seus parceiros na implementação do Amazônia Sempre, um programa abrangente lançado pelo BID com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia por meio do aumento do financiamento, do compartilhamento de conhecimentos estratégicos e do apoio à colaboração das partes interessadas em toda a região.
Pesquisas acadêmicas destacam pelo menos três abordagens distintas para a bioeconomia em todo o mundo: biotecnológica (crescimento econômico por meio de pesquisa, inovação e aplicação comercial da biotecnologia), recursos biológicos (novas cadeias de processamento para substituir matérias-primas fósseis por biológicas) e bioecologia (enfatizando modelos econômicos que promovem a biodiversidade e a conservação ambiental). Há o risco de que a ênfase excessiva em uma abordagem em detrimento de outras possa resultar na perda de oportunidades, pois o financiamento favoreceria determinados tipos de investimentos em detrimento de outros.
A enorme escala e diversidade das culturas, economias e ecossistemas da região amazônica exigem uma abordagem abrangente da bioeconomia. Embora os defensores da bioeconomia possam expressar preferências e preocupações diferentes quando se trata de defender sua própria abordagem à bioeconomia, uma perspectiva participativa e flexível também é fundamental para o sucesso da bioeconomia em longo prazo.
As perspectivas locais são essenciais para garantir políticas e investimentos mais eficazes e inclusivos. O estudo do BID e do Instituto Igarapé busca revelar diversas perspectivas, prioridades e abordagens para informar o apoio estratégico à bioeconomia na região amazônica. Como parte desse exercício contínuo de escuta e consulta, o Instituto está realizando uma pesquisa on-line para pesquisadores que trabalham com bioeconomia e tópicos relacionados, abrangendo Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A pesquisa está disponível em inglês, espanhol e português e leva menos de 5 minutos para ser concluída.
Uma bioeconomia amazônica próspera oferece um imenso potencial para o desenvolvimento sustentável e para a conservação do capital natural e cultural. Mas a verdade é que os andaimes da bioeconomia ainda estão sendo construídos. O BID e o Instituto Igarapé estão trabalhando juntos para apoiar governos, empresas e a sociedade civil a navegar melhor pelas diferentes interpretações e aprimorar o compartilhamento de informações com base no entendimento local. Os esforços de colaboração entre especialistas, investidores e ativistas da região são fundamentais para a formação de uma bioeconomia que realmente apoie o bem-estar de longo prazo da região amazônica e de seu povo.
É urgentemente necessária uma compreensão profunda e sofisticada da complexidade da bioeconomia amazônica. De fato, somente com a adoção de uma abordagem abrangente e pragmática para conceituar a bioeconomia é possível desvendar todo seu potencial. Caso contrário, a bioeconomia pode ter mais dificuldade para competir com os modelos destrutivos de exploração natural e cultural que predominam atualmente. A vitalidade da bioeconomia da região amazônica não depende de construções teóricas, mas, o que é ainda mais importante, do reconhecimento e da integração do conhecimento local e da prática sustentável.
***
O BID e o Instituto Igarapé convidam pesquisadores ligados à bioeconomia dos oito países amazônicos a participarem de uma conversa contínua por meio desta pesquisa on-line. O objetivo é fortalecer as redes de conhecimento para contribuir com a construção proativa e produtiva da bioeconomia da região.
Leave a Reply