por Simone Bauch*
A ideia geral que temos sobre a mudança climática é que ela é ruim. Bem, essencialmente é mesmo. Essa conclusão baseia-se em evidências e estudos científicos realizados em diferentes locais. Sendo assim, a mudança climática é ruim para a Floresta Amazônica também? Por mais surpreendente que possa parecer, boa parte da resposta ainda está para ser descoberta.
A mudança climática é causada por um aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera. Um destes gases é o dióxido de carbono (CO2), que é o mesmo gás que expelimos toda vez que expiramos. A concentração desses gases vêm aumentando na atmosfera da Terra desde a Revolução Industrial, devido à queima de combustíveis fósseis. Essa concentração de gases prende o calor dentro da atmosfera terrestre, criando um efeito similar ao de uma estufa. Isso causa mudanças climáticas como o derretimento das calotas polares, alterações nas correntes oceânicas e um aumento de eventos climáticos extremos, todos eles processos negativos para os seres humanos.
E o que as plantas têm a ver com o CO2? Elas o usam para crescer, por meio de um processo chamado fotossíntese. Quando a mudança climática ocorre e a concentração de CO2 na atmosfera aumenta, as plantas têm um suprimento maior desse importante componente da fotossíntese, o que poderia fazer com que cresçam mais, melhor e mais rápido. Isso significa que as florestas tropicais, como a Amazônia, poderiam ter o potencial de aumentar sua biomassa (matéria vegetal e animal) e, de fato, reagir positivamente às mudanças climáticas, talvez até mitigando parte dos impactos negativos gerais dessas mudanças.
Qual é a outra possibilidade? Por que temos dúvidas quanto à obtenção de um resultado positivo da mudança climática nas florestas tropicais? Assim como nós, humanos, temos um limite para a quantidade de oxigênio que podemos respirar, as plantas também só podem absorver uma determinada quantidade de CO2. Assim, se o ecossistema amazônico estiver próximo de seu limite de consumo de CO2, um aumento do CO2 devido à mudança climática não teria os efeitos positivos previstos e poderia, na verdade, ter efeitos negativos.
A Amazônia é a maior área ininterrupta de florestas tropicais do mundo, habitat de milhares de espécies e com uma importante função climática de regulação da umidade e dos ventos. Se perdêssemos esse ecossistema tão essencial, os efeitos para a vida moderna seriam desastrosos. Portanto, é crucial que ajudemos a descobrir o que acontecerá a esse ecossistema se a concentração de CO2 aumentar conforme o previsto pelos modelos climáticos.
Para ajudar a responder a essa pergunta, o BID sediará um workshop sobre os efeitos da fertilização por CO2 na Floresta Amazônica, que reunirá mais de 30 dos mais renomados pesquisadores da área. O objetivo do workshop é discutir as pesquisas mais atuais sobre os efeitos do CO2 nas florestas tropicais e elaborar um plano para apoiar iniciativas que possam nos dar a resposta final correta. Esse workshop fechado acontecerá em 3-4 de abril em Washington DC e é patrocinado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.
* Simone Bauch é Especialista em Mudança Climática no BID e coordena todos os projetos relacionados ao tema no Brasil. É bacharel em Engenharia Florestal pela Universidade de São Paulo (Brasil) e tem Mestrado em Economia Florestal pela Virginia Tech (EUA) e doutorado em Economia Ambiental e do Desenvolvimento pela North Carolina State University (EUA).
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