No ano passado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) completou 60 anos. Durante essas seis décadas, o BID desempenhou um papel transformador na promoção do desenvolvimento na América Latina e no Caribe (ALC). Ao refletir sobre muitos desses avanços positivos, e olhando para a frente, nos perguntamos: qual será a nossa contribuição para a região nas próximas décadas?
Essa reflexão deve levar em conta que enfrentamos emergências ecológicas e climáticas simultâneas e sobrepostas. Segundo as Nações Unidas, até 1 milhão de espécies estão atualmente em risco de extinção devido à atividade humana, e são necessárias ações transformadoras imediatas – e sustentadas até 2050 – para garantir que o mundo limite o aquecimento global a 1,5 grau Celsius.
Como a região com maior biodiversidade no mundo, e uma das mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, o futuro da região depende de nossa capacidade de transformar fundamentalmente seu caminho de desenvolvimento. Se falharmos, isso poderá reverter anos de progresso e tornar quase impossível o crescimento sustentável e inclusivo. Nossas respostas devem colocar os cidadãos em primeiro lugar, para resolver continuamente os desafios de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que se evita acentuar os desafios já existentes ou, involuntariamente, criar outros.
Embora as mudanças climáticas tragam riscos consideráveis, os países de nossa região estão demonstrando que os esforços para enfrentá-las podem ajudar a acionar novos motores para o desenvolvimento sustentável. Pensar na ação climática como uma opção para promover o desenvolvimento é fundamental, uma vez que, até agora, os esforços globais para impedir as mudanças climáticas têm sido insuficientes. Em grande parte, temos analisado o problema climático através de lentes erradas, abordando a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) como um custo, ao invés de uma oportunidade econômica. Isso resultou em etapas incrementais que apesar de nos permitiram avançar, não foi o suficiente.
Em um passo ousado e intelectualmente estimulante, vários países da América Latina e do Caribe estão liderando o caminho com estratégias de descarbonização de longo prazo, as quais resultam em ferramentas transformadoras para orientar o desenvolvimento econômico em direção a um futuro mais sustentável, resiliente, inclusivo e competitivo.
Essas iniciativas na região demonstram que a ação climática não se refere apenas à redução de emissões, mas também à escolha de um novo caminho de desenvolvimento. A transição é baseada nos tipos de empregos que queremos no futuro e não no número de empregos. Trata-se de desenvolver as indústrias verdes do futuro, reduzir a poluição do ar, os congestionamentos em nossas cidades, e de economizar dinheiro em vez de impor custos adicionais. Tenho orgulho de declarar que o BID apoia os países da região com este trabalho inovador, a fim de cumprir os objetivos do Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Nossa nova publicação, Como Alcançar Zero Emissões Líquidas: Lições da América Latina e do Caribe, (disponível apenas em espanhol ou inglês) descreve o trabalho inspirador que está sendo realizado por diferentes governos da região para projetar e implementar estratégias e planos de descarbonização a longo prazo. Transformar nossas economias para chegar a zero emissões líquidas será difícil. No entanto, há cada vez mais evidências de que isso é tecnicamente possível e que, com a abordagem correta, pode trazer benefícios econômicos para a região. Adicionalmente, não há dúvida de que atingir zero emissões líquidas é essencial para enfrentar a crise climática e implementar os objetivos do Acordo de Paris.
Ao olharmos para a década de 2020 e adiante, estou confiante de que o cuidadoso desenho e implementação dessas estratégias de longo prazo são não apenas essenciais para atingir os objetivos do Acordo de Paris, mas também para promover os avanços tecnológicos necessários para estimular o crescimento sustentável e inclusivo. Os governos são os protagonistas na facilitação da transição para a descarbonização através da eliminação de barreiras regulatórias, permitindo e fomentando novos modelos de negócios, e garantindo uma transição inclusiva.
O BID continuará apoiando nossos sócios na ALC na implementação de seus compromissos sob o Acordo de Paris, e no alcance de um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo que melhore a vida de todos. É necessária uma mudança de paradigma, e esta publicação nos mostra o caminho a seguir: atingir zero emissões líquidas é crucial, pode contribuir positivamente para o desenvolvimento, e pode ser alcançado.
* Este artigo é baseado no prefácio do autor na nova publicação do BID, Como Alcançar Zero Emissões Líquidas: Lições da América Latina e do Caribe (disponível apenas em espanhol ou inglês).
Foto: chuttersnap on Unsplash
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