Katia Carvalheiro*
A alimentação das pessoas que vivem na Amazônia brasileira tem características bem singulares e é enriquecida com uma enorme variedade de produtos daquela flora e fauna. Estes produtos são compostos por tubérculos, frutas, sementes, folhas, palmitos, peixes, mariscos e camarões. O processamento e preparo destes alimentos possui uma forte influência indígena, e de algumas outras culturas.
A gastronomia paraense é um dos exemplos dessa exuberância e a capital do Estado, Belém, tem sido importante palco do festival gastronômico, chamado Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, rendendo a Belém o título de Cidade Criativa da Unesco, com destaque para a gastronomia.
Se tomarmos apenas o item frutas, teremos na Amazônia dezenas de espécies originais que são comercializadas e consumidas diariamente pela sua população, in natura e na forma de polpas, geleias, sucos, sorvetes, e até mesmo como refeição principal, como é o caso do açaí. A lista de produtos e subprodutos se estende quase que infinitamente, quando consideramos a diversidade específica de cada micro região e as formas de processamento e preparo.
Os agricultores familiares da região Amazônica produzem a quase totalidade dos principais alimentos consumidos pelos amazônicos e os que são exportados, como é o caso do açaí e da castanha-do-pará. A Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas, a FAO, decretou 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar, reconhecendo assim a importância deste setor para a alimentação, informando que cerca de 70% dos alimentos consumidos no mundo são produzidos pelos pequenos produtores.
No Brasil, o último censo realizado pelo IBGE, em 2006, mostrou que os pequenos produtores se destacaram na produção alimentar, com 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 50% da carne suína, 50% das aves.
Para se ter uma ideia dos desafios enfrentados pelas populações rurais na Amazônia, o relatório da FAO “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, apresenta que, das 850 milhões de pessoas subnutridas no mundo, 75% vivem em áreas rurais, o que evidencia a necessidade de valorização da agricultura com base no trabalho familiar e sustentável.
Uma oportunidade de apoio técnico e financeiro para pequenos produtores da Amazônia e Mata Atlântica é o Projeto Rural Sustentável que incentiva a adoção de tecnologias agropecuárias com baixa emissão de carbono e de boas práticas sustentáveis. A meta do projeto é beneficiar diretamente 3.710 produtores e seus técnicos de Assistência Técnica Rural, distribuídos em 70 municípios dos estados de Mato Grosso, Pará, Roraima e Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. A segunda chamada do Rural Sustentável fica aberta até o dia 16 de setembro.
*Katia Carvalheiro é consultora do BID no Brasil, atuando como coordenadora técnica para o bioma Amazônia dentro do Projeto Rural Sustentável. É mestre em Estudos Latino Americanos, no Programa de Conservação e Desenvolvimento Tropical da Universidade da Flórida, possui formação em engenharia florestal e atua há mais de 25 anos na Amazônia brasileira com manejo comunitário de recursos florestais, manejo de queimadas, regularização fundiária, certificação florestal e metodologias participativas.
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