Muitas de nós temos a sorte de não pensar nos recursos básicos necessários durante a menstruação. Ter acesso fácil à água e ao saneamento sem precisar fazer mudanças significativas na sua vida diária representa uma ferramenta poderosa para a equidade. Neste texto que marca o Dia Mundial da Higiene Menstrual, celebrado em 28 de maio, refletimos sobre o poder que os projetos de água e saneamento dão às pessoas que menstruam.
Por Andrea Ortega C.
O banheiro deve ser o nosso lugar favorito em nossas casas. Não por ser o mais bonito, muito menos o maior, mas simplesmente por termos acesso a ele. Graças a isso, podemos gerenciar nossa menstruação e fazer todos os tipos de atividades sem ter que pensar muito sobre isso. Mas essa ainda não é a realidade de todas as pessoas que menstruam que vivem nos países da América Latina e do Caribe.
De acordo com a UNESCO, uma em cada quatro mulheres menstrua durante dois a sete dias de cada mês, o que significa que sangram em média sete anos ao longo da vida. Por esse prisma, é impossível não entender como a falta de acesso à água e ao saneamento é um obstáculo à igualdade para todas as pessoas que menstruam.
Na América Latina e no Caribe, há quase 17 milhões de pessoas que ainda não têm acesso a serviços básicos de água para consumo e 72 milhões sem acesso a um banheiro decente em suas casas, de acordo com o Programa Conjunto de Monitoramento de Abastecimento de Água, Saneamento e Higiene (JMP).
A falta de água e saneamento para a higiene menstrual é a base de múltiplas disparidades de gênero enfrentadas por meninas, mulheres e minorias. Por exemplo, a ausência de banheiros adequados aumenta o absenteísmo escolar. Segundo dados do Unicef, uma menina pode faltar a até 4 dias de aula por mês, o que pode prejudicar seu desempenho acadêmico e aumentar suas chances de evasão.
No ambiente de trabalho, o manejo menstrual também encontra barreiras: desde o acesso a produtos e higienização adequada até a possibilidade de fazer pausas ou se ausentar se as cólicas forem muito intensas. Isso gera condições desiguais de trabalho em ambientes onde a perspectiva de gênero não é aplicada.
Nas áreas rurais, a situação é ainda pior, já que os locais de trabalho raramente têm a infraestrutura de saneamento adequada. Além disso, o esforço físico necessário, a falta de informação e os tabus marginalizam ainda mais meninas, mulheres que menstruam, pessoas trans e não-binárias durante a menstruação. Alguns estudos mostram que mitos – como o medo de lavar com água por achar que é incompatível com o sangue, ou o perigo percebido de se aproximar de uma lavoura porque pode arruinar seu crescimento – dificultam ainda mais a gestão da menstruação e agem em detrimento da equidade e inclusão.
Por essas razões, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), por meio do Fundo Espanhol de Cooperação para Água e Saneamento na América Latina e no Caribe (FECASALC ou Fundo), desenvolveram projetos de água e saneamento que beneficiaram mais de quatro milhões de pessoas na América Latina e no Caribe.
Como exemplo, em Portoviejo, no Equador, a AECID está trabalhando em um projeto que tem uma abordagem transversal de gênero. A iniciativa tem também um componente específico de higiene menstrual para fortalecer as capacidades das mulheres por meio do Programa Água e Esgoto Potável, baseado na experiência, que permite às participantes analisar os elementos simbólicos e culturais que afetam a sexualidade das mulheres e aprofundar sua relação com água e saneamento.
Por meio do Fundo e de projetos como esses, o BID e a AECID atuaram para acabar com as disparidades de gênero por meio do acesso universal à água e ao saneamento. Afinal, esses serviços são essenciais e, da próxima vez que você entrar em um banheiro, certamente reconhecerá o valor de ter essa estrutura à disposição.
Descubra em nosso podcast sobre o Dia da Higiene Menstrual, na Rádio BID, como o acesso a serviços básicos pode impactar a vida de milhões de pessoas e permitir que elas vivam a vida que desejam.
*Andrea Ortega Carreño é Consultora de Comunicação do BID e da Cooperação Espanhola e apoia o Fundo Espanhol de Cooperação para Água e Saneamento na América Latina e Caribe. É doutoranda em Estudos Feministas e de Gênero na Universidade Complutense de Madrid.
Texto também disponível em inglês, no blog Volvamos a la fuente
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