De acordo com estimativas, a pandemia acelerou a transformação digital das empresas em algo da ordem de 3 a 5 anos. E a região da América Latina e Caribe não foi exceção nessa aceleração. No entanto, muitas empresas permanecem atrás da curva em termos de adoção de tecnologias digitais e correm o risco de ficar ainda mais para trás à medida que essa tendência continua.
Nesse contexto, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) firmou parceria com a ONG chilena Fundación País Digital para desenvolver uma ferramenta automatizada de autodiagnóstico para ajudar micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) a entender seu nível de maturidade digital. Chamada Chequeo Digital, a ferramenta gratuita foi lançada em 17 países da região e já avaliou mais de 20.000 empresas.
O diagnóstico conta com uma série de perguntas dinâmicas sobre o uso de tecnologias pelas empresas e leva aproximadamente 25 minutos para ser concluído. Além de ajudar na identificação de pontos fortes e fracos, também é possível fazer recomendações de treinamentos e tecnologias para auxiliar a empresa melhorar sua maturidade digital.
A versão brasileira: Check-up Digital
No Brasil, o BID tem colaborado com o Ministério de Economia (ME) e com a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) no desenvolvimento da versão em português da ferramenta, que por aqui recebeu o nome de Check-up Digital e passou pelo ajuste do diagnóstico do contexto específico das micro, pequenas e médias empresas nacionais. Esse trabalho é parte do Programa Brasil Mais, que visa aprimorar as capacidades gerenciais, produtivas e digitais das MPMEs por meio de intervenções rápidas e de baixo custo que garantam resultados consistentes no aumento da produtividade e da competitividade.
O processo todo começou ainda em 2019, com um convênio entre o ME e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para a elaboração de uma metodologia de atendimento. Foram então realizados testes em 180 empresas, com as seguintes etapas:
- diagnóstico dos principais problemas enfrentados;
- priorização de problema a ser resolvido por meio de solução digital plug-and-play, dentre as disponíveis em catálogo pré-definido de casos de uso e matching entre fornecedor e empresa;
- acompanhamento especializado na adoção da ferramenta pelo período de 3 a 5 meses;
- medição de indicadores e de nível de maturidade digital antes e após a implementação da ferramenta.
Resultados dos pilotos iniciais
Indicadores de Payback e Return Over Investment (ROI) foram escolhidos para a medição do impacto dos atendimentos, por serem de aplicação transversal independentemente do tipo de investimento realizado. E os primeiros resultados apontaram que o ROI médio calculado para as 180 empresas atendidas foi de 309% e o Payback, de 2,7 meses.
Os atendimentos em larga escala tiveram em início no segundo semestre de 2022 e envolveram outro parceiro, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Até o final de outubro, mais de 3.000 empresas estavam inscritas ou em processo de atendimento. A previsão é que esse ciclo seja finalizado no início de 2023.
Na prática, a avaliação começa com as instruções do Agente Local de Inovação (ALI) sobre o preenchimento do questionário do Check-up Digital. O diagnóstico resultante integra o conjunto de informações a serem avaliadas pelo ALI na definição do plano de ação a ser adotado pela empresa. E, na etapa final do atendimento, a empresa é incentivada a responder ao questionário novamente para que o impacto da adoção da solução de transformação digital seja avaliado.
Perfil das empresas participantes
Do total de participantes, 82,45% finalizaram o preenchimento do formulário e 17,55% estão em processo de avaliação. As empresas que finalizaram o formulário foram categorizadas em 21 setores:
Considerando a faixa de faturamento das empresas, a maior parte é composta por microempresas, com faturamento anual de até R$ 360 mil (1.622 – 58.01%):
Das empresas que concluíram o teste, 58,91% estão no nível de maturidade digital classificado como “novato”, indicando a existência de habilidades digitais básicas com a integração inicial das tecnologias para atender às necessidades de diferentes áreas da empresa. Apenas 13 empresas foram classificadas como “avançadas”:
A metodologia permite obter dados do nível de maturidade digital organizados em 6 dimensões: tecnologia; comunicação; organização; estratégia; dados e processos. As empresas analisadas apresentaram baixa maturidade digital na dimensão “dados”, compreendendo 78,47% das empresas classificadas no nível Inicial. Do total de empresas participantes da primeira fase de aplicação, o melhor desempenho foi identificado na dimensão “tecnologia”:
Próximos Passos
Após cerca de 2 meses de aplicação do Check-Up Digital no Brasil, foram identificados alguns pontos de melhoria, como o detalhamento da categorização dos setores e possíveis aprimoramentos na responsividade do sistema para contribuir com a experiência do usuário. Complementarmente, estuda-se utilizar os dados coletados para aprimorar o desenho da jornada de atendimento e subsidiar o desenho de outras políticas públicas voltadas à transformação digital. Tudo isso para que as MPMEs brasileiras encontrem um caminho fácil e efetivo para adotarem as tecnologias que assegurem a sua competitividade no cenário atual.
[1] No Chequeo Digital, a categorização dos setores de atividade segue a Classificação Internacional Normalizada Industrial de Todas as Atividades Econômicas (CIIU), sistema da ONU para classificar dados econômicos. Para o Check-up Digital, foi adotada a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 2.0, a qual, por sua vez, estrutura-se com base na classificação internacional.
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