As cidades brasileiras enfrentam diariamente o grande desafio de tornarem seus espaços públicos mais adequados e receptivos à diversidade social, que consiste na convivência de pessoas com diferentes etnias, raças, corpos, culturas, gêneros, rendas, idades, orientação sexual, religiões e outros. Abraçar a diversidade nos espaços urbanos, que são o palco de toda a dinâmica social, é essencial para a construção de espaços mais acessíveis, saudáveis, inclusivos, seguros e atrativos economicamente. Para isso acontecer é preciso conversar sobre esse tema com quem ajuda a construir as cidades.
O BID, buscando apoiar as cidades brasileiras na construção de espaços mais inclusivos, elaborou o curso Cidades para todes: gênero e diversidade nos espaços urbanos, que surgiu a partir de uma série de Podcasts sobre “Mulheres que transformam a cidade” e do “Guia prático e interseccional para cidades mais inclusivas”. O curso, reservado aos parceiros do BID, aborda questões de inclusão e diversidade no planejamento urbano e na gestão das cidades sob uma visão interseccional e se organiza em aulas assíncronas e síncronas nas quais são discutidas questões sobre infraestrutura, habitação, segurança, mobilidade, participação cidadã. A primeira edição do curso ocorreu em novembro de 2021 e contou com a participação de representantes das prefeituras de Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), São Luís (MA) e Rio de Janeiro (RJ), além de participantes do grupo BID, compondo um grupo de 24 pessoas no total.
O curso foi palco de troca de vários exemplos de interação ou falta de interação entre diferentes aspectos sociais no dia a dia das cidades no contexto brasileiro, com temáticas que perpassam temas de patrimônio cultural, religião, preservação do meio ambiente, inclusão, capacitação e outros. Compartilhamos aqui alguns exemplos de boas práticas no país que surgiram desse intercâmbio.
Parque Pedra de Xangô
O Parque Pedra de Xangô nasceu da iniciativa conjunta de estudiosos e adeptos das religiões de matriz africana e da Prefeitura de Salvador. Buscando a preservação do patrimônio cultural e do simbolismo religioso, o parque é o primeiro da cidade a receber o nome de um orixá. Localizado no bairro de Cajazeiras, o parque ocupa uma área de 67 mil m2 e é composto pela Pedra do Xangô – patrimônio cultural tombado desde 2017, por auditório, área administrativa, sanitários, comércios, trilhas ao ar livre, espaços para cultos, praças, teatros e outros. O parque possui um importante papel na construção de uma sociedade menos intolerante, por meio da socialização e convivência com diferentes culturas.
Coletivo Basurama Brasil
Outra iniciativa de destaque é a do coletivo Basurama Brasil. Observando o alto descarte de lixo em espaços abandonados e a pouca disponibilidade de áreas recreativas para crianças nas cidades, o coletivo resolveu construir playgrounds com materiais reciclados. Por meio dessa iniciativa, o coletivo constrói praças e brinquedos em regiões de baixa renda no país, com o apoio das comunidades locais e, principalmente, das crianças. Dessa forma, a população se apropria de espaços urbanos anteriormente abandonados, promovendo uma convivência social integrada à reflexão sobre a produção e manejo de resíduos. Os materiais utilizados nos parquinhos são diversos, como pneus, ferros retorcidos, latões de óleo, dentre outros. O coletivo organizou manuais de construção dos brinquedos para facilitar a criação dos mobiliários, além de produzir diversas instalações artísticas nos parques.
Coletivo Mulheres Negras da Periferia
O coletivo Mulheres Negras da Periferia nasceu com o objetivo de dar voz a mulheres negras da periferia de São Luís, no Maranhão. Por meio de ações de empoderamento e trocas de experiências que são constantemente divulgadas em sua rede social, o grupo promove campanhas de doação de alimentos, livros, materiais de higiene pessoal e beleza e outros. Também promove cursos de educação financeira para mulheres, além de ajudar na divulgação do trabalho de mulheres negras da região. Outro papel importante realizado pelo coletivo é abordar temas como a pobreza menstrual e a saúde da mulher em seus debates, juntamente com a divulgação de ações, como a entrega de 188 kits de higiene pessoal ao Quilombo da Liberdade e o apoio na ação da carreta da mulher, junto à Secretaria de Estado da Mulher do Maranhão, que apoiou o acesso à saúde de mulheres que residem em favelas.
O resultado das conversas realizadas nas atividades do curso Cidades para todes, sob o olhar de pessoas com diferentes vivências, proporcionou a oportunidade de ampliar o repertório dos exemplos de sucesso em cidades brasileiras, além de permitir um debate amplo entre diversas prefeituras sobre suas experiências, desafios e ideias sobre como fomentar iniciativas para tornar seus municípios mais inclusivos e diversos.
Você ficou interessado/a pelo tema? Então aproveite para consultar nosso guia e ouça nosso podcast!
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