Como podemos trabalhar para uma melhor representação das mulheres nos campos da arquitetura e do planejamento urbano, tanto na história, como na memória coletiva e na profissão? Neste podcast, respondemos a estas questões fundamentais para uma melhor representação das mulheres nesta profissão.
Quem faz a cidade: o lugar da mulher na profissão de arquiteta e planejadora urbana
As profissões de arquiteto e urbanista foram historicamente ocupadas, principalmente, por homens. No entanto, hoje também há muitas arquitetas e urbanistas. De acordo com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, em 2019, o Brasil registrava 167.000 arquitetos e urbanistas ativos, cuja maioria (63%) são mulheres. No entanto, as mulheres têm baixa representatividade nas entidades profissionais: estão subrepresentadas não apenas na organização da profissão, mas também na história da arquitetura e na memória coletiva nacional.
Enquanto os estudantes aprendem sobre os grandes nomes e obras dos arquitetos masculinos, as arquitetas mulheres permanecem nas sombras. Além de apresentarem paridade, estas profissões também precisam ser transdisciplinares, para pensar a cidade da maneira mais representativa possível.
A plena igualdade de gênero é o 5º objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Em 2019, os Conselheiros do CAU/BR aprovaram a criação de uma Comissão Temporária de Equidade de Gênero no conselho, com o objetivo de cumprir a missão de promover Arquitetura e Urbanismo para todos sem distinção de gênero. O objetivo é implementar uma estrutura administrativa do CAU que respeite os princípios da plataforma Women Empowerment Principles (WEP), coordenada pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas e a ONU Mulheres. O primeiro diagnóstico “Gênero na arquitetura e urbanismo” foi publicado em 2020.
A iniciativa CAU+PLURAL é uma força de 156 mulheres comprometidas com um CAU mais participativo, com o objetivo de integrar a diversidade de gênero, raça, classe e território dentro da Instituição, para também integrar as perspectivas, experiências e talentos das mulheres na arquitetura e no planejamento urbano, de forma a tornar as decisões mais horizontais e não-hierárquicas. Pela primeira vez na história do CAU-SP, as eleições do conselho, realizadas neste 15 de outubro de 2020, elegeram 100 mulheres, ou seja 64% dos 156 assentos disponíveis para conselheiros estaduais e federais para a gestão 2021/2023.
Para saber mais sobre a discriminação interseccional nas profissões de arquitetura e planejamento urbano, assista ao vídeo “Quem pensa as cidades? Racismo na arquitetura”. As iniciativas Arquitetas (In)visíveis e Arquitetas Negras são outras a destacar: o coletivo Arquitetas (In)visíveis nasceu graças a mulheres estudantes de arquitetura que, durante o curso de graduação, só tiveram acessos aos currículos dos “grandes arquitetos” homens, e queriam reparar a invisibilidade das arquitetas mulheres apresentando a produção feminina, no campo da arquitetura e do urbanismo, por meio de um site que funciona como um banco de dados de mulheres talentosas nessas áreas; o objetivo da iniciativa “Arquiteta Negras”, criada em 2018, é mapear a produção dessas arquitetas e criar uma plataforma, tanto para pesquisa, quanto para contratação, a fim de diminuir a desigualdade racial e de gênero na arquitetura.
E o lugar das mulheres na tomada de decisão sobre as cidades?
As políticas públicas urbanas são o instrumento que organiza e transforma as cidades, especialmente a nível municipal e local. As mulheres precisam ter oportunidades iguais de acesso a cargos de decisão política e urbana. Se as decisões são estatisticamente tomadas por um grupo homogêneo de pessoas, geralmente homens, brancos e de classe média alta, com seus próprios padrões de pensamento e representações sociais, como criar políticas públicas adaptadas às situações reais de outras pessoas nas cidades, como mulheres ou outros grupos específicos? Quais estruturas permitem ser mais sensíveis às necessidades das mulheres nas cidades, e ao mesmo tempo dar para elas um espaço de fala, aprendizagem e empoderamento?
A criação de comitês de mulheres ou conselhos municipais são estruturas interessantes para o desenvolvimento de políticas públicas adaptadas às necessidades das mulheres. Ao criar espaços de diálogo e debate como esses, é possível sensibilizar, legitimar e adaptar certas políticas públicas. Eles representam espaços institucionais fundamentais para o exercício da participação cívica da mulher. A criação de tais comitês também pode ser aplicada junto a outros grupos de pessoas que estão, geralmente, subrepresentadas no espaço público, a fim de abrir espaços de diálogos e de trabalho com esses atores sobre suas visões e necessidades na cidade, por exemplo, com crianças ou a comunidade LGBTQIA+.
Uma iniciativa muito interessante é a do Governo do Estado do Paraná, que elaborou em 2014 um “Guia para criação de Conselhos Municipais Dos Direitos da Mulher” que fornece informações, procedimentos e orientações sobre tais estruturas, inclusive uma sugestão de minuta de projeto de lei para criação de tais conselhos.
Por que nós fazemos perguntas sobre gênero no espaço público e na cidade?
Simplesmente porque são lugares que promovem o encontro, a visibilidade e a troca entre as pessoas na sociedade, e onde o gênero é demonstrado. Muitas vezes, o espaço público é definido como um espaço “neutro”, quando ele não é. O espaço público também não é público para todos, como seu nome sugere. Para compreender as relações de poder no desenho, uso e ocupação do espaço público que perpetuam as representações sociais de gênero, e impulsar mudanças, o BID criou um Guia prático e interseccional para cidades mais inclusivas.
O guia visa abrir um espaço de reflexão sobre as perspectivas feministas e interseccionais na concepção e gestão das cidades no Brasil. Aborda o planejamento urbano através da integração de diferentes características dos usuários da cidade como gênero, raça, orientação sexual, idade e condição física. Qual é o papel da mulher no diagnóstico e na tomada de decisões na cidade? As funcionalidades dos espaços urbanos são pensadas de forma equitativa de acordo com as necessidades de cada usuário, incluindo crianças, idosos, pessoas com deficiência, pessoas LGBTQIA+, pessoas de distintas etnias e raças? Como esta diversidade de usuários pode ser mais bem integrada na cidade para torná-la acessível, segura e inclusiva?
Essas são algumas das perguntas que o guia poderá responder, e que serão discutidas em nosso webinar especial no próximo 8 de março, na ocasião do Dia Internacional da Mulher: faça aqui sua inscrição e não deixe de participar enviando perguntas!
Veja também os artigos anteriores da mesma serie:
- Mulheres que transformam a Cidade #1: Diagnóstico urbano, caminhabilidade e gênero, sobre como criar espaços para que as mulheres possam expressar sua opinião sobre o que precisa ser feito para melhorar nossos bairros.
- Mulheres que transformam a Cidade #2: Segurança pública e gênero, sobre o que caracterizam os atos de violência contra as mulheres nos espaços públicos.
- Mulheres que transformam a Cidade #3: Mobilidade e gênero, sobre a relação entre o gênero com os desafios da mobilidade urbana.
- Mulheres que transformam a Cidade #4: Primeira infância e gênero, sobre como é viver na cidade a partir de tamanhos e perspectivas das crianças, e como construir espaços seguros, acessíveis e divertidos para elas.
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