Como criar espaços para que as mulheres possam expressar sua opinião sobre o que precisa ser feito para melhorar nossos bairros? Neste podcast, falamos sobre as chamadas “auditorias de segurança femininas”, também chamadas às vezes de “caminhadas exploratórias”, e explica as ferramentas utilizadas para levar em conta as experiências das mulheres da cidade na tomada de decisões urbanas.
Por que um olhar feminino sobre a cidade e o bairro?
Muitas vezes, as pessoas em posição de tomada de decisão são homens, por diversas razões – seja pelo maior acesso à educação, a oportunidades de trabalho ou pela menor participação nas tarefas reprodutivas, que são frequentemente desempenhadas por mulheres. Isso aponta porque as necessidades e considerações das mulheres são pouco ou mal levadas em conta, às vezes até completamente esquecidas ou ignoradas. A criação da cidade não foge dessa regra, as instâncias de urbanismo, em particular a nível local ou do bairro, carecem da representatividade participativa das mulheres no planejamento urbano, em particular nos cargos de decisão. Nesse contexto, como criar espaços para dar voz às mulheres para que possam expressar sua opinião sobre quais melhorias devem ser feitas nos nossos bairros?
Práticas bem conhecidas hoje são as chamadas “auditorias de segurança feminina”, também chamadas de “caminhadas exploratórias”. São realizados deslocamentos a pé por moradoras ou usuárias em áreas específicas dos seus bairros, para entender sua experiência diária e seus sentimentos de conforto ou desconforto nos diferentes lugares que frequentam (ruas, pontos de ônibus, praças, parques, transporte público e outros). As conclusões são consolidadas e levadas às autoridades para uma tomada de ação pública.
Os objetivos dessas caminhadas exploratórias são:
- identificar os movimentos das mulheres e as sensações relacionadas;
- identificar e anotar vários critérios importantes para a criação de espaços inclusivos (a acessibilidade ao transporte público, a sensação de segurança, o mobiliário urbano, a iluminação, os símbolos, a limpeza, os obstáculos que possam ser encontrados, a inclinação e largura das calçadas, e muitos outros aspectos);
- co-desenhar soluções, com base nos resultados obtidos durante as caminhadas e oficinas com mulheres, para tentar criar espaços públicos sob a perspectiva das experiências de suas usuárias; e
- desenvolver instrumentos de avaliação com uma perspectiva de gênero para os projetos urbanos realizados.
Com uma abordagem mais qualitativa, o objetivo não é pensar nas mulheres como objetos de avaliação, mas sim colocá-las no centro do diagnóstico para que o poder de decisão seja derivado da experiência delas. Essas caminhadas podem ser acompanhadas por sessões de empoderamento individual e coletivo, palestras públicas, oficinas criativas (utilizando por exemplo o teatro, a poesia ou outros meios) para abrir portas à participação sistemática das mulheres na criação do seu ambiente urbano cotidiano. Existe uma literatura consolidada sobre boas práticas relacionadas às auditorias de segurança feminina.
No Brasil, esta metodologia ja é aplicada. Por exemplo, a SampaPé é uma organização brasileira sem fins lucrativos fundada em 2012 com o objetivo de melhorar a experiência do caminhar nas cidades. Trabalha sobre os temas de acessibilidade e segurança para todas e todos, com a perspectiva de mulheres em muitos casos, como no projeto Mulheres Caminhantes. Colaborações com o BID já permitiram desenvolver capacitações para equipes municipais, como em João Pessoa, ou ainda criar um índice técnico de caminhabilidade sensível ao gênero em Curitiba.
Por que nós fazemos perguntas sobre gênero no espaço público e na cidade?
Simplesmente porque são lugares que promovem o encontro, a visibilidade e a troca entre as pessoas na sociedade, e onde o gênero é demonstrado. Muitas vezes, o espaço público é definido como um espaço “neutro”, quando ele não é. O espaço público também não é público para todos, como seu nome sugere. Para compreender as relações de poder no desenho, uso e ocupação do espaço público que perpetuam as representações sociais de gênero, e impulsar mudanças, o BID criou um Guia prático e interseccional para cidades mais inclusivas.
O guia visa abrir um espaço de reflexão sobre as perspectivas feministas e interseccionais na concepção e gestão das cidades no Brasil. Aborda o planejamento urbano através da integração de diferentes características dos usuários da cidade como gênero, raça, orientação sexual, idade e condição física. Qual é o papel da mulher no diagnóstico e na tomada de decisões na cidade? As funcionalidades dos espaços urbanos são pensadas de forma equitativa de acordo com as necessidades de cada usuário, incluindo crianças, idosos, pessoas com deficiência, pessoas LGBTQIA+, pessoas de distintas etnias e raças? Como esta diversidade de usuários pode ser mais bem integrada na cidade para torná-la acessível, segura e inclusiva?
Essas são algumas das perguntas que o guia poderá responder, e que serão discutidas em nosso webinar especial no próximo 8 de março, na ocasião do Dia Internacional da Mulher: faça aqui sua inscrição e não deixe de participar enviando perguntas!
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