Que conexão podemos fazer entre a curiosidade e inquietação típicas da juventude e as necessidades de inovação e produtividade para o desenvolvimento do país? A resposta está em ver essas características como um trunfo na busca por mudanças que melhorem a vida das pessoas.
É sempre muito útil para a construção de soluções inovadoras – seja no setor público ou privado – ter um novo olhar para um problema, um olhar ainda não habituado a determinada solução. Por isso, o papel dos jovens no cenário da inovação está, principalmente, em trazer um pouco de inconformismo para o que pode parecer imutável para aquelas pessoas que já estão há mais tempo tentando resolver determinado problema.
A participação de jovens do Brasil e de outros países da América Latina e Caribe na Semana do Conhecimento AcademiaBID, realizada recentemente, foi uma demonstração do interesse desse público em fazer parte da transformação. Em uma sessão organizada em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas-SP exatamente para tratar de inovação e produtividade, foram discutidos os caminhos que os estudantes podem percorrer para aproveitar as oportunidades em um cenário em constante mudança. Um ponto destacado foi a importância de desenvolver uma mentalidade de busca pelo novo e por fazer sempre melhor.
Conhecimento e relacionamento
No entanto, para que os jovens efetivamente contribuam para a inovação ao aportar uma certa dose de inconformismo, outros dois fatores são fundamentais. O primeiro deles é o conhecimento técnico. Por estarem em processo de formação acadêmica, jovens podem ser ótimas fontes de novos conhecimentos, muitas vezes distantes da realidade dos demais profissionais de uma organização. O segundo deles é a capacidade de se relacionar de maneira construtiva e respeitosa com os demais profissionais de uma organização, justamente aqueles que já vêm lidando com um problema há mais tempo. O estabelecimento de uma boa relação com os colegas de equipe é essencial para que os jovens possam ajudar a promover inovação.
Ainda dentro das escolas e universidades, a juventude pode contribuir ativamente para essa transformação, participando de programas e desafios de inovação, e atuando em projetos sociais. Cada vez mais, existem iniciativas que visam incentivar o desenvolvimento de soluções inovadoras, tecnológicas e sustentáveis para resolver problemas da sociedade – um exemplo é o Hackathon ODS que premiou jovens inovadores que apresentaram soluções voltadas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Além disso, há uma variedade de cursos e formações em tecnologia, inovação e empreendedorismo que ajudam os estudantes a se prepararem para trilhar uma trajetória profissional no mercado de inovação.
As oportunidades de atuar em organizações que possibilitam o envolvimento em projetos inovadores de saúde, educação, transporte, e outras áreas também estão crescendo. Lugares como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), governos nacionais e locais, a academia ou o terceiro setor permitem que jovens apliquem no trabalho o conhecimento adquirido por meio dos estudos, visando promover impacto social. Uma das vantagens da área de inovação é a sua transversalidade, porque isso possibilita aos jovens terem contato e trabalharem diretamente com diferentes setores para lidar com problemas da sociedade.
E, para além dos conhecimentos técnicos, é importante desenvolver algumas habilidades aplicáveis a qualquer profissão – o que ganha ainda mais relevância por não sabermos quais serão as profissões do futuro. Desta forma, saber se comunicar, motivar e engajar pessoas, cultivar uma rede de contatos, são alguns conhecimentos que você poderá empregar onde quer que desenvolva sua carreira.
Que contexto os jovens encontram no Brasil?
O debate sobre a inovação tem crescido no país, e a regulamentação tem colaborado para isso. No âmbito federal, as principais legislações de fomento à inovação são a lei 10.973/2004, que teve como principal objetivo o estímulo à pesquisa científica e tecnológica, a aproximação entre as Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (ICTs) e o setor produtivo para desenvolvimento tecnológico e o fomento na construção de ambientes promotores de inovação; a lei 11.196/2005, que previu incentivos fiscais às empresas visando estimular a pesquisa tecnológica e o desenvolvimento de inovação e a lei complementar 182/2021, que estabeleceu o Marco Legal de Startups, com o intuito de regulamentar e defender os interesses das startups brasileiras e seus investidores, proporcionando estímulo à criação e investimentos nessas empresas. A partir disso, estimulou-se o desenvolvimento da inovação, com incentivos sendo criados e “novas combinações” sendo impulsionadas.
Quando falamos de startups, o Brasil também tem um ecossistema de inovação de ponta. Para citar somente o ambiente de fintechs, um estudo recente realizado pelo BID, BID Invest e a empresa de inovação Finnovista apontou um aumento de 112% no número de plataformas na América Latina e Caribe, entre 2018 e 2021, sendo que 31% do total da região são fintechs brasileiras. É um ecossistema de inovação pujante, mas que ainda tem muito espaço para se desenvolver e se espalhar, chegando a mais pessoas, em mais regiões.
Quando olhamos para a inovação no setor público, ainda há grande gargalos a serem superados e caminhos a serem trilhados. Alguns estados e municípios já vêm desenvolvendo iniciativas para promover a inovação, como a criação da Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo (SMIT) e o Laboratório de Inovação do Município de Fortaleza (Íris). Cativar jovens para que entendam a importância dessas transformações no setor público e possam atuar nesse movimento de mudança é fundamental.
Como dizia Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas do século 20, pode-se entender a inovação como “novas combinações”. Embora já estejamos gerando novas combinações, ainda precisamos continuar a contribuir para o desenvolvimento dos jovens, para que se tornem cada vez mais agentes de transformação, capazes de romper paradigmas, seja no setor público ou privado, na academia ou em instituições multilaterais. E para que sejam capazes de implementar inovações para resolver os desafios mais urgentes do Brasil e de outros países da América Latina e Caribe.
Leave a Reply