O Brasil representa 30% de todo o ecossistema latino-americano de startups e scaleups, negócios tecnológicos que oferecem soluções de alto impacto social e econômico – podem tanto ajudar a melhorar os serviços que os governos oferecem aos cidadãos, como diminuir a complexidade inerente à administração pública.
O epicentro tecnológico brasileiro, São Paulo, é também um dos 15 maiores ecossistemas do mundo, seguido no Brasil de ecossistemas robustos em Florianópolis, Belo Horizonte, Recife e Curitiba. Esses negócios são amparados por uma vasta rede de apoio, formada por agências públicas e empresas privadas, assim como incubadoras, aceleradoras de negócios e investidores, e receberam, apenas entre janeiro de 2017 e junho de 2018, US$1,4 bilhão em investimentos.
Desde que cheguei ao Brasil, em 2016, tenho tido a oportunidade de conhecer negócios e laboratórios de ponta em todos os cantos do país, com tecnologias que a maioria dos próprios brasileiros desconhece. Existe aqui um ecossistema de inovação avançado, em que o Banco também investiu e contribuiu para a sua formação.
Ainda assim, a maior parte do setor público tem se beneficiado muito pouco dessas soluções, mesmo com as inúmeras necessidades que possuem, especialmente tecnológicas, para fazer chegar os serviços aos cidadãos de uma maneira mais custo-efetiva. A questão é: como aproveitamos esse ecossistema para melhorar vidas? Como ajudar o setor público a efetivamente incorporar inovações testadas e que geram impacto?
A reposta é: não é simples. Os entraves à contratação pública de inovação ainda são substanciais, não apenas no Brasil, tema que vamos explorar em breve aqui no blog. Desse cenário, nos ocorreu que poderíamos começar a explorar essas inovações a partir da carteira de projetos que financiamos junto ao setor público, buscando soluções para trabalhar com nossos parceiros em um ambiente que podemos acompanhar tecnicamente na prática.
Muitos de nossos parceiros desconheciam a grandeza do ecossistema brasileiro, mas uma vez expostos a alguns exemplos de soluções, rapidamente percebiam a oportunidade de resolver tanto desafios pontuais quanto estruturais de maneira rápida com as últimas tecnologias (blockchain, inteligência artificial, machine learning, internet das coisas). Até o momento apresentamos soluções setoriais a quase 90 representantes de governos parceiros.
Desde então, soluções estão sendo aplicadas junto a projetos que financiamos nos setores de saúde, água e saneamento, e gestão fiscal, em que estamos explorando o que funciona e o que não funciona. Em breve vamos compartilhar essas experiências, que esperamos, possam animar outros entes públicos a usufruir dos benefícios dessa prática.
O ecossistema privado, por sua vez, tem uma grande oportunidade à sua frente. No Brasil é possível gerar escala dos negócios a partir da adoção de suas soluções pelo setor público. Cabe às instituições, aceleradoras, incubadoras e investidores, fazer advocacy junto ao setor público para que mais oportunidades de negócios sejam criadas. As condições de mercado vão melhorar se o ecossistema e o setor público criarem um ambiente de negócios propício para que a compra pública de inovação aconteça de maneira fluída.
Para nós do Grupo BID, isso é inovação aberta no desenvolvimento – conectar o setor público com soluções disruptivas, começando pelos nossos empréstimos e apoio técnico por meio de atividades com aceleradoras, incubadoras e investimentos via fundos de venture capital.
Acreditamos que esse é o caminho para o desenvolvimento do presente e do futuro porque os benefícios são inúmeros para todos:
- Especialmente em tempos de restrição fiscal como o que vivemos, os governos precisam de soluções mais custo-efetivas
- A aquisição de soluções inovadoras se traduz também em conhecimento extremamente rico para as instituições públicas que contratam
- Para os negócios, o trabalho com o setor público é uma grande oportunidade de aperfeiçoar as soluções e conquistar escala. As compras governamentais no Brasil representam 13% do PIB
- O ecossistema se beneficia como um todo do trabalho conjunto entre setor público e privado
- Por último e mais importante: os cidadãos passam a ter acesso a melhores serviços
O BID completa 60 anos de existência em 2019, e considerando nossa trajetória de financiamento e apoio técnico ao setor público, temos clareza de que inovar é um dos melhores caminhos para nos ajudar a superar os desafios que se mostram cada vez mais complexos na indústria do desenvolvimento.
Hoje começamos uma nova fase do Ideação, que agora se dedica a compartilhar justamente experiências de inovação em gestão pública. Contar essas histórias é parte fundamental do nosso mandato. Boa leitura!
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