Como parte da série de webinários sobre os impactos da COVID-19 no ecossistema de startups, reunimos representantes de aceleradoras e hubs de inovação – compostos de instituições como incubadoras, parques tecnológicos, coworkings e outros espaços de inovação – de diversas regiões do Brasil. Participaram do debate, que ocorreu no dia 27 de abril, os seguintes especialistas: André Barrence do Google For Startups, Marcos Muller da Darwin Aceleradora, Renato Zanuto, do CUBO Itaú, Alan Leite da Startup Farm, Daniel dos Santos Leipnitz da ACATE, Carolina Morandini da Wayra e André Araújo do Porto Digital.
A maioria das startups aceleradas está sendo negativamente afetada
Os dados dos hubs parecem confirmar que as startups se dividem em três grupos: enquanto 25% delas foi afetada positivamente pela pandemia, por desenvolverem soluções cuja demanda cresceu, outros 25% estão no extremo oposto, com forte impacto negativo. Os outros 50% também sofreram impacto, porém menos severo no curto prazo. Cerca de 75% das startups, portanto, está sendo afetada negativamente, em maior ou menor grau. Por outro lado, dados de pesquisa da Wayra mostram que a maioria das startups (72%) não pretende fazer demissões.
Fechamento dos espaços, trabalho remoto e medidas de socorro às startups foram as principais ações de contingência
Logo no começo da crise sanitária, os espaços fecharam as portas físicas, adotando o trabalho remoto, tanto para as equipes de gestão, como para as startups apoiadas. No Porto Digital, estima-se que 80% das empresas estão operando remotamente, à exceção daquelas que, por sua natureza, não podem adotar o modelo. Medidas de suporte às startups aceleradas ou apoiadas também foram adotadas por todos, como apoio coordenado para as startups desenharem suas estratégias de enfrentamento. O Google criou um fundo global de apoio à crise. Porto Digital montou um banco de currículos dos profissionais demitidos, para apoiá-los na recolocação. A Darwin incentivou suas startups a buscarem descontos em fornecedores atuando em bloco. CUBO vem fazendo uma série de encontros virtuais com os empreendedores para coordenar ações de resposta à crise. Startup Farm montou planos de guerra junto às empresas, com foco em redução de custos. A ACATE construiu um manual de ações de enfrentamento da crise, com 7 eixos, incluindo Financeiro e Saúde Mental. A Wayra vem conduzindo pesquisas globalmente para entender o cenário e manteve suas operações de investimento.
Apesar do fechamento, as atividades das aceleradoras e hubs continuam em novos formatos digitais
Por oferecerem atividades muitas vezes vinculadas a espaços físicos, as aceleradoras e hubs de inovação tem reinventado seus modelos de atuação. Programas de aceleração foram convertidos para modelo 100% remoto e vem sendo mantidos. Hubs de inovação como CUBO e Campus For Startups têm feito uma série de ações em formato digital, como promoção de eventos online e criação de catálogos de soluções de suas startups que podem ser aplicadas na crise.
Políticas públicas emergenciais não têm chegado às startups
A principal necessidade das startups é reforçar o caixa para atravessar o momento difícil e, segundo os hubs e aceleradoras, as políticas de crédito emergencial não têm chegado às startups. Elas não conseguem cumprir os critérios para aprovação de crédito, que normalmente são pensados para empresas com perfil industrial, com modelo de negócios e estrutura de ativos totalmente diferente das startups. Em geral, as empresas digitais não conseguem oferecer as garantias exigidas e muitas vezes têm encontrado taxas de juros consideradas abusivas. Os participantes também comentaram que há muito desencontro de informações sobre as medidas emergenciais existentes.
Venture Debt, fundos garantidores e adaptação das linhas de crédito e serviços financeiros nos bancos são algumas das soluções apontadas
Dentre as soluções desejáveis, está o aumento de opções de crédito na modalidade venture debt, onde ações da startup são oferecidas como garantia da operação, bem como a criação e ampliação de fundos garantidores, que pudessem avalizar as garantias normalmente exigidas. O Porto Digital citou exemplos do Banco do Nordeste (BNB) que, desde o ano passado, tem se aproximado das startups e conseguido fazer atendimentos efetivos de forma relativamente rápida nesse momento. A ACATE também citou ações nesse sentido sendo feitas pelo BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). Também foi comentado uma intenção de movimento do Banco Itaú nessa direção, buscando a criação de serviços bancários adaptados às startups, algo muito bem visto pelos participantes, não só pela necessidade, mas pelo fato de a iniciativa de um grande banco ter impacto no mercado como um todo, incentivando outros a adotar modelos na mesma direção. Mais do que nunca, há uma necessidade de transformação cultural dos agentes financeiros para entender a realidade das empresas inovadoras de rápido crescimento e ajustar seus modelos.
Medidas estruturais são essenciais para a recuperação e o crescimento no médio e longo prazos
Mais do que as medidas emergenciais, os participantes ressaltaram a importância de ações estruturantes para a recuperação olhando para o médio e longo prazos. Nesse sentido, a implantação do Marco Legal das Startups ganha muita relevância. Ele propõe a reforma de diversos aspectos regulatórios nos âmbitos societário, trabalhista, tributário, de compras públicas, dentre outros, em face à realidade das startups. Nesse momento de pandemia, é preciso uma reflexão importante sobre a efetividade das políticas públicas de apoio, que devem ser avaliadas não por suas intenções, mas por seus resultados. É uma oportunidade para que elas se tornem mais efetivas. Há muitas oportunidades no campo do estímulo das compras governamentais de soluções de startups, por exemplo, que podem ser muito positivas, tanto para o governo, que compraria soluções mais inovadoras e baratas, como para startups, que ampliariam seu mercado de atuação.
O futuro é híbrido e startups também podem ser parte da solução
Apesar das incertezas em relação ao futuro, os participantes acreditam que ele deverá incorporar o home office e as soluções digitais aos espaços físicos, em um modelo híbrido. Além disso, a crise traz oportunidades para startups e grandes empresas. Com a necessidade de redução de custos e aumento de eficiência operacional em todos os setores, criam-se espaços para a atuação das startups, ao mesmo tempo em que grandes empresas quebram o paradigma e tornam-se mais abertas a consumir essas soluções. A crise também tem gerado reflexões que tendem a fazer as empresas se conectarem cada vez mais com propósitos. Algumas indústrias, como saúde e educação deverão sofrer disrupções. A aceleração do processo de transformação digital deverá criar inúmeras oportunidades, nas quais startups serão parte da solução.
Confira a íntegra do webinar:
Novos caminhos para os ambientes de inovação de startups (aceleradoras, incubadoras, parques tecnológicos, co-workings) promovido pelo BID no Vimeo.
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