Passados 25 anos da Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher, em Beijin, marco importante que estabeleceu uma agenda mundial pela equidade de gênero, o Fórum Econômico Mundial aponta que não a alcançaremos em menos de 100 anos. A realidade demonstra que sim, ainda precisamos de um dia especial que nos alerte sobre o quanto temos que avançar para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens.
A participação plena das mulheres na política, no mercado de trabalho, nas posições de liderança e instâncias de decisão no setor público e privado beneficiam não apenas suas condições de vida, mas também suas famílias, comunidades, economias inteiras e países. Se os países latino-americanos conseguissem equiparar a participação feminina à masculina no mercado de trabalho, por exemplo, o PIB da região aumentaria 16%.
Mesmo com avanços nas últimas décadas, o caminho das mulheres, especialmente daquelas que têm menos oportunidades, é extremamente desafiador.
Desde o nascimento, passando pela infância e adolescência – quando são desencorajadas, por exemplo, a estudarem ciências exatas num mundo em que a tecnologia está redesenhando as relações de trabalho; fase adulta e produtiva – em que estudam mais que os homens, ganham menos e alcançam menos posições de liderança; até a velhice – quando pelos desafios nas fases anteriores da vida terão aposentadorias menores ou não contarão com nenhum mecanismo de proteção social.
Além destes, entre tantos outros obstáculos, os insistentes índices de violência registrados diariamente incorrem em custo psicológico, físico e econômico presente infelizmente em todas as etapas da vida.
Talvez seja no mercado de trabalho onde a distância entre os gêneros fique mais evidente. Uma pesquisa que realizamos em parceria com o Instituto Ethos com as 500 maiores empresas do Brasil demonstra que apenas 13,6% dos cargos executivos estão ocupados por mulheres. Quanto mais alto o nível hierárquico, menos mulheres no topo. E pior: 43,4% dos gestores percebem essa presença como adequada.
É mais exígua ainda a presença de mulheres negras rumo ao topo das empresas, ocupando 10,3% do nível funcional, 8,2% da supervisão, 1,6% da gerência, e 0,4% do quadro executivo. E quando perguntamos se as empresas possuem medidas para incentivar e ampliar a presença de mulheres, os índices demonstram a urgência de mudanças nas práticas corporativas. Uma média de apenas 12% das empresas conta com políticas:
Promover equidade de gênero reduz a desigualdade
A equidade de oportunidades entre gêneros não se trata somente de um direito fundamental – é um requisito para aumentar o bem-estar social e promover o desenvolvimento socioeconômico – logo, sociedades menos desiguais. Nenhum país conseguiu reduzir a desigualdade no campo do desenvolvimento humano sem reduzir as perdas provocadas pela desigualdade de gênero.
Nesse sentido, além de mudanças nas práticas corporativas, políticas públicas que criem melhores oportunidades e acesso das mulheres ao mercado de trabalho são um importante ponto de partida:
- Políticas para reduzir custos e aumentar a disponibilidade de serviços de assistência à infância são eficazes para aumentar a participação do trabalho feminino.
- Promover a formalização de recursos humanos no desenvolvimento infantil, uma vez que 95% dos cuidadores são mulheres.
- Incentivar a diminuição dos estereótipos de gênero nas áreas de matemática e STEM na primeira infância. Pais e professores têm um papel importante na conquista e desempenho das crianças em matemática.
- Promover programas de treinamento que permitam às mulheres adquirir as habilidades necessárias para ingressar em empregos de qualidade, especialmente os mais procurados no âmbito da quarta revolução industrial, como habilidades digitais avançadas e soft skills.
- Facilitar a reintegração trabalhista de mulheres adultas que deixaram temporariamente o mercado de trabalho, como a expansão da oferta de serviços de cuidadores ou creches.
- Oferecer educação financeira e previdenciária para que as mulheres possam se preparar economicamente para a idade da aposentadoria, por meio de iniciativas inovadoras que combinam as vantagens das novas tecnologias com o aprendizado da economia comportamental.
O que temos feito no BID
No BID temos somado esforços para modificar políticas e adotar novas práticas para promover maior equidade de gênero. O caminho ainda é longo, mas já temos o que comemorar. Em 2017, por oferecermos salários iguais para trabalhos equivalentes, fomos a primeira instituição financeira internacional da América Latina a alcançar a certificação EDGE, de equidade de gênero. E assim como as empresas brasileiras, temos também que ampliar a presença de mulheres em posições de alto nível e temos iniciativas em andamento com prazos e metas para ampliar continuamente esta porcentagem.
Do ponto de vista operativo, duplicamos a aprovação de empréstimos que incorporam a perspectiva de gênero entre 2017 e 2019, política introduzida no Quadro de Resultados Corporativos do BID. Aumentamos o investimento direto em igualdade de gênero em cerca de 150% no período 2017-2019 em comparação com o período 2014-2016. A aplicação de salvaguardas de gênero também se tornou mais sistemática na concepção e execução dos projetos na última década.
Nosso compromisso, como instituição de desenvolvimento, é seguir ampliando, seja nos projetos que financiamos, no conhecimento que produzimos ou em nossa organização corporativa, os espaços de equidade e as mudanças necessárias para que não esperemos por mais 100 anos, este é o meu desejo! E nesta oportunidade, nossa equipe no Brasil, composta por 56% de mulheres, também tem alguns desejos para compartilhar:
O que eu desejo para a mulher brasileira
“Desejo que toda mulher brasileira possa ter acesso a um transporte público em que se sinta segura. Que alcance uma maior representatividade no mercado de trabalho na área de infraestrutura, de maneira que possa contribuir durante o projeto, construção e operação dos sistemas, o que se traduzirá em sistemas de transporte que incluirão suas necessidades e perspectivas.”
Paloma Muñoz Garcia
Especialista em Transporte
“Eu desejo para a mulher brasileira oportunidades de se desenvolver profissionalmente, sem ter que abrir mão de ser uma mãe presente. Desejo que a mulher brasileira receba uma primeira abertura de porta, ainda que não esteja completamente pronta, neste momento, mas que alguém enxergue nela potencial para desenvolvê-la. Desejo que a mulher brasileira seja empoderada, sem perder a feminilidade, a maternidade e a doçura.”
Eunicélia Souza da Silva
Consultora
“Você sabia que o primeiro algoritmo da história foi criado por uma mulher (Ada Lovelace)? Que a linguagem de programação Basic foi criada pela freira Mary Kenneth Keller e que três funcionárias negras da NASA foram peça chave no projeto de lançamento do astronauta John Glenn para o espaço?
É preciso mostrar que existem mulheres na TI, para que se perca esse preconceito de que TI é uma área masculina. Mulheres, inspirem-se!”
Ronaldo Júnior
Consultor em Tecnologia da Informação
“Igualdade de oportunidades e condições aliado ao reconhecimento profissional pela competência é o que nós mulheres brasileiras mais desejamos para o nosso futuro no mercado de trabalho!”
Catherine Moura da Fonseca Pinto
Especialista em Saúde
“Desejo que a mulher brasileira seja a protagonista das mudanças e modernização do setor energético do país, que ocupe posições de liderança nas empresas elétricas e de gás e petróleo, que participe do planejamento e construção dos projetos. Desejo ver mais mulheres nos canteiros de construção, nas torres eólicas, nas usinas fotovoltaicas, nas diretorias, nos ministérios e agências reguladoras. Mas acima de tudo, desejo que todas as mulheres tenham acesso à energia limpa.”
Arturo Alarcon
Especialista em Energia
“Desejo uma vida sem medo, com igualdade de direitos, onde ela possa ser livre para ser quem quiser ser e tenha oportunidades de sonhar com o futuro.”
Flora de Oliveira Fonseca
Consultora
“Respeito à vida da mulher brasileira, para que ela possa se sentir tão segura em sua casa, quanto em seu trabalho e nas ruas.”
Tiago Cordeiro
Analista de Operações
“O potencial de uma nação só é alcançado com a plena participação de seus cidadãos, tanto mulheres quanto homens. É preciso refletir sobre as barreiras de gênero que ainda persistem em nossa sociedade e dificultam essa comunhão de esforços.”
Patricia Bakaj
Especialista Fiscal
“Desejo que a mulher brasileira utilize sua criatividade e sua perspectiva única para desenvolver produtos e empresas que melhorem nossa sociedade.”
Eduardo de Azevedo
Especialista em Inovação
“Que as mulheres brasileiras vençam as barreiras que ainda as separam das posições de liderança, e assim sejam parte central da construção de mecanismos que promovam efetivamente a equidade de gênero.”
Livia Gouvêa Gomes
Especialista em Mercado de Trabalho
“Seja o que você deseja ser, busque por isso, você consegue! #MulherEmponderada”
Fernando Squeff
Analista em Administração e Planejamento de Recursos
“Igualdade de gênero no ambiente de trabalho, com oportunidades iguais de crescimento na carreira e equiparação salarial.”
Lorayne Santos
Analista de Operações
“Eu desejo igualdade de oportunidades e tratamento com dignidade para todas as mulheres, especialmente desde a infância.”
Mario Ricardo Castaneda
Especialista Fiduciário
“Desejo que as mulheres possam coexistir com homens em um mundo que verdadeiramente respeite e entenda a igualdade de gênero: que temos a mesma competência, qualificações, capacidades e fortalezas.”
Bárbara Brakarz
Especialista em Mudança Climática
“Eu gostaria de viver num Brasil onde as mulheres sejam plenamente reconhecidas por sua competência, sua capacidade, sua força criativa; um país que abraça e sente o devido orgulho pela consciência e contribuição delas; que reconhece que elas capturam o melhor e o mais essencial do espírito do país; que saiba dar e cultivar todas as oportunidades para o seu desenvolvimento pleno.”
Morgan Doyle
Representante no Brasil
“Desejo ver cada vez mais mulheres gerentes de hotéis e presidentes de grandes companhias de transporte aéreo – e mais homens camareiros e recepcionistas.”
Juliana Bettini
Especialista em Turismo
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