Quais os principais desafios e perspectivas para as mulheres no mercado de trabalho? No setor de infraestrutura e de transportes, de que forma elas podem contribuir para os processos de tomada de decisão e para a rentabilidade de um negócio?
Trata-se de um tema relevante, mas ainda com muitas lacunas a serem superadas. Para promover avanços nesse sentido, o BID tem mobilizado esforços incluindo a participação em eventos e campanhas virtuais.
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No último ano, por exemplo, participamos do segundo Women Economic Forum Latinamerica (Fórum econômico feminino), que desta vez ocorreu de forma digital com mais de 50 mil participantes e 360 palestrantes em 44 países para debater economia sob uma perspectiva feminina. No evento, defendi a ideia de que a inserção de mais mulheres no mercado de trabalho, principalmente no setor da infraestrutura, impulsiona a inovação, a criatividade e a produtividade, ecoando o relatório The Gender Gap Report (“O abismo de gênero global”, disponível em inglês, em PDF).
Durante o fórum, ficaram evidentes alguns caminhos para ampliar o universo feminino no mercado de trabalho:
- Trabalho em rede – Estimular a interação entre mulheres é essencial para que percebam e entendam que não estão sozinhas em suas jornadas, mas que existem muitas outras lutando pelos mesmos ideais de equidade, respeito e inclusão.
- Apoio institucional – Mais do que impulsionar as mulheres, conscientização geral de todos e apoio institucional são fatores chave para promover a maior participação de mulheres em qualquer setor.
- Divisão proporcional de trabalhos não remunerados no âmbito familiar – Ao aumentar a participação feminina no mercado de trabalho tradicional é essencial uma mudança de cultura no que diz respeito ao trabalho não remunerado no âmbito familiar para que haja uma participação compartilhada. Hoje as mulheres dedicam em média 2 a 4 horas diárias a mais que os homens a atividades cotidianas.
Essa diferença fica clara ao analisar o percurso diário de homens e mulheres: eles costumam ir do trabalho para casa, e elas precisam ainda se envolver em atividades como o cuidados com os filhos, compras e trabalho doméstico não remunerado.
A equidade de gênero é uma peça central da estratégia de desenvolvimento de qualquer setor. Um estudo recente da consultoria McKinsey indica que a economia global poderia ganhar alguns trilhões de dólares nos próximos 10 anos aumentando o número de mulheres no mercado de trabalho. A pesquisa revela também que as empresas latino-americanas que possuem pelo menos uma mulher em sua alta gerência são mais rentáveis.
E no setor de Transportes, o que precisa mudar?
Como parte das atividades realizadas durante o fórum, a campanha #MulheresNaInfra mobilizou as redes sociais com a seguinte questão: “Por que é importante ter mulheres no setor de infraestrutura?”. A pergunta foi respondida por diversas mulheres do setor de infraestrutura e de transporte, alcançando mais de 7 mil visualizações. As respostas geraram a uma nuvem de palavras que aponta com clareza os anseios e desejos que mais representam as mulheres deste setor laboral e econômico.
A troca de experiências resultante da campanha #MulheresNaInfra reforçou a pertinência dos desafios identificados pelo Transport Gender Lab (TGL), o Laboratório de Gênero em Transporte, uma iniciativa para promover equidade de gênero nos transportes. Algumas dessas questões endereçadas são:
- Insegurança: mais de 60% das mulheres em três capitais latino-americanas já sofreram assédio sexual enquanto utilizavam o transporte público. Melhorar a mobilidade de mulheres e homens envolve a implementação de políticas de prevenção da violência baseadas em gênero e o entendimento dos usos e necessidades diferenciadas entre homens e mulheres no transporte.
- Baixa representatividade: apenas 15% dos empregados do setor de transporte são mulheres. É fundamental promover a inserção da mulher no setor em atividades que vão desde o manuseio de maquinário pesado até motoristas de ônibus.
- Falta de dados: há poucas pesquisas de mobilidade que mostram dados desagregados por sexo ou incluem perguntas relacionadas a questões de gênero. Diagnósticos e planos de ação de gênero exercem papel importante para o fortalecimento institucional de políticas de equidade de gênero.
Primeira rede de cidades, com 12 participantes, formada para adaptar sistemas de transporte público às necessidades das mulheres na América Latina, o TGL foca suas ações em quatro frentes:
- Benchmarking regional de iniciativas de gênero;
- Avaliação das práticas;
- Estudos Regionais; e
- Desenvolvimento de espaços virtuais para troca de experiências.
Em 2019, o TGL publicou um estudo (disponível em .pdf, em inglês e em espanhol) sobre a participação feminina no mercado de trabalho de transporte, que ainda pode – e precisa avançar. Nesse sentido, são de extrema importância estas ações do TGL desenvolvidas no México, Equador e Chile:
Com as experiências advindas de eventos como o fórum, de iniciativas como as propostas pelo TGL e de campanhas como o #MulheresnaInfra, a lição que fica é que devemos repensar os sistemas de mobilidade das cidades, para que sejam igualmente acessados por passageiras e passageiros. É uma oportunidade para refletir sobre a função das mulheres na força de trabalho, sua importância na tomada de decisões e sua contribuição para a rentabilidade dos negócios, além de serem a peça central da estratégica igualdade de gênero.
Nelson Luiz de Mello e Silva dos Santos diz
Importante e pertinente o tema tratado. A de se considerar que as mulheres possuem senso do ridículo não se expondo com atitudes e práticas desabinadoras. Outro fato também importante se refere a dedicação que têm com a família principalmente com filhos e idosos. Parabenizo pela iniciativa!