Fernanda Brollo*
Vários estudos sugerem que as mulheres na política são mais honestas que seus homólogos masculinos. No entanto, Ugo Troiano e eu demonstramos o fenômeno com evidência convincente em um estudo publicado que compara prefeitos e prefeitas no Brasil.
Observamos que as prefeitas se envolvem com menor probabilidade em práticas de clientelismo e irregularidades administrativas. Além disso, elas são melhores em proporcionar bens públicos a seus eleitores. No entanto, a probabilidade de reeleição das prefeitas é menor que a dos prefeitos.
Analisamos 723 pleitos municipais no Brasil em que uma mulher enfrentou um homem para a prefeitura durante as eleições municipais de 2000 e 2004, e nos concentramos em cerca de 400 pleitos que foram acirrados. Isso nos permite comparar municípios semelhantes onde mulheres ganharam as eleições por uma margem de votos pequena com municípios onde os homens ganharam.
O nosso estudo evidencia que é menos provável que as prefeitas participem de práticas questionáveis. Os prefeitos ao tentar reeleição no Brasil costumam contratar mais trabalhadores com contratos temporários durante o ano eleitoral em busca de apoio político durante a campanha. Observamos que as prefeitas contratam entre 10% e 13% menos trabalhadores com contratos temporários durante o ano eleitoral que seus homólogos masculinos. Constatamos também que é menos provável que as prefeitas cometam irregularidades, incluindo práticas ilegais de contratação de serviços e obras públicas, que podem ser usadas pelos políticos para conceder contratos a empresas em troca de aportes para suas campanhas. De fato, analisando auditorias federais, descobrimos que os municípios governados por prefeitas apresentam entre 29% e 35% menos chances de se envolverem em condutas corruptas.
De modo geral, as prefeitas conseguem melhores resultados que os prefeitos. Em um sistema em que a distribuição de recursos é, em grande medida, descentralizada, os municípios governados por prefeitas alcançaram ligeiramente melhores resultados na área da saúde ao garantir que um número maior de mulheres obtenham acompanhamento pré-natal. Cabe destacar que, diferente de suas contrapartes masculinas, as prefeitas atraem 60% mais transferências do governo federal para investimentos em infraestrutura.
Ainda assim, as mulheres recebem menos doações para suas campanhas. Esses resultados sugerem que elas provavelmente se envolvam menos em esquemas ilegais em troca de apoio eleitoral. Ou pode estar relacionado com outros fatores, como a crença dos doadores de que as mulheres possuem menos chances de serem reeleitas. Mas as discrepâncias se ressaltam: durante os períodos analisados, as prefeitas recebem entre 30% e 55% menos aportes para suas campanhas, e a probabilidade de serem reeleitas foram cerca de 20% abaixo dos candidatos do sexo masculino.
Está claro que nosso estudo é focado unicamente na disputa eleitoral entre homens e mulheres. E não nos indica se as mulheres teriam resultados similares em um sistema de cotas para mulheres na política. Na ausência dessa competição entre gêneros, as mulheres seguiriam sendo melhores na gestão dos recursos públicos? Por acaso a competição em si aumenta as diferenças entre gêneros? Presenciaríamos os mesmos resultados em países com diferentes atitudes em relação às mulheres do que as que temos no Brasil? Estas são áreas a serem levadas em consideração em futuros estudos.
O que está claro é que nosso estudo segue a linha de outros estudos de todo o mundo que indicam, por um lado, que é menos provável que as mulheres políticas participem de atos de corrupção e, por outro lado, que elas realizam um melhor trabalho na hora de proporcionar bens públicos que suas contrapartes masculinas. Talvez o melhor seja deixar que psicólogos, sociólogos e outros intérpretes da cultura e gênero expliquem este notável fato. Mas o fenômeno parece real.
Esse artigo também foi publicado em inglês e em espanhol no blog do Departamento de Pesquisa do BID.
Fernanda Brollo é pesquisadora visitante do Departamento de Pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Atualmente é professora assistente no Departamento de Economia da Universidade de Warwick. Também trabalhou como pesquisadora visitante na Universidade de Harvard (2012) e como professora assistente na Universidade de Alicante. Sua pesquisa é focada na política econômica e no desenvolvimento com a finalidade de entender quais são os motivos do fracasso dos governos, como mitigá-lo e melhorar a governança local. Publicou artigos em importantes revistas acadêmicas, entre elas American Economic Review, American Political Science Review e Journal of Development Economics. Fernanda tem doutorado em Economia pela Universidade de Bocconi em 2010.
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