Judith Morrison*
Em tempos de crise, a diversidade é uma oportunidade.
Ao fim do ano passado, quando a imprensa perguntou ao recém-eleito Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudeau, porque montou um gabinete paritário, ele respondeu: “Porque estamos em 2015”. No mês passado, quando Michel Temer, presidente interino do Brasil, apresentou seu novo gabinete composto unicamente por homens brancos, muitos acadêmicos fizeram reflexões que o país ainda precisa avançar na representatividade do governo da sociedade.
Um pouco mais da metade população mundial é composta de mulheres. No Brasil, esta cifra é similar àqueles que se identificam como pardos ou pretos (negros), 50,7%. E, ainda assim, a presença destes grupos nos níveis de tomada de decisão não reflete esta diversidade. Nem na esfera pública, como ficou evidente, nem na esfera privada.
Segundo estudo recente do BID com o Instituto Ethos que analisa as 500 maiores empresas do Brasil, apenas 13,6% dos cargos executivos estão ocupados por mulheres e só 4,7% por negros. Ainda pior: os gestores percebem essa presença como adequada em 43,4% quando falamos das mulheres e 36% quando falamos dos negros. Mas em um momento de vulnerabilidade econômica, por que isso seria uma prioridade para o setor privado e para a sociedade? Porque isso pode ser visto como uma oportunidade.
Estamos pouco mais familiarizados sobre porque é importante incluir as mulheres no setor empresarial. Diversos estudos apontam que elas controlam mais de US$20 bilhões do gasto mundial e influem em 85% das decisões de compra.
Em relação à diversidade racial, seus benefícios são mais desconhecidos, ainda que vários estudos tenham encontrado uma correlação entre diversidade em cargos de liderança e governabilidade e o rendimento financeiro, e sugerem que a diversidade pode melhorar a tomada de decisão corporativa. Outros benefícios são a melhora na contratação, a melhora na atenção ao cliente e maior inovação organizacional e agilidade. E o setor privado está tomando nota.
No caso do Brasil, a diversidade é de interesse maior para as empresas de consumo devido ao importante mercado consumidor afrodescendente, que movimenta mais de R$ 670 milhões em consumo anualmente (US$ 191 milhões). E aqui está a oportunidade já mencionada: é justamente nos momentos de dificuldades financeiras que as empresas precisam buscar novos mercados e ser mais eficientes. Aproveitar o potencial de mão de obra e mercado afrodescendente e de mulheres é uma excelente forma de começar.
Como fazer isso? Um ponto de partida é a autoanálise, respondendo a perguntas como as seguintes:
Nossa empresa está maximizando de fato o talento interno utilizando processos de seleção competitivos baseados no mérito no momento das promoções de carreira?
Existe um plano de desenvolvimento de talento estratégico e de longo prazo que nos permita maximizar o potencial e obter maiores retornos do investimento que fazemos em nossos funcionários?
Damos oportunidades de mentoria para que o corpo de funcionários de nossas empresas tenham melhores oportunidades corporativas? Estamos nos esforçando para que jovens talentos de grupos mais excluídos participem destes programas como parte de seu plano de desenvolvimento profissional?
Estamos abertos a diferentes pontos de vista, tendo em conta a diversidade que existe em nossos mercados internos e externos? Ou temos a tendência a criar grupos em que todos parecem ter a mesma perspectiva?
Como explicou Lisa Lambert diretora da Intel, empresa que acaba de investir US$300 milhões para que seu quadro represente melhor o mundo ao seu redor, “a diversidade não é uma causa social, uma caridade. É uma oportunidade de negócio”.
*Judith Morrison é a assessora principal da Divisão de Gênero e Diversidade do BID. Com mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento internacional, foi diretora regional da Fundação Interamericana, diretora executiva entre Agências na América Latina e diretora de programa do Diálogo Interamericano. Sua experiência com desenvolvimento econômico na América Latina tem ênfase em povos indígenas e afrodescendentes e inclui a negociação de acordos com o setor privado nas áreas de aço, construção, defesa, manufatura, transporte, e tecnologia no Brasil, Argentina e Colômbia. Ela negociou o primeiro fundo de eco-desenvolvimento com o setor privado no Brasil e tem trabalhado por mais de 20 anos no país. Judith Morrison ganhou o Prêmio da Inovação e Sustentabilidade do BID em 2014 e 2015. Tem mestrado em distribuição de renda e desenvolvimento econômico no MIT, onde recebeu o prêmio Carroll Wilson e foi fellow Woodrow Wilson.
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