Cassia Peralta*
Em 1822 o setor privado foi fundamental para a independência brasileira. Hoje, o setor privado tem a oportunidade de desempenhar um papel decisivo em outro marco para o Brasil e além: Configurar a nova Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 por meio de práticas de negócios sustentáveis.
Antes que o Brasil se tornasse o quinto maior país do mundo e a sétima maior economia que é hoje, há quase 200 anos, ele estava lutando pela liberdade de Portugal. Nossa nação foi uma colônia até 1808, quando a corte Portuguesa, fugindo das forças napoleônicas em Portugal, partiu de Lisboa e fez do Rio de Janeiro a capital do Império Português.
É importante reconhecer a importância que o setor privado da época teve neste momento histórico. Uma vez que o reino Português chegou ao solo brasileiro, suas portas foram abertas ao comércio exterior. O novo reino estabelecido no Brasil, juntamente com seus produtores agrícolas e comerciantes, gozaram de novos benefícios econômicos de ter autonomia. Quando o monarca português Dom João VI voltou a Portugal em 1821, ele nunca foi capaz de reinstituir o Brasil como uma colônia novamente. As novas liberdades econômicas trazidas pelo comércio fez com que a classe dominante local apoiasse o filho do monarca Português, Pedro I, declarando-o primeiro imperador do Brasil, que, em seguida, declarou o Brasil independente de Portugal em 7 de setembro de 1822.
Já nesta época o setor privado foi decisivo para que o Brasil alcançasse sua independência. Hoje, o setor privado tem a oportunidade de desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento, através de práticas de negócios sustentáveis. No mês passado o Pacto Global das Nações Unidas realizou em São Paulo uma consulta entre a comunidade empresarial no Brasil para acompanhar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), com o prazo final agora em 2015. Organizado em parceria com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e da International Finance Corporation (IFC), representantes de várias indústrias do setor privado expressaram seus pontos de vista sobre como implementar com sucesso uma nova agenda de desenvolvimento global, incluindo entre outros, o posicionamento de pequenas e médias empresas (PME) para o crescimento da capacidade, competitividade e sustentabilidade das empresas.
Ainda que as pequenas e médias empresas brasileiras tenham um grande potencial em participar ativamente da Agenda de Desenvolvimento pós-ODM; ainda há muitos obstáculos que impedem o seu crescimento sustentável, especialmente em relação ao acesso ao financiamento adequado. Um exemplo recente em eficiência energética e o caso da Contax e APS Soluções. Contax é um call center em Fortaleza que não atendia às exigências de redução de emissões de CO2 e, como resultado, pagavam multas mensais. APS Soluções é uma empresa de serviços de energia de pequeno porte em Porto Alegre, que fornece iluminação e sistemas de ar condicionado energeticamente eficiente, mas não conseguia obter financiamento a curto prazo de bancos locais. Com Mecanismo de Garantia de Eficiência Energética do BID (garantia EEGM), Banco Indusval & Partners (BI & P) foi capaz de fornecer o financiamento para APS e APS pode oferecer à Contax economias mensais em seus custos de energia ao renovar seus sistemas de iluminação e de ar condicionado.
À medida que aproximamos do prazo de 2015 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, é importante estudar exemplos como a parceria Contax-APS Soluções-Banco Indusval. Abordagens inovadoras como esta podem dar forma e até mesmo definir a agenda do desenvolvimento a ser seguida.
* Cássia Peralta é diretora de investimentos (investment officer) do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Seu trabalho é focado na estruturação de investimentos com o setor privado, estimulando o desenvolvimento através da implementação de práticas de negócios sustentáveis. Ela nasceu no Brasil, tem MBA da Wharton School of Business e é autora do premiado livro Born in Rio.
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