Cassia Peralta*
Instituições multilaterais podem fornecer soluções para negócios sustentáveis? A recém encerrada cúpula dos BRICS trouxe algumas destas questões à tona. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul concordaram com a criação de um novo banco de desenvolvimento, com capital de $100 bilhões de dólares. Além disso, os cinco países, que respondem por metade da população e 20% do PIB mundial, também debateram um Acordo de Reservas de Contingência. Nos últimos dez anos, os resultados econômicos das nações emergentes quadruplicaram. Embora o crescimento econômico muitas vezes se traduza em melhores condições de vida e oportunidades para seus cidadãos, ele vem acompanhado de desafios econômicos, sociais e ambientais – especialmente em economias que crescem rapidamente. Daí a importância de mais e novas fontes de financiamento multilateral, que se somem a organizações já tradicionais como o BID e o Banco Mundial.
Enquanto a criação do Novo Banco de Desenvolvimento BRICS ainda gera controvérsia em muitos círculos, hoje eu gostaria de focar no tema escolhido para a 6ª Cúpula, que enfatiza precisamente como lidar com esse grande desafio em desenvolvimento, de ambos os setores público e privado: crescimento inclusivo e soluções sustentáveis.
Para que o desenvolvimento sustentável seja legítimo, é preciso alcançar progresso econômico e ao mesmo tempo estimular o desenvolvimento social e a proteção ambiental. Isto pode ser conseguido através de políticas que são socialmente inclusivas e incentivem retorno tanto para o público geral quanto para empresas. Medidas concretas estão sendo tomadas por diversos governos para acelerar as transformações sustentáveis. Investimentos que alcancem o desenvolvimento ambiental e social devem ser promovidos. Como proporcionar igualdade de acesso à educação e investir em iniciativas de alta qualidade que incentivem a inovação, ações fundamentais para erguer a classe média emergente nessas cinco nações, foram um dos principais focos da cúpula.
As empresas devem adaptar-se a constante evolução das condições de mercado, incorporando metas inclusivas e sustentáveis na geração de valor. Alinhar os retornos financeiros e sociais de seus investimentos; um conceito de negócio também conhecido como valor compartilhado (shared value), é uma maneira de elas conseguirem vantagem competitiva.
Muitas empresas podem hoje atestar que ao conectar o progresso social ao sucesso da empresa, além da rentabilidade ao curto prazo, provou-se uma estratégia de sucesso ao longo prazo também. Um exemplo de estrutura que é usada para identificar essas oportunidades é a Análise de Valor Compartilhado criada pelo BID.
A Universidad San Ignacio de Loyola (USIL) no Peru foi uma das primeiras pioneiras da metodologia de como uma empresa privada pode fazer um problema social o núcleo de seus esforços, gerando retornos financeiros. A USIL é uma universidade privada com sede em Lima, que está investindo na classe média emergente. Em 2013, ela recebeu um empréstimo de $25 milhões do BID para expandir seu campus e aumentar as ofertas para os estudantes de baixa renda. Juntamente com o pacote de financiamento, uma Analise de Valor Compartilhado foi realizada, o que permitiu a identificação de oportunidade para melhorar a oferta da USIL para os estudantes economicamente desfavorecidos; $2 milhões de dólares do empréstimo foram destinados à criação de um fundo de garantia para esses estudantes. O Fundo de Garantia afiança empréstimos e bolsas de estudo, possibilitando que estudantes de baixa renda com alto potencial acadêmico concluam seus estudos. Desta forma, ao mesmo tempo em que a iniciativa gera valor financeiro para USIL atraindo novos alunos, ela fornece acesso a uma educação de alta qualidade para uma população economicamente desfavorecida. A USIL assume o custo do empréstimo para o fundo de garantia, e, portanto tem que certificar de que esse é um investimento sustentável; garantindo que seus alunos se graduem e se tornem produtivos em suas respectivas sociedades.
Assim como o Novo Banco de Desenvolvimento BRICS continua moldando a discussão sobre o desenvolvimento sustentável com soluções inovadoras, as empresas devem continuar a oferecer estratégias que não só possam transformar-se em ações adaptáveis a todos os níveis de desenvolvimento, mas que também sejam ambiciosas.
* Cássia Peralta é diretora de investimentos (investment officer) do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Seu trabalho é focado na estruturação de investimentos com o setor privado, estimulando o desenvolvimento através da implementação de práticas de negócios sustentáveis. Ela nasceu no Brasil, tem MBA da Wharton School of Business e é autora do premiado livro Born in Rio.
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