Embora já viva nos EUA há quase 7 anos, não perdi um hábito bem brasileiro: assistir a telenovelas. Não apenas aprecio ver personagens divertidos, como a Carminha de “Avenida do Brasil”, como também as importantes discussões sobre nossa sociedade que os folhetins televisivos costumam abordar – na atual trama das 21h, por exemplo, gosto muito da maneira como o autor trata a questão da ética (ou falta de) nos negócios e da apropriação do trabalho artístico de um personagem com transtornos mentais por uma dupla de exploradores.
Acredito, porém, que as novelas deixam a desejar quando a questão é diversidade e representação. O caso mais evidente, em um país com maciça presença africana, é o limitado numero de atores negros nas tramas de tevê. Além de serem pouquíssimos os atores/atrizes negros com visibilidade no ar, há ainda o problema da qualidade dos papeis disponíveis para eles.
Alguns atores passaram a vida interpretando o mesmo personagem: algum serviçal cujas falas não vão além de “posso servir o jantar?” ou “o doutor Fulano telefonou”. É sim verdade que, por razões históricas, muitos negros trabalham como empregados domésticos, mas então por que não desenvolver essas histórias? Por que só vemos os empregados de uniforme dizendo “sim, senhor” ou “o que devo fazer para o almoço? Por que esses personagens parecem não ter vida, filhos, problemas, alegrias, angústias, dúvidas, amores?
O caso da limitada representatividade negra, como já destaquei, me parece o mais emblemático, mas também acho estranho não ver atores de origem asiática, como a minha, e de outros grupos étnicos na televisão ou nas capas de revista. São Paulo abriga a maior comunidade de origem japonesa fora do Japão. Quando andamos pelas ruas Brasil afora, temos a sensação de estarmos em uma assembleia das Nações Unidas tamanha a diversidade da gente brasileira. No entanto, ao ligar a tevê essas pessoas parecem não existir.
Como vivo nos EUA essa sensação de pouca diversidade nos meios de comunicação brasileiros se amplifica. Não, a terra do barbecue não é um oásis da igualdade, mas percebo mais diversidade nos programas daqui. A mais recente edição do Globo de Ouro parece demonstrar isso: não só havia mais diversidade étnica como também mais espaço para corpos de diferentes proporções.
Nesse momento em que se discute a expansão de novas mídias, aumento e queda da audiência televisiva e temas correlatos, acho importante que também debatamos a questão da representação da diversidade. Quanto mais vermos mais de nós mesmos na tela da tevê, melhor não só para a autoestima do Brasil como para a felicidade dos que anunciam. Quem compra o seu produto quer se sentir incluído. Quem compra o seu produto, quer se se sentir retratado.
Leave a Reply