Alexandre Schneider, Eduardo Paiva e Fernanda Campagnucci*
Garantir uma educação pública gratuita e de qualidade implica enfrentar desafios tais como manter atualizados os conteúdos curriculares, avaliar a aprendizagem, promover a formação contínua dos educadores e manejar recursos escassos para entregar serviços e materiais indispensáveis para o funcionamento das escolas. A cidade de São Paulo, por exemplo, enfrenta estes desafios ampliados por ser uma metrópole com cerca de um milhão de estudantes – a maioria em etapas de educação infantil – 80 mil funcionários e um serviço de alimentação escolar que produz mais de dois milhões de merendas por dia.
Frente a esta realidade, nos perguntamos: como fiscalizar os contratos e serviços de maneira descentralizada e eficiente? Como escutar e envolver todos os atores da comunidade escolar nas ações e na tomada de decisões? Como saber se as equipes e materiais das escolas vão ser compatíveis com as propostas pedagógicas? Para responder estas perguntas, e aproveitar a inteligência coletiva, buscamos criar soluções de maneira colaborativa. Para eles, a Secretaria de Educação da cidade de São Paulo lançou em abril o Pátio Digital, uma estratégia de governo aberto e inovação para colaborar entre a gestão pública e os diferentes setores da cidadania – centros de pesquisa, iniciativa privada e comunidades de tecnologia – na co-criação de políticas públicas de educação.
Apresentamos abaixo as cinco estratégias principais que estamos colocando em prática desde o Pátio Digital para construir um ecossistema aberto na educação:
1. Abrir os dados para favorecer a inovação e a pesquisa acadêmica
Os dados são o insumo básico para o desenvolvimento de soluções tecnológicas e de pesquisa para a comunidade científica. Para isto, é fundamental que estes formatos abertos, com licenças livres e legíveis por máquinas. Com o lançamento do Pátio Digital, o Departamento de Educação se converteu no setor com mais dados publicados no portal de dados abertos da cidade. Isso inclui informação sobre o número de docentes ativos e os cargos abertos existentes, o perfil das aulas que são ministradas, o número de estudantes inscritos nas escolas municipais – tanto públicas como privadas – e a proporção de alunos por sala de aula, entre outras coisas.
Também, o Pátio Digital lançou seu Plano de Abertura, uma ferramenta onde fica transparente o processo de abertura de dados e estabelece um cronograma e frequência de publicação.
2. Proporcionar mecanismos de acesso a informação
Deixar os dados abertos é fundamental, mas não é suficiente para garantir a transparência e o acesso a informação para todos. Além disso, para deixar a base de dados aberta é necessário criar mecanismos de consulta e de visualização das informações. A página na web do Pátio Digital contém um Painel de Dados com visualizações que permitem analisar e comparar indicadores sobre as matrículas escolares, as demandas de educação e o desempenho dos estudantes. Por outro lado, também estão previstos treinamentos e outras formas de promover a “alfabetização nos dados”.
3. Abrir os problemas para receber retroalimentação da comunidade
Nos próximos meses, o Pátio Digital formará, em volta do Departamento de Educação de São Paulo, uma Rede de Cooperação com universidades e centros de pesquisas interessados nas políticas educacionais. O Departamento coletou em seus distintos setores os principais desafios e os converteu em problemas de pesquisa, que vão ser propostos em convocatórias e discutidos de forma aberta com os pesquisadores. Os desafios vão desde questões pedagógicas até o desenho e avaliação de políticas educacionais e serviços. A ideia, ao final, é gerar conhecimento de maneira aberta e incorporar as reflexões da Academia ao cotidiano da Administração Pública.
4. Desenvolver metodologias para fomentar o trabalho colaborativo
O Pátio introduz também um ciclo de inovação em que os problemas públicos recorrem um caminho de inovação aberta na busca de uma solução colaborativa. Este caminho começa com metodologias de prototipação, passando por convocatórias para desafios específicos, até o desenvolvimento de soluções tecnológicas com licenças abertas. Da parte do governo, também se trabalha para a abertura dos códigos dos sistemas do departamento em repositórios públicos.
Dentro desta metodologia, o Departamento de Educação organizou um encontro aberto de debate sobre os desafios do transporte escolar e lançou um concurso de aplicações com o objetivo de promover a transparência dos menus de alimentação escolar.
5. Conectar o ecossistema de inovação
Como uma maneira de conectar os distintos atores envolvidos na co-criação da educação pública, se criou a Casa do Pátio como o espaço físico da iniciativa Pátio Digital. Recém renovada, a casa Sergio Buarque de Hollanda pertenceu a um sociólogo brasileiro, e foi um lugar de importantes debates intelectuais do século XX. Agora, a casa vai abrigar uma comunidade de cidadãos, centros de pesquisa e iniciativa privada que querem colaborar para promover uma educação pública de qualidade.
Os caminhos estão abertos para a co-criação com os distintos setores da sociedade que desejam fazer parte deste movimento pela melhora da educação pública. Esperamos aprender junto com a sociedade as melhores maneiras de recorrê-los.
Quais ideias você contribuiria para co-desenhar a educação pública em sua cidade? Conte-nos no campo dos comentários!
Blogpost publicado originalmente em espanhol no blog Abierto al Público.
*Alexandre Schneider é secretário de Educação da cidade de São Paulo.
* Eduardo Paiva é gestor público do Departamento de Educação da cidade de São Paulo.
*Fernanda Campagnucci é gestora pública do Departamento de Educação da cidad de São Paulo.
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