Luciano Schweizer*
Alimentos como leite, cacau, café e abacaxi são comuns à mesa de milhares de brasileiros todos os dias. Afinal, adoramos fazer uma pausa para o café e se tiver um chocolate é ainda melhor. No café da manhã, o leite quentinho, e no calor tropical do nosso Brasil, nada melhor do que um suco de abacaxi bem gelado para refrescar.
Os agricultores familiares são os principais fornecedores da maioria dos alimentos que consumimos. No entanto, eles também são o grupo agrícola mais vulnerável à mudança climática, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Isso representa uma grave ameaça à segurança alimentar e esses itens poderão ficar mais caros e escassos.
A região Nordeste do Brasil é considerada uma das regiões mais vulneráveis do ponto de vista social, econômico, ambiental e climático. As secas e enchentes recorrentes, características da região, vem sendo mais intensas devido à mudança climática. Isso tem provocado, junto com o desmatamento, a diminuição da produção agrícola.
Além disso, muitas famílias do campo não têm acesso aos recursos técnicos, tecnológicos e financeiros disponíveis para acelerar o desenvolvimento agrícola e mitigar riscos e prejuízos em tempos difíceis.
O programa Pro Adapta Sertão viu nesse cenário uma oportunidade para combater a escassez de alimentos e aliar a produção e a preservação do meio ambiente e criou o MAIS (Módulo Agroclimático Inteligente e Sustentável), que está ajudando os agricultores na bacia do Jacuípe na Bahia, região semiárida do Brasil, a se adaptarem à mudança climática e a se planejarem para períodos intensivos de seca.
Organizações locais e líderes de agricultores trabalham em conjunto para adaptar novas tecnologias à sua própria realidade. Algumas práticas incluem o uso de Opuntia-ficus, um cacto que atua como substituto do milho e de um sistema biofísico de armazenamento de água e alimentos, restauração de pastagens por meio do plantio de árvores e frutas indígenas resistentes à seca, e a adoção de rotinas adequadas de manejo animal para climas semiáridos.
Conquistas do MAIS
Neste ano, o Programa foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas, sendo um dos 15 projetos vencedores do UN Climate Action Award. A iniciativa se mostrou eficiente no apoio de mais de 650 agricultores ao longo de um período de 12 anos. Além disso, cada dólar investido no programa gerou cerca de US$ 7 na Bacia de Jacuípe.
O programa também resultou em uma melhoria de 30% em pastagens, uma redução de 50% na pegada hídrica das fazendas e uma redução de 30% nas oscilações da produção. Estima-se que mais de 3 toneladas de CO2 sejam compensados por cada hectare de pastagem restaurada. O programa aumentou a produção de leite dos agricultores em 63% e aumentou sua renda em 204%.
O programa é um modelo que pode ser aplicado em outras regiões para combater a ameaça de escassez alimentar que pode ser ocasionada pela falta de informação do agricultor familiar e os efeitos da mudança climática. Na região da Bacia do Jacuípe esse combate já está sendo feito e ao que tudo indica, não faltará leite nos cafés da manhã dos moradores dessa região.
Conheça o MAIS, aqui.
Luciano Schweizer é especialista Líder de Mercados Financeiros no Banco Interamericano de Desenvolvimento.
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