Foto: Lejia Lombardi/BID
O infinito debate sobre a eficácia do uso de tecnologia nas salas de aulas vem ganhando novos capítulos com o advento dos tablets. O distrito de Coachella, um dos mais pobres da Califórnia, vai distribuir iPads para todos os alunos desde a pré-escola até o ensino médio. A ideia é estimular as capacidades individuais dos estudantes, o que os levaria a aprender mais e ter melhor desempenho em matemática e leitura, por exemplo. Outro beneficio seria a diminuição da brecha digital entre os alunos mais ricos e os mais pobres. Mas até que ponto novas tecnologias como os tablets realmente influenciam no aprendizado?
Um estudo pioneiro do BID publicado no ano passado, baseado na iniciativa Um laptop por criança no Peru, não encontrou evidências de que o uso de tecnologia melhore o aprendizado ou o desempenho dos alunos. Houve, sim, uma melhora nas habilidades cognitivas e, em geral, as crianças entenderam bem como lidar com o computador, mas não mais que isso.
Outra avaliação, feita no Uruguai, país que adotou uma política nacional de distribuição de um laptop por aluno da rede pública, mostrou que o uso de computadores em sala de aula ajudou a melhorar o aprendizado de matemática, mas não aprimorou os níveis de leitura dos alunos. Podemos concluir que não vale a pena investir em computadores nas escolas?
É muito cedo para chegar a qualquer conclusão. Há um intenso debate nos meios acadêmicos sobre como melhor medir o impacto dos computadores na sala de aula. Há muitas habilidades importantes para a sociedade moderna que o computador ajuda a desenvolver como, por exemplo, buscar, interpretar e analisar informações. Mas ainda é muito difícil mensurar o impacto de tais habilidades. Então o que fazer?
O estudo do Peru apresenta algumas conclusões importantes. Os autores sugerem que os governos invistam na capacitação dos professores, o que combinado com o uso de outras ferramentas, sejam elas computadores ou não, poderiam ajudar a melhorar o aprendizado.
Responsável pela implantação de um programa semelhante ao “Um laptop por criança no Caribe,” a especialista em educação Camille Aragon também ressalta a necessidade de que se invista, em primeiro lugar, no treinamento dos professores. Ela sugere ainda que, antes da adoção dos computadores, os responsáveis certifiquem-se de que a infraestrutura necessária – energia elétrica, conexão com a internet, assistência técnica em caso de dano/quebra – seja pensada.
Todas essas questões podem parecer demasiado óbvias, mas Camille viveu a experiência de ver alunos terem seus computadores quebrados e jamais substituídos porque na ilha caribenha em que ela se encontrava não havia um serviço de reparos para os equipamentos. Por fim, também há que se refletir sobre quem impõe os limites sobre o uso das tecnologias. Camille relata com tristeza que alguns alunos utilizavam seus laptops para acessar conteúdo pornográfico.
Outros países tem conseguido melhorar o desempeno escolar sem utilizar o computador. No Paraguai, por exemplo, objetos como bolas e palitinhos têm ajudado alunos de pré-escola a aprender conceitos como álgebra e geometria. A principal lição que se pode tirar dessas experiências é que o computador por si só não é capaz de ajudar a melhorar a educação. Ele é mais um instrumento que, se usado devidamente, pode ajudar a resolver o problema. Trataremos desse tema no nosso próximo post.
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