O Brasil e os demais países da região melhoraram significativamente o acesso à educação em todos os níveis de ensino. No entanto, persiste o desafio com relação à qualidade e relevância da educação oferecida, que são fundamentais para o desenvolvimento econômico. O Brasil é um país de 51 milhões de jovens, onde 1 em cada 2 está em risco de desemprego e pobreza e enfrenta enormes dificuldades no que tange à questão da qualificação para o mercado de trabalho, sobretudo aqueles mais pobres e vulneráveis.
A quarta revolução industrial está causando importantes transformações em todos os setores produtivos e nas sociedades, em grande velocidade. Teletrabalho, educação online e automação de inúmeros processos produtivos já coexistem com todos nós. Embora a adoção dessas tecnologias ainda seja lenta e muito desigual na região, a tendência é que ela vá se acelerar muito em breve.
Um dos efeitos mais importantes dessa revolução tem a ver com a maneira como as crianças e os jovens devem ser educados. Devemos prepará-los para os empregos do futuro e focar naquelas habilidades que lhes ofereça vantagens comparativas em relação às máquinas tais como: criatividade, pensamento crítico ou inteligência socioemocional.
Mas esse fenômeno só poderá ocorrer a partir de uma mudança estrutural. Como na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o BID em sua última publicação O futuro do trabalho: perspectivas regionais, nos lembra que a região deve trabalhar em parcerias multissetoriais para aproveitar as oportunidades que são abertas devido aos avanços tecnológicos e, por outro lado, minimizar seus riscos de exclusão.
A NOVA TECNOLOGIA: TRABALHAR EM ALIANÇAS
Um exemplo de trabalho pioneiro no trabalho em aliança é a iniciativa NEO Brasil, uma parceria de empresas, governo e sociedade civil, no estado de Pernambuco, atuando em duas frentes: 1) articulação entre atores, programas e políticas públicas relacionadas ao emprego juvenil para ordenar a oferta de serviços e evitar esforços duplicados; e 2) fortalecer a qualidade dos serviços de formação e emprego conforme as demandas do mercado de trabalho de hoje e do futuro. Mas, o que exatamente está fazendo o NEO Brasil? Em síntese, está atuando em três áreas prioritárias:
- Análise do mercado laboral e desenvolvimento de programas relevantes de formação. A interface entre as demandas do mercado de trabalho e a oferta de formação é frágil e desconectada. É necessária maior consistência entre as formações e qualificações profissionais oferecidas pelos centros educacionais e as competências laborais que o mercado de trabalho exige no terreno. Para tanto, é preciso conhecer melhor as exigências atuais e futuras do mercado de trabalho e levar essa informação para que os sistemas educacionais possam tomar decisões acertadas sobre o tipo e relevância dos cursos que oferece.
NEO Brasil desenvolve uma inovadora metodologia digital para identificar as competências técnicas e socioemocionais exigidas pela Indústria 4.0, a ser testada como piloto para posterior aplicação em maior escala, economizando assim tempo e recursos para realizar esse processo de identificar demandas de mercado e melhorar a comunicação contínua entre o setor produtivo e as instituições de formação técnica e profissional para orientar a revisão ou criação de novos cursos de educação profissional.
- Padrões de qualidade para serviços de formação, orientação e emprego. Na região existem alguns modelos para garantia de qualidade de serviços, mas geralmente eles têm origem na educação superior e não refletem a especificidade da formação técnica e profissional. Os serviços de formação e emprego para jovens, especialmente para os mais vulneráveis, carecem de definição de critérios de qualidade, nem sempre atendem as necessidades do setor produtivo e não tem uma cultura de buscar melhoria contínua.
NEO Brasil inova na aplicação de uma ferramenta prática de autoavaliação dos serviços de formação, de orientação e de inserção profissional oferecidos por instituições públicas e privadas, da qual resultam informações para a implementação de planos de melhoria. Um grupo de 30 escolas de educação profissional da Secretaria de Educação e SENAI participaram da experiência piloto de aplicação do Guia de Padrões de Qualidade NEO para identificar os serviços a serem aperfeiçoados e reforçar a cultura de melhoria contínua da qualidade em centros de formação profissional.
- Inovações em metodologias educacionais: O desinteresse dos estudantes pela escola, evidenciado pelas altas taxas de evasão escolar, apontam para uma profunda ruptura no processo educacional e de qualificação profissional dos jovens. Ao mesmo tempo, o mundo está mais conectado e as tecnologias evoluem em ritmo cada vez mais acelerado. Mudanças disruptivas estão remodelando o futuro do trabalho, e irá exigir do jovem aspirante a profissional um conjunto de habilidades chaves, inclusive socioemocionais, que não são desenvolvidas no âmbito dos currículos escolares tradicionais.
NEO Brasil está implementando a metodologia de ensino desenvolvida pela CESAR School. Baseada no paradigma da Educação 3.0, vem aperfeiçoando/inovando a educação profissional de 107 escolas da Secretaria de Educação, do IFPE e do SENAI, visando preparar os educadores a lidarem com os desafios inerentes aos novos contextos e arranjos de aprendizagem e a prepararem os jovens para atender as tendências e exigências do mercado de trabalho e aos desafios do trabalho do futuro. Também, em 47 escolas de educação profissional, NEO Brasil capacita os educadores a apoiarem a elaboração de projeto de vida pelos estudantes, com foco na reflexão sobre suas escolhas profissionais e plano de carreira.
A mudança tecnológica na região pode ser mais lenta do que nos países desenvolvidos, mas é inevitável. Isso oferece à região uma oportunidade de preparar-se para as transformações que estão encaminhadas e de fazer um esforço sério para que nossa juventude mais vulnerável não fique fora das oportunidades que os empregos do futuro irão gerar.
Desde o início, a Aliança NEO Brasil teve que superar eventos esportivos globais, desaceleração econômica e crescentes índices de desemprego. No entanto, o reconhecimento da necessidade de colaboração entre os integrantes vem se consolidando, com muito esforço e uma grande motivação e determinação para melhorar as oportunidades de emprego dos jovens. Antes mesmo de completar dois anos, 55 mil jovens de 107 centros de formação em Pernambuco já podem contar com um futuro melhor graças ao esforço colaborativo da Aliança.
Lucyano Ribeiro diz
Trabalhar com os jvens no planejamento de suas vidas e plano de carreira, centrado na colaboraçao global.