Laura Ripani e Rafael Novella*
Maior autoestima e mais oportunidades são elementos que podem reduzir o risco de gravidez na adolescência. Este é um dos resultados da capacitação oferecida pelo Programa Juventude e Emprego na República Dominicana. O país apresenta a taxa de gravidez precoce mais alta da América Latina e do Caribe: 104 nascimentos para cada 1.000 jovens entre 15 e 19 anos, cifra quase equivalente à apresentada pela África Subsaariana (110 nascimentos para cada 1.000 jovens entre 15 e 19 anos).
No Brasil, a gravidez na adolescência também constitui um problema social de grande proporção. Estima-se que haja 76 nascimentos para cada mil jovens entre 15 e 19 anos e, nesse contexto, o país já apresenta mais de 900 mil jovens nessa faixa etária que são mães. Os dados da Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios (PNAD) corroboram a relação entre gravidez precoce e pobreza: 16,4% das jovens de famílias pobres e 23,9% das jovens de famílias pobres ou extremamente pobres já tiveram filhos. A desagregação por raça também chama a atenção: a proporção de jovens negras com filhos é mais de cinco pontos percentuais superior à proporção de jovens brancas com filhos. Este problema social acarreta consequências perversas para a saúde, a educação e os direitos humanos de tais adolescentes. Essas jovens, muitas vezes, estão marginalizadas na sociedade e apresentam dificuldades de inserção no mercado de trabalho: mais de 30% das mães adolescentes estão desempregadas, cifra 10 pontos percentuais superior à proporção de adolescentes sem filhos. A avaliação de impacto do Programa Juventude e Emprego da República Dominicana encontrou evidências de que a realização da capacitação profissional diminuiu a probabilidade de gravidez precoce em 20%. É uma redução significativa, pois este percentual de redução é suficiente para aproximar a taxa de gravidez precoce do país à média da região (74 nascimentos para cada 1.000 jovens entre 15 e 19 anos).
Por que quase a metade das jovens que participaram desse programa não engravidaram? Elas conseguiram um emprego que as obrigou a postergar a maternidade ou agora têm menos tempo para namorar?
Os resultados da avaliação de impacto apontam uma mudança de suas expectativas com relação à vida, devido a um fortalecimento de suas habilidades sócio emocionais: maior autoestima, melhor capacidade de planejar e tomar as rédeas do seu futuro e mais organização fora e dentro do seu trabalho.
Por meio deste programa, as jovens participantes melhoraram sua capacidade de liderança e de fixar metas, assim como a sua perseverança para alcançá-las. Além disso, a iniciativa tem um claro impacto na maneira com que os jovens visualizam o seu futuro e o seu otimismo em mudá-lo.
Quando as adolescentes não percebem um futuro próspero, tanto porque não conseguem emprego quanto porque não querem dar continuidade aos estudos, frequentemente optam pela maternidade como uma via de escape. De tal modo, deixam para trás a adolescência e se tornam “mulheres adultas”.
Reforçar as habilidades sócio emocionais é parte fundamental do Programa Juventude e Emprego. Uma em cada três horas de formação (75 horas de um total de 225) são dedicadas a proporcionar às participantes ferramentas que as ajudem não apenas a obter um emprego, mas também a lidar com decisões que vão além da trajetória no mercado de trabalho como, por exemplo, a de evitar gravidez precoce.
A partir do próprio desenho, o programa incorpora uma avaliação de impacto experimental rigorosa dirigida com o intuito de avaliar o seu efeito. As beneficiárias foram selecionadas de maneira aleatória entre um grupo de jovens interessadas e elegíveis a participação. Foi feito o seguimento tanto das jovens aceitas no programa quanto das jovens que não participaram de sua execução. Dessa forma, foram comparadas jovens que, em média, apresentam as mesmas características, com exceção de que um grupo participou do programa e o outro não.
Existem evidências de que Programa Juventude e Emprego reduziu em 20% a gravidez de adolescentes entre 16 e 19 anos. Chama a atenção o fato de que este efeito também está associado ao fortalecimento das habilidades sócio emocionais e das expectativas que as jovens têm sobre o seu futuro. Esse resultado confirma que uma boa fórmula para promover comportamentos positivos nessas mulheres é aumentar o seu leque de oportunidades por meio de mais e melhor formação.
* Laura Ripani é especialista em mercados de trabalho do BID. Rafael Novella é consultor de comunicação também no BID.
** Este post faz parte do relatório de resultados corporativos do BID “Panorama da Efetividade no Desenvolvimento” (DEO, em sua sigla em inglês), capítulo 5 “En búsqueda de la atribución: nuestras evaluaciones de impacto”.
Leave a Reply