Atraídos pela presença de turistas, dezenas de adolescentes e jovens adultos, com poucas perspectivas de emprego formal e renda, circulam todos os dias na região do Centro Histórico de Salvador, uma área histórica e principal ponto turístico da cidade.
Ciente dessa situação, a Secretaria de Turismo da Bahia (SETUR) iniciou um projeto, no contexto do Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia (Prodetur Nacional Bahia), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para dar a esses jovens autoestima e capacidade de encontrarem qualificação profissional – o projeto Coligados.
Ao longo de doze meses, 125 participantes passaram por cursos e atividades oferecidos pelo Consórcio PRACATUM/ISI, com o objetivo de inseri-los também do ponto de vista social e lúdico, em uma iniciativa que mostrou a importância do empoderamento da juventude.
Histórias de vida
O projeto começou por meio de uma análise minuciosa da história de vida de 125 pessoas de 15 a 24 anos em situação de risco social no entorno do Centro Histórico e Centro Antigo de Salvador.
A análise procurou entender, para cada um dos assistidos: suas histórias de vida, suas relações e renda familiares, situação de emprego de pai e mãe. Também se considerou o fato de que alguns já haviam morado na rua e estiveram envolvidos em atos de delinquência, além de já terem vivenciado outros projetos sociais sem muito êxito.
A trajetória de mudança foi impulsionada pela oferta de cinco cursos de qualificação profissional relacionados às atividades culturais e turísticas da identidade baiana: Jovem Cozinheiro, Auxiliar de Padeiro, Moda, Música e Beleza Afro. Os cursos foram divididos em aulas teóricas e práticas e planejadas para dar independência, autonomia e confiança aos adolescentes e jovens, além de guiá-los para o mercado de trabalho formal na perspectiva de serem micro empreendedores individuais (MEI).
Para atingir esses objetivos e engajar os participantes, o projeto elegeu como norteadores a empatia, a criatividade e o trabalho em equipe.
Com o objetivo de manter a frequência e a motivação dos adultos e jovens, ofertaram-se ajuda de custo para o transporte, duas refeições diárias e fardamento. Os cursos foram instituídos no turno oposto ao das aulas na escola regular, e os coordenadores mantiveram parceria com as instituições de ensino e um diálogo frequente com as famílias, a fim de garantir que os adolescentes e jovens não abandonassem os estudos tradicionais.
Por se tratar de um público heterogêneo, o projeto também priorizou valores de liberdade, igualdade, não-discriminação e dignidade. Os jovens também aprenderam a importância do pluralismo e da laicidade para o convívio em sociedades democráticas.
Vários desafios e dificuldades foram enfrentados até que cada profissional ministrante dos cursos, pudesse entender cada situação apresentada. Para conquistar a confiança de cada aluno, foi necessária muita sensibilidade para entender cada atitude e as histórias de vidas apresentadas por vezes de maneira sigilosa, outras vezes para o grupo.
Crescimento pessoal e profissional
Ao longo de um ano, foi possível perceber o ganho de autonomia de cada aluno. Os próprios participantes reconheceram o crescimento nas rodas de conversas, recurso utilizado para dar suporte e compreender e ajudar os jovens em suas relações, por vezes tão complexas.
Ao fim, 110 adolescentes e jovens foram certificados de forma exitosa. E mais do que um certificado, eles ganharam vivências por meio de festivais de música nos espaços do Pelourinho, em que também foi possível apresentarem suas produções culinárias, artesanais, e de beleza afro. Agora, aptos para o mercado de trabalho, são capazes de enfrentar os desafios e saber lidar com as adversidades nesses novos tempos de Pandemia.
O principal ponto turístico de Salvador traz hoje novas perspectivas para os adolescentes e jovens qualificados no Projeto Coligados e mostra a importância e a potencialidade da inclusão social de cenários turísticos, desde que se entendam as dimensões sociais, psicológicas e afetivas envolvidas.
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