A primeira Pesquisa Ibero-Americana de Juventude, realizada pela OIJ, com o apoio do BID e de outras organizações, apresenta um mapa surpreendente de nossos jovens urbanos entre 15 e 29 anos. O Brasil e o México juntos representam mais de 50% da população jovem da região. Foram quase 20.500 entrevistas realizadas em 18 países da América Latina, Espanha e Portugal, entre janeiro e março de 2013.
Os jovens brasileiros se destacam em muitos tópicos da pesquisa, demonstrando um perfil mais cético em relação ao futuro e, em alguns momentos, descrentes sobre as instituições que os cercam. Considerando as recentes manifestações no país por melhores condições de vida, estes dados não são uma surpresa, mas apontam tendências que podem ser utilizadas por gestores públicos no desenho e implementação de políticas.
A pesquisa demonstra que a violência e a falta de segurança é o problema que mais impacta o cotidiano dos jovens. O uso de drogas, o alcoolismo e o desemprego vem em seguida. No Brasil, mais de 50% dos jovens entrevistados já presenciou uma briga com arma de fogo ou outro tipo de arma, o maior índice de toda a região, e mais de 40% percebem que há gangues em seus bairros.
A violência em casa vem em seguida, também o maior índice da região, tendo afetado a mais de 30% dos jovens entrevistados. O quadro de violência somado à dificuldade de encontrar trabalho geram baixas expectativas. Os jovens da região em geral são otimistas, dois em cada três acreditam que estarão melhores daqui a cinco anos, mas acreditam mais em seu próprio futuro do que no futuro de seus países. Entretanto, Portugal, Guatemala e Brasil tem opiniões menos alentadoras.
Enquanto no resto da região a perspectiva de que se estará melhor daqui a cinco anos é de 75%, no Brasil, este índice é de 50%. A percepção de que se estará pior também é a maior, ultrapassando 10%. A maioria dos jovens da região – 70% – tem as mesmas opiniões dos pais em temas relacionados com a política, sexualidade e religião. No Brasil, entretanto, somente 40% concordam com os pais nesses temas.
Quando o assunto é educação, os jovens do México e do Brasil são mais críticos em relação aos professores e ao ensino de maneira geral. É unânime, porém, o reconhecimento de que o ambiente escolar é essencial para suas formações e vida social. Neste sentido, o jovem brasileiro é o que mais valoriza a escola.
Os entrevistados também são mais conservadores do que se acreditava, e nesta linha o Brasil é exceção. Enquanto a média de aprovação dos outros países sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo é de 20%; no Brasil a aprovação é de 42%. Já a legalização da maconha tem uma média de aprovação de 15% nos demais países, enquanto no Brasil o percentual é de 35%.
Embora, à primeira vista, o ceticismo geral do jovem brasileiro possa parecer negativo, ele demonstra que os nossos jovens tem um melhor entendimento sobre o contexto do país, seus direitos e deveres. E este contexto se apresenta como uma excelente oportunidade aos governantes para formular políticas que atendam diretamente os seus anseios.
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