O turismo é um dos setores da economia que vem crescendo constantemente em todo o mundo, e no Brasil o turismo não quer ficar para trás! O peso da atividade na economia nacional ainda não atingiu seu pleno potencial, principalmente considerando que segundo ranking de competitividade elaborado pelo World Economic Forum o país se posiciona em primeiro lugar no mundo por seus atrativos naturais e em oitavo, pela riqueza cultural.
Os quase seis milhões de visitantes internacionais recebidos anualmente são apenas uma pequena indicação de que há um grande potencial de crescimento e de diversificação da economia por meio do turismo, com a geração de emprego e renda produzidos pelo setor. Mas, como e o que fazer para direcionar esse crescimento em um “bom” caminho? O que seria adequado e de que forma o Brasil pode fortalecer o setor turístico, sem deixar de considerar o tripé da sustentabilidade: econômica, social e ambiental? Quais oportunidades não podem ser perdidas? Onde está a urgência de encontrar o bom caminho?
Para discutir sobre essas e outras questões, o BID realizou em São Paulo, entre os dias 13 e 14 de agosto de 2019, um encontro inédito entre representantes de Secretarias de Turismo e do Ministério do Turismo, além de executores de programas de turismo financiados pelo Banco e representantes de outras instituições financeiras. A “Jornada BID para o Turismo – Caminhos para o futuro do turismo brasileiro”, ofereceu a oportunidade para uma grande troca de experiências entre os participantes, com sessões sobre temas inovadores e relevantes para o setor, em que tiveram a chance de discutir alternativas e articular suas visões para o futuro do setor em suas regiões de atuação.
Para o BID, que vem apoiando, há mais de três décadas o governo do Brasil a executar programas estratégicos para o desenvolvimento do turismo sustentável, foi uma oportunidade ímpar para capturar os desafios atuais, e que sinais são necessários prestar atenção ao longo do caminho para maximizar os acertos e os ganhos.
Em primeiro lugar, ficou claro que há a necessidade de entender e direcionar o impacto que as novas tecnologias e plataformas colaborativas disponíveis exercem sobre a atividade turística nos principais destinos do país e como podem apoiar a gestão dos destinos. As novas tecnologias podem ser um forte aliado no entendimento do comportamento dos visitantes, e daí, direcionar fluxos, avaliar mercados, monitorar impactos socioeconômicos e ambientais, criar produtos com diferencial, e reduzir gastos associados à distribuição do produto turístico. Ao mesmo tempo, as novas plataformas digitais estão levando a uma ruptura na governança turística tradicional, incrementando o poder de influência dos consumidores e gerando novas relações de competitividade nos destinos. Nesse sentido, apoiar a provisão de infraestrutura de conectividade digital nos destinos é crítica, além de capacitar os entes públicos na regulamentação das tecnologias digitais no setor.
Outro desafio está relacionado ao clima. Falar em desenvolvimento turístico sem considerar os efeitos da mudança climática é um risco significativo, principalmente para países como o Brasil, onde a riqueza natural, que se constitui no seu principal atrativo, está ameaçada pela vulnerabilidade de seus ecossistemas costeiros ao aumento do nível do mar, à poluição, e à pressão populacional em torno de áreas protegidas. Aumentar a conectividade e acessibilidade a destinos turísticos sem levar em conta o nível de emissões de gás carbônico é, de certa forma, ignorar os custos sociais futuros. Da mesma forma, planejar o desenvolvimento turístico, evitando a massificação e a depredação dos seus valores naturais e culturais, é também um cuidado necessário, principalmente quando há casos, não raros, em que se atropela o crescimento de destinos não preparados para receber um fluxo maior de turistas pela ausência de ferramentas básicas de ordenamento territorial e de infraestrutura básica.
E como fica o mercado de trabalho no Brasil quando se vislumbram caminhos para o futuro do setor? Um outro desafio não insignificante, quando a desigualdade social existente é responsável por uma enorme distância educacional e vivencial entre o empregado e o turista; quando há um nível de informalidade alto, além de um elevado grau de exclusão social. Como diminuir as carências de uma mão de obra qualificada para atender um visitante cada vez mais exigente? Melhorar a formação e implantação de práticas trabalhistas no setor que levem a uma melhora do clima e de condições para o empreendimento local e a empregabilidade de novos grupos sociais são caminhos apontados como importantes para se seguir de imediato.
E, por fim, há, de uma maneira generalizada, uma estagnação de ideias e novas propostas para governar o setor, faltando uma visão integrada e mais alinhada com uma realidade que mudou tanto nos anos recentes. A ausência de coordenação entre os responsáveis pela condução de programas, planos e políticas públicas do setor turístico e outros setores, incluindo o setor privado, não tem levado o país a um marco de governança coeso e articulado com áreas de atuação pública que escapam a esfera meramente turística (como infraestrutura, segurança e meio ambiente). A consequência para o Brasil é que se perdem oportunidades de aumentar a competitividade do setor em relação à América Latina e ao restante do mundo. Aqui o sinal mais urgente é assegurar uma participação mais efetiva e a cooperação de todos os agentes relevantes do setor público, privado e sociedade civil implicados no desenvolvimento do setor. Há um esforço de comunicação e interlocução público-privada que não pode ser ignorado.
Com estes desafios e possíveis caminhos apontados pelos mais de 70 participantes, o Banco encerrou este evento, disposto e pronto a seguir apoiando o Brasil no desenvolvimento de um setor de turismo mais forte, inovador, inclusivo e sustentável.
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