Muitas são as políticas públicas e normas que visam a garantir acesso físico aos espaços por todas as pessoas. Um dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, os famosos ODS, fala especificamente sobre isso: reduzir as desigualdades, o que envolve desde a promoção de oportunidades justas de trabalho para todos até a criação de estruturas físicas que facilitem e garantam essa igualdade e equidade. Essa preocupação por acessibilidade não poderia deixar de estar presente também no setor de turismo. As viagens têm se popularizado muito nas últimas décadas – todos queremos viajar e cada vez mais gente consegue fazê-lo. Apesar disso, nem todos os destinos e estabelecimentos turísticos estão preparados para atender à ampla variedade de públicos e suas necessidades. A acessibilidade é uma pauta relevante quando se pensa em inclusão no setor de turismo e é justamente esse o tema do terceiro episódio da segunda temporada de Caminhos para o Turismo.
Os convidados Ricardo Shimosakai, especialista em acessibilidade, inclusão e turismo, e Sergio Franco, fundador da Rede dos Sonhos de hotéis, referência em acessibilidade, trouxeram diferentes perspectivas sobre turismo acessível em uma conversa de tom bastante otimista, mostrando que acessibilidade não é só uma questão de cumprir a legislação ou de ser inclusivo, mas pode também abrir novos nichos de mercado e gerar ainda mais negócios.
Destacamos aqui algumas das experiências e perspectivas que Ricardo e Sérgio compartilharam no episódio. A conversa completa está disponível em nosso canal no Soundcloud.
Entendendo a variedade de públicos
Muitas vezes a pessoa com deficiência ainda é vista desde uma perspectiva capacitista, acha-se que se trata de uma pessoa menos capaz. É importante mudar o paradigma ao se olhar para o publico com deficiência, entendendo tanto suas diferentes necessidades como também sua variedade – não é toda necessidade que demanda o mesmo tipo de adequação física nos espaços turísticos, por exemplo. Observar a ampla variedade de pessoas que formam a sociedade e suas diferentes necessidades – incluindo pessoas com deficiências motoras, com mobilidade reduzida, com deficiências visuais, entre tantas outras – é essencial ao se planejar também a configuração dos espaços turísticos.
A acessibilidade é pauta em ascensão
Ainda que haja caminhos a serem trilhados para que os espaços sejam mais acessíveis – em geral, não só no turismo, o tema vem ganhando destaque nos últimos anos e pode-se dizer que se evoluiu muito nas últimas décadas. Trazer o assunto à tona e discuti-lo, sem cortinas, é um passo importante para naturalizá-lo e fazer com que a sociedade trate de forma mais equânime as pessoas com deficiência. Isso não deixa de ser um ponto relevante também para o turismo: ver a pessoa com deficiência representada nos destinos – seja por meio de peças de promoção turística, seja por ações de adequação física em espaços turísticos que permitam atender ao público com deficiência – apoia esse processo de “naturalizar” as deficiências, sem subestimá-las ou superestimá-las, mas compreendendo-as.
Mais do que inclusão: acessibilidade também pode representar lucro
Muitos empreendedores se assustam ao contabilizar os custos necessários para a adaptação física de espaços ou sua construção pensando no atendimento de uma ampla gama de públicos, incluindo as pessoas com deficiência. Contudo, é necessário cautela e colocar os custos “na ponta do lápis”: muitas vezes a adaptação não é mais cara e pode gerar taxas de retorno mais altas. Além de atender ao que indica a legislação nacional sobre o tema, essa adaptação pode gerar mídia espontânea, diferenciais competitivos e até mesmo agradar a públicos antes não pensados como os que mais usufruiriam das adaptações – como pode ser o caso de gestantes, crianças e idosos, apenas para citar alguns exemplos.
Criatividade, sem esquecer das normas e do público
Há manuais e normas claras sobre como os espaços – incluindo os turísticos – devem estar adaptados para atender às pessoas com deficiência. Ainda assim, elas dão espaço para a criatividade do empreendedor, que pode ousar e criar novos produtos pensando especificamente nesses públicos, usualmente deixados de lado nas estratégias de negócios. No campo do turismo de lazer, Socorro (SP) e a Rede dos Sonhos de hotéis se destacaram com atrativos acessíveis, tirolesas adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida, passeios de cavalo adaptados para cadeirantes, atividades de aventura na água para pessoas com mobilidade reduzida, entre muitas outras adaptações. Testar opções e olhar para os detalhes, sempre considerando a perspectiva do visitante, pode atrair mais negócios e melhorar a experiência dos que viajam – sejam eles pessoas com deficiência ou não.
Não deixem de conferir os links abaixo para saber mais sobre o trabalho da Rede dos Sonhos e do Ricardo Shimosakai:
Site oficial da Rede dos Sonhos
Canal do Youtube de Ricardo Shimosakai
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