Você com certeza já ouviu ou leu sobre inteligência artificial generativa, machine learning, NFT’s, blockchain e as várias tecnologias que estão surgindo na nossa sociedade com uma rapidez impressionante. Podemos não saber de fato qual a próxima tecnologia que irá surgir, mas o que já podemos ver é que a demanda por profissionais dessa área cresce de maneira exponencial. Em 2021, o Brasil possuía quase um milhão e trezentos mil profissionais trabalhando no setor de tecnologia, um aumento de 14% comparado ao ano anterior. Mas esse número não atende à demanda do mercado, e o que se espera para 2025 é um déficit de mais de meio milhão profissionais de tecnologia no Brasil, ou seja, teremos muito mais vagas que pessoas qualificadas para as preencher. E as lacunas não param por aí.
Quando se trata de diversidade na tecnologia, o setor ainda está no mundo analógico. Uma pesquisa da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) divulgada em 2022, mostra que a presença de mulheres e afrodescendentes está longe da representatividade dessas pessoas na sociedade brasileira. Enquanto a proporção de brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos no país é de 56%, no setor de tecnologia eles são apenas 34,9%. Quando temos um recorte de gênero, as mulheres, que correspondem a 51% da população nacional, só ocupam 20% das vagas. Agora, se juntamos os recortes de gênero e raça, os dados são ainda mais alarmantes. As mulheres negras ocupam somente 11% das vagas no setor de tecnologia enquanto na sociedade elas são 28% da população brasileira .
E por que diversidade importa no setor de tecnologia?
Primeiro, porque ela importa em todos os setores da sociedade, uma vez que somos diversos. Segundo, porque com diversidade e inclusão, ganhamos como sociedade. Em um estudo realizado sobre os Estados Unidos, comprovou-se que se o país não tivesse reduzido os diferentes obstáculos enfrentados por negros e mulheres desde a década de 1960, o crescimento do PIB per capita teria sido de 20 a 40% menor no mesmo período.
Além disso, as tecnologias são desenvolvidas através de programações e algoritmos, que no final do dia são desenvolvidos por humanos. Vamos pegar a inteligência artificial como exemplo. Com o surgimento da IA generativa, estamos caminhando para grandes transformações na forma como trabalhamos. Quem nunca usou ChatGPT para responder a um email? Entretanto, o “milagre” que vemos surgir depois dos nossos prompts nada mais é do que uma organização de dados imputados e esses dados podem ser racistas, sexistas e falhos. Quer um exemplo? Um estudo publicado pela Universidade de Cornell concluiu que um robô treinado por IA tinha maior probabilidade de associar homens negros a criminosos e mulheres a trabalhos domésticos.
E como reprogramar esses dados e algoritmos?
Uma iniciativa brasileira tem dado uma resposta a essa pergunta. A {reprograma} é uma iniciativa de impacto social que tem como missão diminuir a lacuna de gênero e raça no setor de tecnologia por meio da educação e trazer mais diversidade ao setor, capacitando mulheres em situações de vulnerabilidade, priorizando em seus processos seletivos negras e/ou trans e travestis. Com financiamento do BID Lab, o laboratório de inovação do Grupo BID, e apoio de cinco grandes empresas – Accenture, Creditas, iFood, Meta e Nu Bank, a {reprograma} criou o Todas em Tech.
Desenvolvida por mulheres para mulheres que desejam usar a tecnologia para mudar vidas e criar impacto positivo no mundo, o Todas em Tech teve como objetivo pilotar um bootcamp de programação online de alto impacto para mulheres, especialmente mulheres negras e/ou trans e travestis que não tinham recursos e/ou oportunidades para aprender a programar.
O projeto, no entanto, foi além da formação técnica, trabalhando também o comportamental das alunas por meio de programas de mentoria e orientação profissional, apoiando a recolocação no mercado de trabalho, criando redes de apoio – fundamentais para a permanência das mulheres na área de TI – e desenvolvendo ferramentas para a contratação online por potenciais empregadores. Além disso, ao transformar o bootcamp de presencial para digital, a organização ampliou seu alcance geográfico, atingindo um número maior de mulheres vulneráveis em todo o Brasil.
Os resultados dessa iniciativa são animadores:
- Mais de 1500 mulheres tiveram um primeiro contato com a programação por meio do programa
- 354 formadas, sendo 11% mulheres trans ou travestis e 70% afrodescendentes
- Mais de 60% empregadas após a formatura, sendo mais de 40% no setor de TI
Outro dado relevante é que a maioria das que passaram pelo programa seguiram os estudos depois, o que demonstra o impacto de longo prazo da iniciativa.
Em 2022, a {reprograma} venceu o Prêmio Diversidade, Equidade e Inclusão do Grupo BID. Veja como foi a cerimônia de premiação.
Relembre o painel sobre desenvolvimento, com a {reprograma}, realizado durante as Assembleias de Governadores do BID e do BID Invest 2024.
Nessa live realizada em 2022, você pode saber mais sobre como foi o trabalho no Todas em Tech.
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