Fernando Rossetti*
Em meados de abril, em um evento internacional sobre a Primeira Infância, a jornalista internacional Femi Oke abriu a moderação dizendo que esse tema está “na crista da onda”. Que bom, porque trabalhamos ativamente para que a Primeira Infância seja foco de políticas públicas prioritárias, e esteja sempre na agenda como tema relevante para o nosso país.
Nosso maior desafio tem sido o de comunicar à sociedade como essa etapa da vida pode definir o futuro das pessoas e de toda uma nação, usando como argumentação os achados científicos dos últimos anos, especialmente da Neurociência.
As famílias precisam entender quais cuidados e olhares devem mudar na gestação, no nascimento e nos seis primeiros anos, para que seus filhos tenham a chance de um futuro mais promissor e, consequentemente, a sociedade também.
A Ciência já tem respostas. Tudo começa na formação do cérebro humano que, só nos dois primeiros anos de vida, realiza cerca de 700 conexões neurais a cada segundo. Esse processo vai se configurando também com base nos estímulos externos que o feto, e depois o bebê, recebe de seus cuidadores. Entornos seguros, com fortes vínculos amorosos, e estimulantes fazem toda a diferença no desenvolvimento da criança afetando a sua vida adulta. Ou seja: o vínculo ou apego é essencial, porque ajuda a criança, entre tantos benefícios, a desenvolver competências cognitivas e sociais, a identificar suas emoções ao interagir com seu meio e a ter menos propensão a problemas de internalização e exteriorização.
Uma pesquisa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) e do IBOPE, de 2012, mostrou que a sociedade brasileira ainda não adquiriu esse pleno entendimento. Dos entrevistados, só 22% acharam que a criança começa a aprender no útero. Apenas 12% consideraram prioritário ela receber carinho e afeto. Outros poucos 19% ressaltaram ser de extrema importância brincar e passear com os pequenos.
Para mudar esse olhar, e com o objetivo de levar conhecimento para a sociedade, uma iniciativa da FMCSV em parceria com o Instituto Alana, a Fundação Bernard Van Leer e o Unicef é o lançamento do documentário “O começo da vida”, que estreia hoje, 5 de maio nos cinemas.
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O filme, uma produção sensível e única, dirigida por Estela Renner mostra os desafios de famílias brasileiras e de oito países de diferentes culturas, gêneros e níveis socioeconômico na criação de seus filhos.
As vivências são intercaladas pela fala de especialistas renomados, como a psicanalista Vera Iaconelli, o Dr. James Heckman, Prêmio Nobel de Economia, e o Dr. Jack Shonkoff, do Center on The Developing Child, de Harvard, trazendo ao cotidiano familiar a referência científica sobre o olhar cuidadoso para a importância dos primeiros anos.
“O Começo da Vida convida todos a refletir como sociedade: estamos tomando cuidado desse momento único, que define tanto o presente quanto o futuro da humanidade? ”
*Fernando Rossetti é sócio da empresa de consultoria GIP (Gestão de Interesse Público), formado em Ciências Sociais pela Unicamp (1987), com especialização Human Rights Advocates Training Program pela Columbia University (1997). É vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Maria Cecilia De Souto Vidigal.
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