Martín Quiroga Barrera Oro*
Muitos de nós somos considerados a geração do milênio, mas não geeks (fãs de tecnologia). Na verdade nós às vezes nem gostamos de videogames. Entretanto, o Pokémon Go deslumbra pela maneira como influencia na conduta humana e impacta seus padrões de mobilidade. Apresentando-se como uma solução ao sedentarismo, poderíamos vislumbrar uma grande oportunidade para o desenvolvimento econômico. É possível marcar a rota dos jogadores, assim descomprimiríamos o fluxo de pedestres nas horas de pico, posicionando Pokémons em áreas tradicionalmente não concorridas, mas o que mais poderíamos fazer?
Mais segurança com Pokémons
Muitos cidadãos temem andar por alguns lugares à noite. Melhor iluminação pública ou mais policiamento não diminuiriam o medo de assaltos. O que aconteceria se além da polícia, houvesse Pokémons? É esperado que os fãs aparecessem nestes bairros, gerando mais movimento e animando seus moradores a voltarem às ruas.
No dia 16 de julho centenas de pessoas assistiram no Central Park à noite – inclusive alguns viajaram até Nova York – para capturar a Vaporeon. Sendo vetores em um eixo espaço-tempo, estas criaturas mobilizam as pessoas em uma direção e sentido determinado. Apesar da sua intangibilidade, os Pokémons operam simbolicamente ao reportar status entre os jogadores, constituindo incentivos para que os geeks se desloquem entre certas áreas.
Academias para revitalizar bairros
Estes bens “móveis” se somam os bens “fixos” como as academias. O que aconteceria se estes espaços virtuais fossem localizados em zonas abandonadas? Esperaríamos que a mera participação recuperasse estas áreas. Se antes eram necessários extensos planejamentos e processos para convencer o setor privado de investir, o novo fluxo de pessoas não traria dúvidas que a maior cadeia de café abrisse uma loja no local, gerando uma transferência de valor virtual para o real.
PokeStops: a rota turística
Estes bens intangíveis “móveis” e “fixos” poderiam ser usados em maior escala. Se muitos viajaram para a Big Apple (Grande Maçã), o que aconteceria se alguns Pokémons apenas habitassem em certas latitudes? Acredito que seria uma oportunidade para que cidades tradicionalmente não turísticas provocassem os novos viajantes a visitarem seus PokeStops e capturarem ali estas criaturas.
As novas tecnologias estariam redefinindo a territorialidade, que começou com experiências participativas como hackatons de programação e mapeamento comunitário. Mediante as análises de dados georreferenciados, as pessoas foram cobrando maior apropriação do espaço. Se até aqui os cidadãos agem sobre seu entorno, a realidade aumentada gera um fenômeno possivelmente oposto: o território aflora para operar sobre o sujeito. Ao gerar um mecanismo de incentivos que altera os padrões de deslocamento, Pokémon Go é parte desta reconfiguração.
Com limites cada vez mais difundidos, Nintendo está integrando as dimensões virtual e “real”, impactando assim nos processos de planejamento. Esta mistura representa oportunidades como recuperar a apropriação do espaço público e atrair mais vida às ruas. A capacidade de gerar valor e capturar mais-valia poderia impulsionar as áreas, gerar novas atividades econômicas e incrementar a arrecadação fiscal. Talvez o mais atrativo fosse seu custo (econômico e político), praticamente nulo: se a localização de um bem não fosse efetiva, sua virtualidade permitiria revertê-la facilmente.
Entretanto, a situação das telecomunicações poderia comprometer este potencial. Na América Latina existem 700 milhões de linhas telefônicas, mas apenas 28,6% são smartphones e pouco mais da metade usam internet 2G. Resta ainda implementar políticas inclinadas para a inclusão digital e uma conexão de melhor qualidade. Além disso, os acidentes sofridos por algumas pessoas sugerem a necessidade de regulações para jogar de forma segura.
Seu potencial e a necessidade de regulações deixariam claro apenas uma coisa: tem chegado o momento em que planejadores urbanos e programadores trabalhem em conjunto para gerir efetivamente estas duas convergentes realidades em que nós cidadãos estamos vivendo.
Post publicado em espanhol no blog do BID, Kreatópolis
*Martín Quiroga Barrera Oro é consultor da Divisão de Habitação e Desenvolvimento Urbano do BID. Anteriormente, trabalhou em temas de monitoramento e avaliação na Organização dos Estados Americanos (OEA) e na saúde pública no Programa SUMAR, financiado pelo Banco Mundial na Argentina.
Leave a Reply