A gênio do marketing político Olivia Pope (personagem de Kerry Washington em Scandal e o confiante e bem sucedido advogado Harvey Specter, interpretado por Gabriel Macht na serie Suits). As imagens são uma cortesia de ABS.GO.COM (esquerda) e USA Network (direita)
Luana Ozemela*
Estudo recente da Harvard Business School mostra que homens atraentes têm maior probabilidade de convencerem investidores a apoiarem suas propostas de negócios, embora homens em geral, bonitos ou não, costumem sair-se melhor que as mulheres na hora de obter financiamento.
Não é de se estranhar então que o porcentual de empresas lideradas por mulheres com investimento privado na América Latina e Caribe seja tão baixo em comparação aos empreendimentos liderados por homens, de acordo com relatório recente do Fundo de Investimento Multilateral (Fomin).
E como foi que a Harvard Business Review chegou a essa conclusão? O estudo examinou apresentações reais de empresas também reais. Eles observaram ao longo de três anos apresentações de companhias para um painel de juízes “investidores-anjo”. E concluíram que empreendedores do sexo masculino tinham 60% mais chances de obter sucesso que as mulheres.
E mais: no caso das homens, a atratividade correspondeu a 24% do sucesso das apresentações. Já para as mulheres, porém, a beleza não resultou em sucesso.
Os pesquisadores promoveram então experimentos em laboratório para controlar distinções nos estilos de apresentações baseadas em gênero: (por exemplo, postura e tamanho corporais). Os participantes ouviram apresentações de startups reais, mas sem ver os empreendedores. Os resultados mostraram que apesar de as vozes femininas e masculinas terem feito apresentações idênticas, 68,3% dos participantes escolheram financiar empreendimentos promovidos por vozes masculinas – apenas 31,7% optaram pelas mulheres.
Beleza e neurônios: uma desvantagem feminina?
Mais tarde, os pesquisadores mostraram, simultaneamente com as vozes, fotos com pessoas com graus variados de atratividade – tais fotos já tinham sido pré-testadas com um outro grupo de indivíduos. Notou-se, então, que os participantes mostraram-se muito mais inclinados a investir nos projetos promovidos pelas fotos dos homens altamente atraentes. Mas, surpreendentemente, o segmento que saiu-se pior foi o das mulheres empreendedoras extremamente atraentes. Será que a bela Olivia Pope (personagem de Kerry Washington na série americana Scandal) teria alguma chance de superar o lindo Harvey Specter (interpretado por Gabriel Macht na também americana Suits)?
Por que o déficit no financiamento para as mulheres?
Ouvi diversas hipóteses sobre a persistência no déficit de financiamento: alguns dizem que, em primeiro lugar, as mulheres provavelmente são menos encorajadas a procurar financiamento privado – e que podem demonstrar menos confiança quando promovem suas ideias. Outros acreditam que as mulheres podem estar muito focadas em setores que oferecem retornos menores ou, talvez, que as ideias delas não sejam tão boas quanto as dos homens.
De acordo com um estudo recente do Fomin, as mulheres da América Latina e Caribe costumam ter menos empregados, menores projeções de crescimento e níveis de internacionalização. Por outro lado, pesquisa recente que utilizou dados de um período de 15 anos de 1.500 firmas da Standard & Poor’s Financial Services sugere que gerentes do sexo feminino melhoram o desempenho geral das companhias.
Outra teoria sustenta que companhias conduzidas por homens ou mulheres tendem a focar em diferentes tipos de oportunidades de mercado, com diferentes níveis de crescimento – os homens tendem a buscar empreendimentos em segmentos variados da indústria, enquanto as mulheres costumam empreender em setores como moda, beleza e culinária.
Os resultados do estudo da Harvard, contudo, documentam que os investidores valorizam mais os projetos de empreendedorismo apresentados por homens que propostas idênticas apresentadas por mulheres. Alguns diriam que a discriminação de gênero é uma escolha racional de um investidor que deseja reduzir a probabilidade de fazer um investimento de baixo retorno. Eu ouso discordar.
E o futuro?
Em primeiro lugar, os investidores devem desafiar tais suposições. Depois, devem fazer um exame de consciência ou subconsciência sobre gêneros ou atratividade na hora de decidir onde investir. Caso contrário, empreendimentos femininos promissores continuarão sem financiamento e nossas economias seguirão sem contar com esses talentos.
* Luana Ozemela é especialista em gênero e desenvolvimento social do BID
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