Túlio Cravo e Rodrigo Quintana*
Em 2012, surgiu em Gangnam, distrito próspero de Seul, na Coreia do Sul, a canção Gangnam style que viajou pelo mundo à velocidade da Internet coreana e alcançou mais de dois bilhões de visualizações no Youtube em apenas dois anos. Ipanema, bairro elegante do Rio, inspirou em 1962 a famosa Garota de Ipanema. Apesar 50 anos mais antigo, foi visto não mais de 15 milhões de vezes no Youtube em sete anos.
Assim como os hits, os sistemas de informação dos serviços de intermediação de oportunidades de trabalho da Coreia do Sul e do Brasil seguiram trajetórias distintas.
Ritmos diferentes, canções diferentes
O WorkNet, site de intermediação de trabalho da Coreia do Sul, fundado em 1998, passou de uma janela única de classificados de emprego a um portal com serviços completos. O Portal Mais Emprego, equivalente brasileiro, foi construído em 2002 para facilitar a intermediação presencial.
Porém, as plataformas trilharam caminhos diferentes. Em 17 anos, o WorkNet passou de contar com 80 atendentes a 5.000 funcionários em 2016. A rede evoluiu para aproximar trabalhadores e empregadores utilizando estações de auto intermediação e aplicativos para smarthphones, reduzindo filas. Também automatizou a atualização das bases de dados em tempo real.
Já o portal Mais Emprego evoluiu lentamente para um sistema que reúne com frequências distintas, informações de diferentes bases de dados. Sua conectividade pode ser instável e às vezes requer preenchimento de dados manualmente. As filas são regra nos postos de atendimento e o número de serviços prestados tem estado constante nos últimos três anos.
Matching com a batida de um baterista diferente
A correspondência entre empregadores e trabalhadores no Brasil é feita por meio do título de ocupação, experiência e escolaridade. Para melhorar a probabilidade de sucesso, a Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) iniciou em 2002 o refinamento de 600 famílias ocupacionais (e.g. cozinheiros) em 2.600 ocupações (cozinheiros domésticos, cozinheiros industriais, cozinheiros de hospitais). De 2000 a 2015 foram traduzidos os títulos de várias profissões em atividades, competências e requisitos de formação específicos.
Na Coreia, o processo de correspondência funciona de forma diferente e o sistema de intermediação é baseado nos Padrões Nacionais de Competência (NCS). O NCS descreve as competências necessárias para desempenhar funções no local de trabalho e utiliza estas competências para buscar os perfis mais qualificados. A definição das competências servem de base para orientar os serviços de formação profissional, qualificação e desenvolvimento de carreiras.
O sistema de intermediação também conta com o apoio de uma base de dados de qualificação única (HRD-Net) que aloja o histórico de treinamento e de experiência dos candidatos. A combinação do NCS e do perfil histórico dos trabalhadores cruzado com indicadores do mercado de trabalho permitem uma assistência personalizada, com orientações para a busca de empregos, ganhos potenciais e o tipo de vagas que perfis semelhantes se candidatam.
Já no SIG brasileiro, a transição de um sistema off-line privado – Datamec – para um serviço online público – Dataprev, provou ser um desafio. Foi necessário migrar todas as informações de bancos de dados incompatíveis (cadastro de trabalho, Seguro-Desemprego, benefícios de demissão) hospedados por diferentes clientes para um ambiente único. Após o desafio de compatibilizar as bases, ainda é necessário aprimorar a arquitetura do SIG e adotar a tecnologia mais adequada para criar uma interface para o usuário final em uma solução web.
Tanto para a Coréia, quanto para o Brasil, é claro que a tecnologia terá de orientar o desenvolvimento da intermediação de mão de obra com base no desenvolvimento detalhado das habilidades, independentemente do estágio tecnológico de cada sistema.
*Tulio Cravo é especialista em Mercado de Trabalho no Banco Interamericano de Desenvolviment
*Rodrigo Quintana é Consultor em Mercado de Trabalho no Banco Interamericano de Desenvolvimento
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