Já está na hora de reabrir o comércio? Os clientes reaparecerão? Qual a idade para uma pessoa ser considerada como parte do grupo de risco: a partir dos 60 ou 65 anos?
Apesar de muitas dessas perguntas ainda não terem respostas, temos uma vantagem: o início da pandemia, o pico de contágios e a reabertura, por aqui, estão se dando depois de que Ásia e Europa já passaram por essas etapas, o que permite aprender de seus erros e acertos.
Para compilar essas lições, lançamos a publicação “Do confinamento à reabertura: considerações estratégicas para a retomada das atividades na América Latina e no Caribe no contexto da COVID-19”.
Apesar das limitações do conhecimento disponível até o momento, a publicação espera servir de guia, para governos e sociedade civil organizada, pautarem ações baseadas em evidências e melhores práticas. Veja alguns destaques:
O que deu certo nos países que já reabriram a economia
Apesar de cada país ter implementado estratégias distintas, elementos em comum surgem dentre aqueles que já avançaram na reabertura da economia. Alguns exemplos são:
- Uso de testes em grande escala: este ponto é fundamental para o controle do andamento da pandemia e a identificação rápida de possíveis novas ondas. Os testes também podem ser úteis para determinar quem já conta com mais probabilidade de ter imunidade em relação à doença;
- Monitoramento de contatos: em caso de contágios é importante dispor de uma base de dados que localize, avise e isole quem esteve no mesmo ambiente da pessoa doente. A Coreia do Sul, exemplo citado na publicação, cruzou essas informações por meio de aplicativos no celular;
- Alerta constante: a reabertura exige controle minucioso dos dados epidemiológicos e agilidade para, se preciso, voltar a restringir a circulação de pessoas em determinadas áreas ou o funcionamento de certos setores econômicos; a comunicação clara e eficiente com a população é fundamental;
- Restrição de viagens e quarentenas para viajantes: Singapura viu uma segunda onda de contágios devido a chegada de trabalhadores do exterior. O episódio mostra a importância de restringir deslocamentos não só internacionais, mas entre regiões com diferentes estágios epidemiológicos, ou a necessidade de impor quarentena, com isolamento, para quem chega de viagem;
- Proteção e distanciamento: com a reabertura de algumas atividades, será preciso reforçar medidas de higiene, proteção e espaçamento entre as pessoas.
A publicação também analisa as condições em comum entre os países desenvolvidos que iniciaram processo de reabertura.
Condições observadas nos países desenvolvidos que iniciaram reabertura
- Redução sustentada, durante dias seguidos, de casos confirmados de COVID-19;
- Leitos de UTI disponíveis;
- Máscaras, higienizadores, respiradores e outros recursos em quantidade suficiente;
- Capacidade de testes em massa.
E por aqui, é hora de reabrir? Argumentos pró e contra
Por um lado, estender a quarentena tem custos econômicos impactantes; mas reabrir sem meios para enfrentar a doença pode custar vidas.
Por isso, além dos aprendizados oriundos de outras regiões, o documento também analisa vantagens e déficits da região no combate à pandemia e relaciona pontos para os quais ainda não há consenso.
Diante de uma pandemia inédita, a publicação deixa claro que não é possível estabelecer “certo” ou “errado”, o que exigirá dos governos capacidade de idas e recuos e clareza na comunicação desses movimentos.
Pontos que pesam a favor da reabertura da economia
- A proporção de idosos (maior que 65 anos) na América Latina e no Caribe, 9%, é a metade dos países desenvolvidos (18,4%). O Brasil se aproxima da média latino-americana. Essa estrutura demográfica reduz o custo da suspensão da quarentena, em termos de risco de perda de vidas, em comparação com os países mais desenvolvidos;
- A média da região, de 9,6%, de crianças e idosos sob o mesmo teto inspira cuidados na reabertura da economia– jovens saudáveis podem trazer a doença para casa e colocar a saúde de idosos em risco. Mas o Brasil tem uma vantagem nesse quesito: na comparação com 15 países, estamos atrás apenas do Uruguai (4,4%), com menor proporção de menores de 14 anos morando em lares com pessoas maiores de 60 anos (5,1%);
- Os países da região têm menor capacidade financeira para subsidiar emprego e renda dos cidadãos.
Pontos que pesam contra a reabertura da economia
- Apesar de ter menos idosos, a região tem maior prevalência de doenças crônicas como diabetes: são mais de 10% da população com a condição no Brasil, número próximo à média da América Latina e Caribe, contra 6% na média da OCDE;
- A região tem menos testes diagnósticos do que os países desenvolvidos;
- Há mais gente morando em cada casa – e uma pessoa que sai para trabalhar pode, assim, contaminar mais gente ao retornar. São 3,4 pessoas por domicílio no Brasil, abaixo da média de 4,1 na América Latina, mas acima dos 2,5 vistos na OCDE.
Leave a Reply