Se bem as marcas deixadas pela COVID-19 sejam profundas em todos os setores (o mercado estima em 4,36% a queda do PIB brasileiro em 2020), alguns segmentos têm sido especialmente afetados. Segundo o IBGE, das 522,7 mil empresas fechadas na primeira quinzena de junho no país devido à pandemia, 99,2% eram de pequeno porte.
Trata-se de um setor imprescindível para a economia e para o emprego: as Micro Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) são responsáveis por 58% dos postos de trabalho formais e por 44% da massa salarial formal brasileira. Além disso, por terem estruturas mais enxutas e, em geral, menos reservas, são empresas que, sozinhas, devem ter mais dificuldade para se recuperar da crise.
Por todas essas características, o socorro às MPMEs foi elencado como um dos pilares da atuação do Grupo BID durante a pandemia no país. Com o objetivo de apoiar essas empresas, foram mobilizados entre aprovações internas e desembolsos US$ 1,88 bilhões, o equivalente a quase R$ 10 bilhões.
Entenda o que há por trás dessa estratégia:
Apoio a MPMEs é estratégia de curto e médio prazos
Além do montante expressivo projetado para acudir um setor que representa mais de 99,5% do número total de empresas brasileiras, apoio do BID às MPMES é estratégico pelos efeitos no curto, no médio e no longo prazo.
No curto prazo, porque, ao tentar evitar que mais empresas fechem as portas, preservam-se emprego e renda para parcelas expressivas da população.
E nos longo e médio prazos, por preservar a capacidade produtiva do país e, assim, viabilizar uma saída mais rápida da crise.
Explica-se: apesar dos avanços nos últimos anos, fechar e abrir uma empresa no Brasil ainda custa tempo e dinheiro. Em outras palavras, uma firma obrigada a fechar as portas agora por não ter fôlego nem apoio financeiro para sobreviver a este período turbulento, mas com potencial para gerar lucro, emprego e produção no pós-pandemia, representa um desperdício para o país e para a sociedade. São tempo e dinheiro gastos com os procedimentos de fechamento e reabertura que o país não deveria se permitir jogar fora.
E mais: há o risco de que essa empresa não encontre crédito, fôlego ou força para reabrir no pós-pandemia.
Situações como essa em escala colocariam em risco a retomada do crescimento e afetariam a competitividade e a produtividade nacional – sem contar os danos socioeconômicos em cascata gerados pelo desemprego e queda de arrecadação.
Ação coordenada
Para evitar esse dominó de efeitos indesejados no curto e no médio prazo, a oferta de crédito em meio à pandemia, como materializado pelas operações conduzidas pelo braço público (BID) e pelo braço privado (BID Invest) do Grupo, é uma medida necessária. Nesse sentido, destacam-se operações como:
- Desembolso de uma operação e aprovação de outra, totalizando US$ 1,50 bilhão para o BNDES conceder empréstimo a micro, pequenas e médias empresas;
- Aprovação de US$ 200 milhões para ampliar as garantias do Fundo Garantidor de Investimento (FGI) e permitir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) operasse o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (PEAC);
- Empréstimo de US$ 30 milhões para empresas capixabas por meio do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (BANDES), com um enfoque especial em empresas lideradas por mulheres;
- Aprovação de US$ 50 milhões para o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) apoiar as empresas da região
- Compra, por meio do BID Invest, de R$ 525 milhões em títulos sociais do Banco ABC, utilizado para financiar médias empresas impactadas pela COVID-19;
- Compra, por meio do BID Invest, de US$ 50 milhões em títulos sustentáveis do Banco de Desenvolvimento do Minas Gerais (BDMG), contemplando inclusive recursos para pequenas e médias empresas mineiras.
Em um país heterogêneo e continental como o Brasil, remar contra a onda recessiva e manter girando a roda da economia exige a coordenação de esforços múltiplos. Por isso, nossas ações foram concatenadas com as de parceiros como o BNDES, o Bandes e o BRDE, instituições que integram o Sistema Nacional de Fomento (SNF). Para nós, a longa trajetória de relacionamento com MPMEs que esses parceiros oferecem constitui expertise considerável para a inclusão financeira do segmento, inclusive em função das particularidades regionais.
Rota para o futuro
Enquanto a pandemia ainda persiste e executamos as operações aprovadas, nos empenhamos também para cristalizar os aprendizados decorrentes deste período e consolidá-los como bagagem valiosa para o futuro próximo. Alguns pontos que emergem desta reflexão são:
- Valor da cooperação: sozinhos, seria impossível colocar em marcha um programa tão amplo de apoio ao país. Por isso, contar com o SNF brasileiro foi crucial. Também teve – e continuará tendo – papel preponderante a nossa parceria com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), com quem também viemos atuando para estruturar e disseminar o conhecimento acumulado durante este ano
- Oportunidades para aperfeiçoar apoio às MPMEs: a crise atual evidenciou desafios no financiamento às MPMEs, incluindo a necessidade de identificar negócios promissores, com potencial de reposicionamento no cenário de recuperação econômica
- Urgência da digitalização: o “novo normal”, mesmo superada a pandemia, será definitivamente mais digital do que o cenário pré-COVID-19. As MPMEs precisarão de apoio para se qualificar a esse contexto mais competitivo e mais automatizado.
- Potencial da inovação financeira: outra frente de atuação relevante para o médio prazo é a das inovações financeiras que facilitem a mobilização de recursos. Essa estratégia será especialmente importante diante do crescimento de endividamento público, o que exigirá a abertura de novas fontes de financiamento para o setor. Nesse sentido, cresce também a relevância da agenda de sustentabilidade econômica, social e ambiental, capaz de atrair investimentos privados em busca de maior produtividade e resiliência a choques futuros.
- Importância das fintechs: O ambiente institucional do setor financeiro no Brasil, que já acompanha o funcionamento de fintechs e instituições de pagamento, pode também favorecer canais alternativos de financiamento no país.
- Retomada sustentável: Desenhar e implementar um portfólio de soluções financeiras que apoiem MPMEs e ações de MPMEs sustentáveis, o que permitiria reconstruir a economia pós pandemia em novas bases, promovendo uma nova visão de futuro com projetos concretos e o comprometimento com os temas inerentes à sustentabilidade.
- Inclusão das MPMEs de liderança das mulheres. Facilitar iniciativas que busquem ampliar o acesso das mulheres empreendedoras ao crédito, visando proporcionar maior eficiência econômica e a conquista de outras metas essenciais para o desenvolvimento do país.
Todas essas frentes constituem pontos em que o Grupo BID seguirá atuando e liderando parcerias em busca de inovações e mais eficiência no apoio às MPMEs.
Diante da magnitude da crise, é certo que novos investimentos e novas frentes são necessários para reduzir os danos causados à economia, bem como assegurar uma retomada do progresso econômico. A cooperação, a transversalidade e a velocidade que caracterizam as múltiplas iniciativas implementadas pelo BID no Brasil representam os caminhos pelos quais continuaremos percorrendo no futuro próximo.
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