No primeiro de uma série de cinco webinários sobre como as startups estão enfrentando a crise do coronavírus, empreendedores de diversos segmentos e regiões do Brasil compartilharam estratégias de contingência e comentaram as dificuldades para receber apoio dos programas de financiamento emergencial. Participaram do evento José Muritiba, da ABStartups; Gustavo Gorenstein, da BxBlue; Roberta Vasconcelos, da Beer or Coffee; Andre Ferraz, da In Loco; Augusto Lins, da Stone; Eric Santos, da Resultados Digitais; e Bruno Rondani, da 100 Open Startups. Durante a conversa, promovida pelo BID no dia 22 de abril, eles falaram também da forte capacidade de adaptação do setor e de como startups têm sido protagonistas na oferta de soluções e serviços para apoiar a sociedade nas novas demandas e necessidades que se apresentam.
Adaptabilidade e resiliência são pontos fortes das startups em momentos de crise
Startups são pequenas e ágeis, mais acostumadas com mudanças rápidas – as chamadas “pivotadas” – e com o uso intensivo de ferramentas digitais e home office. Essas características já fazem parte dos modelos de negócio do ecossistema e acabam funcionando como pontos fortes nesse momento da crise, quando foi preciso atuar rapidamente frente ao crescimento da pandemia.
Investimentos e contratações foram afetados
As startups cortaram custos e projetos de investimentos, congelaram novas contratações e algumas, dos setores mais afetados economicamente pela crise, fizeram demissões. O planejamento de novos projetos segue aguardando análise do desenrolar da crise e diferentes cenários têm sido projetados para planejar os próximos passos.
Com a pandemia, as empresas que haviam passado por rodadas de captação de investimento recente estão em cenários mais confortáveis de caixa. Muitas delas conseguiram aproveitar o momento positivo vivido logo antes do início da pandemia, quando a taxa de juros registrava queda histórica, a inflação estava controlada e os investimentos no setor alcançavam recordes históricos, elevando o ânimo por parte dos investidores. Startups que estavam em processo, mas ainda não haviam concretizado captação de investimento foram mais afetadas, uma vez que os processos se tornaram mais lentos ou foram cancelados.
Auxílios emergenciais têm chegado com dificuldade ao ecossistema, especialmente no acesso a crédito
Nesse momento, as startups destacaram que precisam de liquidez para repensar seus produtos em um cenário com baixo capital de giro e mudanças bruscas, que afetam as receitas no curto prazo, representando risco de sobrevivência a muitos negócios. Enquanto uma pequena parcela foi afetada de forma positiva, a maior parte das startups – 65% em Minas Gerais, segundo dados apresentados pela BeerOrCoffee – estão sofrendo impactos negativos. Por isso, medidas de apoio emergenciais são essenciais no momento.
Medidas focadas em aumentar a liquidez são as mais necessárias, como o adiamento de impostos e o apoio na manutenção da folha de pagamentos, já anunciados pelo governo. Por outro lado, há confusão de informações e falta de acesso de forma simples e direta às ações em vigência, bem como os critérios e etapas para sua obtenção. Isso faz com que a opção de acessar os benefícios emergenciais não seja sequer considerada na hora de se montar os planos de contingência.
Em relação ao acesso a crédito, os empreendedores destacaram que ele não tem chegado na ponta. Segundo relatos, alguns bancos têm tido abordagens oportunistas e há falta de transparência sobre o processo e critérios de aprovação. Além disso, são exigidas garantias reais que dificilmente podem ser oferecidas pelas startups. Os modelos de negócios mais inovadores (como SaaS – software as a service), não são bem compreendidos por agentes financeiros e faltam no país instrumentos de dívida mais adequados a estas empresas, ao contrário do que acontece em outros países.
Preocupação com a manutenção dos empregos
Uma preocupação recorrente tem sido com a manutenção dos empregos. A maioria das empresas têm evitado ao máximo demitir, buscando negociar contratos para manter empregos. Foi colocada a possibilidade de flexibilização na legislação trabalhista para permitir negociações de redução de salários, em troca da manutenção do emprego, por exemplo, como a possibilidade de renegociar contratos, com reduções nos pagamentos.
Outro ponto destacado foi o fato de que a maioria das empresas congelou novas contratações, enquanto as mais afetadas têm demitido. Assim, os profissionais sem trabalho têm tido grande dificuldade em se recolocar. Ações de apoio na conexão entre os que perderam trabalho e quem está contratando podem ser bem-vindas, assim como incentivos financeiros a novas contratações.
Cabe destacar, que, diferentemente do setor tradicional, startups empregam profissionais altamente qualificados e que levam tempo para se treinarem no trabalho, logo, o impacto dos desligamentos é ainda maior. Estas empresas, segundo estudo do Startup Genome, levam 70% mais tempo para se recuperar da perda de pessoas que as empresas tradicionais. Ao mesmo tempo, remuneram mais, de forma que um emprego perdido nesse setor tem impacto superior na economia.
Startups também são parte da solução
Mais do que nunca, é preciso inovar para enfrentar os efeitos da crise. As startups têm rapidamente adaptado seus serviços para oferecer soluções para a pandemia. Entre as iniciativas listadas pelos painelistas, estão: o uso de tecnologia de geolocalização de celulares para o mapeamento do isolamento nas cidades, feito pela In Loco; a venda de vouchers com desconto para o consumo futuro de serviços em restaurantes e salões de beleza, pela Stone; e a criação de serviços de renegociação de aluguéis com descontos antecipados e de um selo de escritório seguro, para ajudar coworkings a gerar caixa e se preparar para o retorno ao trabalho, pela BeerOrCoffee. Já projetos da 100 Open Startups e da parceria da ABStartups com o Ministério da Economia tem buscado conectar a oferta de soluções digitais das startups com as principais demandas de governos e grandes empresas relacionadas à crise.
Como governos e agentes de fomento podem apoiar as startups
– Apoio à liquidez, com subsídio emergencial para auxílio na folha de pagamentos, isenção e adiamento de impostos e apoio para o capital de giro.
– Medidas para manutenção da disponibilidade de capital de risco para investimentos.
– Crédito com critérios mais adequados à realidade de startups, especialmente na exigência de garantias reais. Atenção especial à velocidade de concessão do crédito que é crucial nesse momento.
– Medidas de educação que busquem dar clareza às medidas de apoio disponíveis, seus critérios de aplicação e sobre como utilizá-las, de forma simples e direta.
– Construção de formas de conexão entre profissionais que perderam o emprego e empresas que estão contratando, com incentivos para empresas que contratarem esses profissionais.
– Criação de chamadas, desafios e encomendas que permitam que governos, entidades de apoio e grandes empresas consumam soluções de startups direcionadas ao enfrentamento da crise, nas suas diversas esferas e áreas (aplicações em saúde, educação, trabalho remoto, delivery, pagamentos, etc).
Acompanhe a nossa conversa na íntegra:
Startups e a crise do COVID-19: perspectivas para hoje e para o futuro promovido pelo BID no Vimeo.
Se você quer entender melhor como funciona o ecossistema de empreendedorismo de alto impacto no Brasil, acesse nossa publicação:
Blog AP diz
Muito interessante este artigo, e a crise pode ser um momento de oportunidades também. Pesquisas apontam que o comércio eletrônico cresceu durante a pandemia e, portanto, quem possui negócios online pode se beneficiar apesar do mau momento.