Rodrigo Quintana e Túlio Cravo*
O trabalho é um meio, não um fim em si mesmo. É um meio para ter acesso a bens materiais, ao lazer e à estabilidade emocional. Entretanto, neste Dia do Trabalhador, com o aumento do desemprego no país nos últimos anos, muitos brasileiros estão perdendo esse meio. E muitos outros receiam perdê-lo. Porém, em toda adversidade há uma oportunidade.
Um estudo elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que será lançado em breve, demonstra como o ensino e a formação profissional (EFP) podem ser uma oportunidade para muitos. O EFP teve um crescimento avassalador ao longo da última década no Brasil; como resultado, o número de prestadores de serviços e cursos bem como a porcentagem de estudantes, incluindo grupos vulneráveis previamente incapazes de acessar o ensino e a formação profissional, aumentou consideravelmente.
Resultados promissores…
A renda dos alunos que cursaram o ensino médio profissionalizante é, em média, 9,7%, 12,5% ou 12,9 % maior que a dos alunos que cursaram o ensino médio acadêmico, dependendo da metodologia usada para medir o impacto. Além disso, os cursos oferecidos pelos fornecedores do Sistema S de gestão privada (SENAI, SENAC, entre outros), mas que recebem fundos públicos, estão 13,5% associados a salários mais altos, seguidos por instituições públicas e privadas às quais correspondem 8,9% e 5,9%, respectivamente. No caso do Sistema S, o aumento de salário é maior nas regiões mais pobres do Norte e Nordeste do país.
… mas muitos desafios.
Apesar dessas constatações, muitos desafios ainda precisam ser superados. O primeiro é atrair mais estudantes que ficaram historicamente fora da rede de ensino. A falta de informação sobre a carga horária dos cursos até a probabilidade de encontrar emprego faz com que estudantes de baixa renda valorizem menos o impacto que o ensino profissionalizante pode ter em suas vidas. Em segundo lugar, uma vez inscrito, o aluno tem problemas para permanecer na escola. As razões variam desde a perda de interesse até o grau de dificuldade do curso escolhido. Por último, os formandos enfrentam obstáculos para encontrar emprego e trabalhar na sua área de formação. De acordo com o estudo, especialistas no tema afirmam que os cursos não foram projetados em torno das demandas de empresas locais e dos estudantes.
Oportunidades
Existem várias ações para moldar a rede de ensino no Brasil. Para preencher a lacuna de informação e incentivar o interesse dos alunos mais vulneráveis é importante monitorar e publicar a renda potencial e a probabilidade de conseguir emprego a partir dos cursos disponíveis.
Oferecer cursos básicos de matemática, português e psicossocial, tais como pontualidade e organização, pode também ajudar estudantes de baixa escolaridade a superarem as dificuldades nessas aulas. Por último, para facilitar a transição da escola para o emprego, é necessário vincular o ensino nas salas de aula a treinamentos no local de trabalho.
O Brasil passou por um longo caminho para ampliar o acesso de grupos vulneráveis ao ensino profissional e ao mercado de trabalho. Neste cenário é preciso compreender em parceria com o empregador a necessidade de capacitação, e este é o primeiro passo para potencializar as qualificações exigidas pelo mercado de trabalho e aumentar a produtividade. Na prática, o ensino profissionalizante é uma oportunidade para buscar melhor formação, e assim, prepará-lo para vencer o medo de perder o seu meio de subsistência e satisfação pessoal.
Aproveite para conhecer cursos online e ferramentas de estudos que podem ampliar o aprendizado em diversas áreas.
*Rodrigo Quintana é consultor da divisão de Mercado de Trabalho do BID. Possui mestrado em Administração Pública pela Universidade de Harvard e é graduado em Economia pela Universidade de McGill. Também trabalhou nas unidades de proteção social do Programa Mundial de Alimentação no Paquistão e em Moçambique, e do Banco Mundial em Washington D.C.
*Túlio Cravo é especialista da divisão de Mercado de Trabalho do BID. É graduado em economia pela UFMG, possui mestrado pela Universidade de Coimbra e doutorado pela Loughborough University. Também trabalhou na Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER) na Finlândia, Escritório de Avaliação e Supervisão do BID em Washington e SEBRAE/MG.
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