Hojé é celebrado o Dia Mundial Sem Carro e para contribuir com esse diálogo entrevistei dois especialistas para mostrar que ciclismo é sim uma opção de mobilidade com alto potencial para reduzir alguns problemas dos centros urbanos.
Várias cidades na América Latina estão implementando infraestrutura para bicicletas somando já 2.513 km de rotas. Bogotá, a capital colombiana, lidera a lista de cidades da região com a maior malha de ciclovias. Outras 12 cidades contam com uma rede de quase 13 mil bicicletas compartilhadas.
Confira abaixo a entrevista com Dalve Soria, especialista em Transporte e Jason A. Hobbs, especialista em Desenvolvimento Urbano, ambos do BID.
Suélem: A bicicleta segue tomando força como alternativa de transporte na América Latina e Caribe. O que as cidades devem fazer para serem ciclo-inclusivas?
Jason A. Hobbs: O uso da bicicleta é um fator chave para melhorar a qualidade de vida nas cidades e responder aos problemas de congestionamento e mobilidade que afetam hoje cerca de 500 milhões de pessoas que vivem na América Latina. Seguindo este movimento, é importante investir em ações de estímulo ao uso do transporte não motorizado, que vão desde a implementação de infraestrutura como, por exemplo, ciclovias, ciclofaixas, sinalização, entre outros, até atividades de planejamento como planos cicloviários, de mobilidade inclusiva e conscientização da cidadania.
Recentemente o BID e o Instituto Gehl lançaram um guia sobre cidades ciclo-inclusivas, que apresenta na prática três frentes que as cidades precisam pensar para serem ciclo-inclusivas. O primeiro passo, de acordo com o livro, é promover atividades destinadas a sensibilizar os cidadãos, funcionários e outros atores urbanos sobre o valor e os benefícios da bicicleta. O segundo inclui critérios fundamentais para o design da rede de ciclismo, considerações para a localização de estacionamentos para bicicletas e diretrizes de desenvolvimento urbano para tornar a bicicleta um meio de transporte conveniente, seguro e agradável. E em terceiro, e não menos importante, a inclusão de atores como governos e instituições para compor esse diálogo. O objetivo é que essas três áreas desempenhem de forma sinérgica ações que promovam o uso das bicicletas e assim possam impulsionar a transformação de nossas cidades.
Suélem: Você pode listar cinco vantagens de se viver em uma cidade ciclo-inclusiva?
Dalve Soria: A primeira vantagem é que as bicicletas aumentam a mobilidade e inclusão social, aumentando a capilaridade do sistema, atuando como elemento importante dentro da integração entre os diversos modos de transporte. A segunda é que andar de bike faz bem à saúde. Como terceiro benefício as bicicletas diminuem a contaminação ambiental e sonora nas cidades. Em quarto lugar todo mundo é beneficiado com uma cidade ciclo-inclusiva. Recentemente li um estudo que falava sobre o depois da implementação das ciclovias em Manhattan. As lojas da região aumentaram 49% das vendas. É preciso se levar em conta que as ciclovias atraem turistas, oferecem empregos e impulsionam as vendas do varejo. Por último, quando uma cidade abre espaço para o ciclista ela deixa o fluxo do tráfego mais ordenado e seguro para pedestres, motociclistas e motoristas.
Suélem: As eleições municipais no Brasil estão se aproximando e é de responsabilidade do município cuidar do transporte urbano da cidade. Tendo isso em mente, como os governos subnacionais poderiam construir e repensar as políticas de mobilidade das cidades e o desenvolvimento urbano sustentável?
Dalve Soria: É preciso estabelecer em parceria com a comunidade e um diálogo orientado a uma política pública de conscientização da importância dos modelos coletivos e não motorizados de deslocamento, que alcance a todos os níveis socioeconômicos, garantindo além de acessibilidade universal as condições de mobilidade urbana sustentável.
Na América Latina existem muitas amostras de como o uso desse meio de transporte tem transformado as cidades de maneira positiva. Um dos exemplos mais significativos é Bogotá, na Colômbia, cidade onde acontecem mais de 600 mil viagens diárias de bicicleta, conta com mais de 400 km de ciclovias exclusivas, além de atividades que promovem o engajamento do uso da bicicleta e a conscientização dos cidadãos que envolvem vários atores. Já aqui no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cidades da região que possuem um dos maiores sistemas de compartilhamento de bicicletas, além de fazerem parte da lista de cidades latino-americana pioneiras na implementação e no fortalecimento de políticas ciclo-inclusivas com bons resultados.
Suélem: Quais elementos as cidades poderiam adotar para que os ambientes utilizados pelos ciclistas sejam mais agradáveis e seguros?
Jason A. Hobbs: Os benefícios sociais, ambientais e econômicos da ciclo-inclusão são amplos e podem ser percebidos a curto prazo no dia-a-dia das cidades. As metrópoles deveriam considerar na sua configuração urbana o elemento bicicleta com implementação de ciclovias que contem com tratamento paisagístico, iluminação e sinalização, segurança viária, entre outros. Na prática a participação ativa da população nos instrumentos de planejamento, fortalece o desenho de uma política ou de um projeto, complementa a informação técnica com a experiência cidadã e garante o êxito de uma iniciativa relacionada ao uso da bicicleta.
É sempre bom falar que, uma cidade com informação disponível, completa e adequada para os ciclistas fomenta o uso mais frequente e seguro. A satisfação dos usuários existentes e dos potenciais é maior quando se sabe como e por onde circular, além de saber quais são as regras e em que condições se pode utilizar este veículo. Quando a cultura da ciclo-inclusão é incorporada na cidade, o cidadão se transforma no próprio fiscalizador, tornando-se parte do processo.
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