Você gostaria de viver em uma cidade em que fosse possível caminhar até seus principais destinos com conforto e segurança? E poder trocar seu carro ou o ônibus por uma bicicleta? Já imaginou viver em um bairro com baixos índices de poluição do ar e sonora? E em uma cidade que divide a valorização do solo urbano entre o público e o privado de forma sustentável?
Alguns centros urbanos no mundo já possuem muitas dessas características, mas as cidades da América Latina e Caribe ainda se esforçam nessa busca. Consequentemente, para nós, uma cidade que proporcione tudo isso a seus cidadãos pode até parecer um sonho distante. Mas saiba que nossa realidade permite, sim, que vivamos em cidades mais compactas, conectas e coordenadas.
Qual seria, então, o segredo utilizado pelos gestores das cidades de sucesso? Uma das respostas pode estar na existência de diretrizes de planejamento urbano que incorporam estratégias de uma metodologia chamada Desenvolvimento Orientado ao Transporte (DOT).
6 elementos para planejar cidades mais conectadas
DOT é um modo de construir cidades mais compactas e ambientalmente corretas. Ele adota um conjunto de estratégias territoriais fundamentadas em projetos urbanísticos que visam articular componentes urbanos com os sistemas de mobilidade. Isso se dá mediante o estímulo à concentração de habitações e atividades socioeconômicas próximas aos corredores e estações de transporte público de massa.
Para alcançar tais objetivos, é necessário que as políticas urbanas, em todas as esferas de governo, induzam a construção sustentável e inclusiva dos projetos urbanísticos. Nesse sentido, a estratégia DOT traz alguns elementos essenciais:
- Utilização de ferramentas que otimizam o uso do solo urbano;
- Aproveitamento das oportunidades de recuperação da valorização fundiária;
- Melhor articulação dos setores público e privado em todo o ciclo de vida do projeto urbanístico;
- Desenvolvimento de infraestruturas de transporte público com energias limpas e renováveis;
- Estímulo ao processo de regeneração urbana; e
- Promoção da oferta diversificada de atividades econômicas no meio urbano.
Muito se fala dos problemas causados pelo excessivo uso do veículo motorizado individual, como a poluição do meio ambiente e as horas perdidas nos congestionamentos, o que resulta em perda de qualidade de vida para pessoas que dependem desse meio de locomoção.
Cidades compactas e densas potencializam os deslocamentos sustentáveis e reduzem significativamente problemas causados por falhas no sistema de mobilidade.
Outro entrave ao desenvolvimento, muito comum em cidades latino-americanas, é o privado absorver 100% da valorização da terra urbana proveniente de investimentos públicos. Por causa da escassez de recursos, isso impede que novos investimentos sejam feitos e que a justa distribuição dos ganhos resultantes do aumento do valor da terra urbanizada aconteça. Projetos urbanísticos que não utilizam instrumentos capazes de equilibrar interesses são pouco inclusivos e não se sustentam ao longo dos anos.
Vantagens e oportunidades
Uma grande vantagem na adoção de estratégias DOT é que elas priorizam a concentração de atividades diversificadas no entorno de estações de transporte de massa, o que promove a regeneração urbana em áreas que comumente são pouco valorizadas e de baixa acessibilidade para pedestres e ciclistas, por exemplo. Os benefícios tanto para a esfera pública, quanto para a privada, são inúmeros. Entre eles estão a redução nos tempos de deslocamento, a otimização do uso dos recursos e serviços, a contenção do crescimento horizontal e disperso das cidades, a redução nas emissões de gases de efeito estufa, e a possibilidade de recuperação da valorização imobiliária.
Assim, aprender com cidades que alcançaram objetivos de promoção de qualidade de vida para seus cidadãos e adaptar as técnicas utilizadas para realidades específicas pode ser um caminho para a melhoria dos centros urbanos dos países em desenvolvimento. Aspectos institucionais, legais, de mercado de solo e de sustentabilidade, assim como instrumentos de financiamento e de planejamento da mobilidade, podem ser analisados e redesenhados para o contexto latino-americano.
Nesse sentido, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) estão trabalhando em um estudo inédito que traz respostas e soluções para essas questões no contexto brasileiro.
No dia 29 de abril fizemos um Webinar de lançamento do livro Desenvolvimento Orientado ao Transporte: Como criar cidades mais compactas, conectas e coordenadas, que é o resultado de pesquisas realizadas, com base em lições aprendidas a partir de casos nacionais e internacionais, destinadas a analisar e compreender marcos legais, financeiros e institucionais, bem como mapear limitações e oportunidades para implantação de sistemas DOT no contexto dos países em desenvolvimento.
Leave a Reply