Marcos von Sperling*
O Brasil é um país de dimensões continentais e, como resultado, tem uma grande diversidade de características climáticas, econômicas e culturais. Como acontece com outros países em desenvolvimento, o tratamento de esgotos é um grande desafio. Isso se reflete nas dificuldades para alcançar uma alta cobertura de tratamentos de esgotos, mas também traz oportunidades para a adoção de um grande conjunto de diferentes tecnologias, envolvendo sistemas simples e sofisticados, processos naturais e mecanizados e reatores anaeróbios e aeróbios.
Em termos de cobertura, cerca de 40% dos esgotos gerados no Brasil são tratados, com um número estimado de 2.800 estações de tratamento. O relatório “Urban Wastewater Treatment in Brazil” (Tratamento de esgotos urbanos no Brasil) analisa os principais processos de tratamento de águas residuais usados no país. É dada uma ênfase especial a comunidades pequenas e médias com população abaixo de 100 mil habitantes, que representam aproximadamente 95% dos 5.570 municípios brasileiros.
Com base em uma pesquisa com 2.187 estações de tratamento, as configurações mais amplamente adotadas são: lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa; reator UASB (upflow anaerobic sludge blanket – reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente); lodos ativados; lagoas seguidas de lagoas de maturação; fossa séptica seguida de filtro anaeróbio.
É apresentada uma avaliação do desempenho efetivo de 166 estações de tratamento localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais, dividida em seis tecnologias principais e abrangendo seis constituintes de qualidade da água (DBO – demanda bioquímica de oxigênio; DQO – demanda química de oxigênio; SST – sólidos suspensos totais; NT – nitrogênio total; FT – fósforo total; e CF – coliformes fecais ou termo tolerantes). A avaliação indicou uma grande variabilidade nas concentrações de efluentes e nas eficiências de remoção, com desempenhos usualmente inferiores aos relatados na literatura técnica.
Várias configurações diferentes de tratamento de esgotos estão sendo usadas no Brasil. O sistema mais tradicional envolve lagoas de estabilização, que estão presentes em grande número para populações de até 20 mil habitantes. Variantes do processo de lodos ativados têm sido usadas para variados tamanhos de população, cobrindo cidades pequenas, médias e grandes no Brasil. Reatores UASB são a principal tendência recente para todos os tamanhos de população, especialmente quando seguidos por algum estágio de pós-tratamento. Várias opções de pós-tratamento para o efluente do UASB estão disponíveis, com menção especial para filtros biológicos percoladores, que estão sendo implantados em muitos lugares, em particular quando a disponibilidade de terreno não é grande, além de lagoas de polimento (de maturação). Os dados sobre custos de construção indicaram valores entre R$60 por habitante a R$650 por habitante, dependendo do processo de tratamento.
Devido às condições climáticas favoráveis, não há limitações técnicas para a adoção do tratamento biológico dos esgotos e esse é um elemento positivo para a melhora progressiva da cobertura do tratamento de águas residuais no país.
Para saber mais sobre o tema, faça o download da publicação, em inglês, aqui.
*Marcos von Sperling é engenheiro civil, trabalhando na área de tratamento de esgotos (concepção, design, modelagem matemática e controle operacional) e qualidade das águas superficiais (modelagem matemática e estudos de impacto ambiental). Professor titular no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Pesquisador nível 1 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Confira a biografia completa do autor.
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