Laura Ripani*
Chegou o dia. 12 de junho. Tudo pronto. Os jogadores fazem o aquecimento, as câmeras de televisão estão posicionadas, os torcedores vestidos para a ocasião e, mundo afora, milhares e milhares de pessoas ligam suas TVs ao mesmo tempo… Começa a Copa! No campo, 22 jogadores darão tudo de si e, a cada jogada, tentarão mostrar suas diversas habilidades futebolísticas. Sim, a Copa é um “duelo de habilidades” em que a vitória depende tanto do talento nato dos atletas como também das horas e horas dedicadas aos treinamentos.
No futebol, para se ter sucesso não basta ser uma estrela, mas também é essencial que cada uma das habilidades pessoais se encaixe com as do time. Mas o que aconteceria com uma equipe que não tivesse nenhum goleiro? O que faria um treinador se não pudesse contar com nenhum jogador de defesa? Haveria alguma chance de que uma equipe assim se sagrasse campeã?
O que no campo de futebol poderia resultar em um fracasso retumbante, costuma acontecer com frequência no mundo corporativo. Além disso, nas empresas, esse tipo de tragédia é menos visível e mais difícil de se identificar, ao contrário do que acontece no universo do futebol. O déficit de habilidades (skills gap em inglês) afeta em cheio o Brasil e a maioria dos países da América Latina. Os dados são contudentes: 71% dos empresários brasileiros tem dificuldade para preencher vagas, de acordo com a consultoria Manpower – e esse porcentual continua subindo. Em termos futebolísticos, isso equivale ao calvário das equipes que precisam de um goleador, mas não podem encontrar nenhum. Outro dado importante: na América Latina, os empregadores brasileiros (59%) são os que mais se preocupam com o impacto do déficit de habilidades sobre clientes e investidores. Segundo o estudo Empresas 2010 (financiado pelo Banco Mundial e pelo BID), sete de cada dez empresas brasileiras consideram a falta de mão de obra bem preparada uma restriçãoo seria ou muito seria para os planos de inovação e desenvolvimento. Os empresários estão conscientes do problema, mas ainda não encontraram uma solução.
De volta à analogia com o futebol, parece claro que a economia do Brasil (e do resto da América Latina e Caribe) tem um sério problema para vencer a partida da competição global. Felizmente, o Brasil já começou a se mexer para reduzir esse déficit (as parcerias público-privadas são um exemplo disso). Ainda assim, o déficit continua sendo um freio ao desenvolvimento do país. A partida já começou e não é possível jogar futebol com a bola parada.
* Laura Ripani é economista líder da Unidade de Mercados Trabalhistas e Previdência Social do BID. Este post foi originalmente publicado no blog Factor Trabajo
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