Durante o mês de outubro, edifícios símbolos de Brasília, como o Congresso, estão iluminados em rosa para chamar a atenção sobre o câncer de mama, mal que vitima milhares de mulheres. Nesse ano de eleições, a iluminação especial me faz pensar sobre a importância de o Congresso ser “rosa” também por dentro.
As mulheres são pelo menos metade da população brasileira, mas a representação feminina no Congresso está muito aquém disso. Em 2015, das 81 vagas do Senado, apenas 11 (ou 13,6%) serão ocupadas por mulheres; na Câmara, o número de representantes do sexo feminino subirá ligeiramente: dos atuais 43 para 51, o que equivale a 10% das 513 vagas. Alguns estados, como Alagoas, Espírito Santo e Mato Grosso não terão nenhuma representante mulher na Câmara.
Uma maior presença feminina no Congresso Nacional é necessária não só por uma questão de igualdade de gênero (apesar dos avanços recentes nessa área, resta muito por fazer), mas também para melhor refletir as demandas da sociedade do século XXI como melhores políticas de prevenção ao câncer de mama.
No Brasil, já há mais universitárias que universitários, mas os homens seguem em maioria nos cursos de especialização como pós graduação e mestrado. Quanto mais avançam na carreira ou nos estudos, mais difícil fica para as mulheres conciliar a vida em família com o mercado de trabalho e/ou as obrigações do mundo acadêmico, o que faz com que muitas tenham que abdicar da carreira e/ou academia. Uma maior presença feminina no Congresso no mínimo melhoraria o debate sobre como aumentar o número de mulheres nos cursos de especialização ou em áreas em que elas são minoria, como ciências e matemática.
Além de políticas específicas para mulheres, uma maior presença feminina no legislativo também se traduz em ganhos econômicos para o país como um todo. Exemplo disso é Ruanda, na África, a nação com maior proporção de mulheres na Câmara dos Deputados: 63,8%.
Após o genocídio que chocou o mundo nos anos 90, criaram-se mecanismos que levaram a essa maior presença feminina no Congresso. Embora a pequena nação africana continue pobre e desigual, ela hoje é bem menos miserável e injusta que 20 anos atrás. E boa parte desses avanços, inclusive o econômico – em 2013 o PIB cresceu 4,3% – é atribuída às mulheres, cujas decisões são voltadas para o benefício da comunidade como um todo.
Ruanda tornou-se um exemplo mundial de participação feminina política para vários países mundo fora, inclusive os EUA que, como o Brasil, também conta com poucas parlamentares mulheres: apenas 18,3%. Por aqui, embora a legislação eleitoral determine que os partidos tenham 30% de candidatos ao legislativo do sexo feminino, a meta nem sempre é cumprida.
Maior rigor no cumprimento dessa cota e estímulos para que meninas e adolescentes se interessem por política são passos iniciais para que o Brasil, que já está entre as poucas nações do mundo que elegeram uma mulher presidente, também tenha mais representantes femininas onde se fazem as leis. Também é preciso que os homens apoiem mais as demandas femininas. Os benefícios serão de todos, como muito bem lembrou a jovem atriz Emma Watson em seu agora já célebre discurso He for She na Assembleia Geral da ONU.
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