Para destravar os investimentos, o bilionário déficit de infraestrutura no Brasil exige mais do que apenas um player estratégico que ofereça soluções inovadoras.
O Brasil é uma das maiores economias do mundo e um dos principais players no comércio mundial e na produção de alimentos. No entanto, os desafios em termos de infraestrutura enfrentados pelo país se comparam à sua magnitude, o que ameaça a competitividade brasileira. Atualmente, a qualidade da infraestrutura no Brasil está em 81º lugar em uma classificação de 137 economias, segundo o Fórum Econômico Mundial, e com grande disparidade entre as regiões do país, sobretudo entre Norte e Sul. Essas deficiências se refletem nos elevados custos logísticos do país, estimados em cerca de 15% do PIB, frente 8% a 10% nos países da OCDE.
Os baixos níveis de investimento são uma das principais causas do mau estado da infraestrutura no país. Entre 2008 e 2016, o total de investimentos correspondeu, em média, a 2% do PIB, menos da metade dos níveis da década de 1980. O investimento atual fica bem aquém dos US$ 110 bilhões ao ano que, segundo estimativas, seriam necessários até 2040 para atender às necessidades de investimento em infraestrutura do Brasil.
Apesar de o setor privado haver respondido por cerca de metade do total do investimento em infraestrutura entre 2008 e 2016, o financiamento privado vem caindo acentuadamente desde 2012, em parte como consequência das crises econômicas e dos escândalos de corrupção, como os investigados pela Operação Lava Jato. Além disso, é cada vez mais difícil obter financiamento de fontes tradicionais, pois o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a principal fonte de financiamento de longo prazo para o setor de infraestrutura, está substituindo a TJLP, sua taxa de juros fortemente subsidiada, por uma taxa de juros de longo prazo baseada no mercado.
O copo meio cheio
Para atender a crescente demanda por infraestrutura e em vista das mudanças das condições de financiamento, o Brasil precisará mobilizar recursos dos mercados de capitais, fundos de pensão e bancos comerciais, tanto em âmbito local como internacional. As necessidades de infraestrutura vão gerar imensas oportunidades de mercado para, empresas de construção, mercados financeiros e investidores em participações de capital e dívida. O sucesso recente das licitações internacionais mostra que é possível atrair capital privado para projetos e que as melhorias institucionais e regulatórias devem continuar.
Nesse novo cenário, as instituições internacionais que financiam o desenvolvimento, como o BID Invest, o braço privado do Grupo BID, têm um papel fundamental a cumprir para viabilizar os investimentos em setores menos tradicionais, ajudar a mitigar riscos e catalisar mais recursos para investimento. Por exemplo, estima-se que o mercado brasileiro de fundos de pensão invista atualmente 80% de seus recursos em dívida pública e apenas 2% em títulos de dívida privada.
Com relação ao primeiro tipo de investimento, em 2019 o BID Invest aprovou o financiamento de uma PPP na área de água e saneamento na região Nordeste do Brasil com o objetivo de melhorar a infraestrutura de águas servidas em 15 municípios da região metropolitana do Recife, um projeto que também conta com o financiamento de bancos de desenvolvimento locais.
Outro caminho para estimular os mercados de capitais e mobilizar recursos de investidores institucionais é criar novos instrumentos para mitigar os riscos das operações. Nesse sentido, as Garantias Totais de Crédito (GTCs) oferecidas pelo BID Invest em 2018 foram fundamentais para atender às necessidades de financiamento do parque eólico de Santa Vitória do Palmar e do projeto solar de Pirapora, pois cobriram o pagamento integral da dívida aos portadores dos títulos até o vencimento. Essas garantias, nos montantes de R$ 130 milhões e R$ 315 milhões, respectivamente, ajudaram a assegurar a subscrição dos títulos com preço e prazo competitivos (na verdade, essas emissões de títulos tiveram uma demanda maior do que a oferta), bem como a obter a classificação de crédito local AAA para o projeto de Santa Vitória do Palmar e a classificação global A+ para o projeto de Pirapora.
Por último, os fundos de crédito podem mobilizar investidores que procuram apoiar projetos com base em critérios específicos. O novo fundo de crédito em infraestrutura do BID Invest no Brasil fará isso ao assegurar a conformidade dos investimentos com as salvaguardas sociais e ambientais e as normas de governança e integridade institucional do Grupo BID. Com essa abordagem, o BID Invest busca ajudar a aumentar a confiança e mobilizar financiamento de longo prazo para projetos de infraestrutura robustos e sustentáveis no Brasil.
Leia mais sobre nossa análise dos desafios e oportunidades na área de infraestrutura no Brasil em nossa recente publicação e De-Brief.
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