Fazer uma consulta médica pelo celular ou na tela de um computador já é realidade em muitos países, inclusive no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 87% de seus países membros dispõem de ao menos um projeto voltado para a telemedicina. Em meio aos esforços para combater o coronavírus em todo o mundo, a modalidade de atendimento médico à distância vem ganhando cada vez mais fôlego.
No Brasil, entre as primeiras ações de enfrentamento ao coronavírus anunciadas pelo Ministério da Saúde estão algumas regras emergenciais para a telemedicina, validadas pelo Conselho Federal de Medicina, nas modalidades de teleorientação, telemonitoramento e teleconsulta. As medidas não apenas permitem aumentar a capilaridade dos serviços públicos de saúde como também, ao evitar o contato social, diminuem o risco de contaminação do vírus, que já matou 1.223 mortes e 22.169 casos no Brasil (Painel Coronavírus/Ministério da saúde/13/04/2020).
A telemedicina também traz benefícios do ponto de vista econômico e social, de acordo com o artigo “Telemedicina: desafios à sua difusão no Brasil”. Os pesquisadores destacam que a modalidade de atendimento tem potencial para solucionar desafios da saúde, como:
- a ampliação do acesso a serviços médicos especializados a locais que não os apresentam;
- a melhoria da qualidade da atenção à saúde;
- a redução do tempo gasto entre o diagnóstico e a terapia;
- a racionalização de custos; e
- o apoio à vigilância epidemiológica, auxiliando na identificação e rastreamento de problemas de saúde pública.
Especialistas chegam a afirmar que, no futuro, a telemedicina pode seguir a tendência de outros setores que viveram a transformação digital, transferindo grande parte dos cuidados médicos para longe de hospitais e clínicas e para perto das residências e de aparelhos móveis. A transição se assemelharia à que ocorreu com serviços bancários – cada vez mais virtuais – e com o avanço do comércio digital – que tem deixado os shoppings menos movimentados. Entretanto, os desafios no Brasil ainda se concentram na situação da extrema desigualdade social que enfrentamos nas diferentes regiões do país, além dos problemas de infraestrutura básica como energia elétrica, conectividade e infraestrutura tecnológica. Ou seja, a “desigualdade digital” ainda é um importante desafio nacional.
Seis formas de implementar a telemedicina
A pandemia do COVID-19 – que vem desafiando a capacidade dos sistemas de saúde em oferecer tratamentos adequados e rápidos a quem precisa – pode estar pavimentando o caminho para que novas tecnologias de informação e comunicação floresçam e se consolidem. Selecionamos aqui seis exemplos de boas práticas voltadas para o atendimento médico à distância, que podem ajudar gestores públicos a adotarem a telemedicina:
- Adoção de ferramentas que permitam diagnóstico e monitoramento, em tempo real ou de forma assíncrona: o atendimento em tempo real exige uma infraestrutura tecnológica maior e, por vezes, de custo mais elevado. Contudo, em casos de atendimento primário utilizar sistemas para armazenar e encaminhar dados têm se mostrado útil, sustentável e acessível economicamente. Na China, por exemplo, a consulta inicial é feita em hospitais rurais onde são feitos exames de imagem e vídeo, que depois são enviados para análise de especialistas. Formato semelhante é adotado na Índia, onde a telemedicina está sendo aplicada em departamentos de cardiologia, emergência, radiologia, oftalmologia e nefrologia. No Brasil, várias empresas de telemedicina já operam junto ao setor privado e começam a ampliar sua carteira de clientes para o setor público, como a Portal Telemedicina que participou do Pitch Gov.SP.
- Utilizar soluções disponíveis nos smartphones – A internet e os celulares chegaram a regiões remotas de diversos países com rapidez. Com isso, tratamentos médicos feitos por meio dos aparelhos celulares já se mostraram eficazes para tratar casos de epilepsia no Nepal, câncer em Botswana e até transtornos de saúde mental como a depressão na Jordânia.
- Fomentar a capacitação em telemedicina – Especialista em telemedicina, o professor Dr. Chao Lung Wen, da USP, explica que para implementar avanços no setor será necessário fazer mais do que garantir a infraestrutura tecnológica e recursos digitais. Ele defende que o ensino de telemedicina seja obrigatório na graduação e residência médica, com carga horária de pelo menos 60 horas.
- Consórcio entre estados – Os consórcios públicos são parcerias sem fins lucrativos, firmadas entre dois ou mais entes da Federação (estados ou municípios), e concretizadas por meio da criação de uma pessoa jurídica de direito público ou privado. Municípios e estados vizinhos podem recorrer a essa ferramenta para contratar soluções integradas de saúde, beneficiando a população.
- Promover projetos de inovação aberta – Encontrar as melhores ferramentas inovadoras para a aplicação de big data, deep learning, reconhecimento de expressões faciais, inteligência artificial, são tarefas árduas. Assim, fazer programas que envolvam definição de desafio para receber soluções de empresas inovadoras, como startups, em todo o ciclo de desenvolvimento das tecnologias pode ser uma ótima forma de trazer o que há de mais moderno para dentro dos sistemas de saúde, sejam públicos ou privados.
- Aproximar empresas inovadoras de ambientes reais – Destaca-se a criação de hubs de inovação e aceleração por grandes hospitais, como o InovaHC pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o EretzBio do Hospital Israelita Albert Einstein. Nesses hubs, startups e profissionais de saúde têm se unido para desenvolverem e validarem soluções de saúde com aplicação imediata e feedbacks constantes.
Na era da informação, a telemedicina é uma ferramenta que pode fazer a diferença e melhorar a vida das pessoas. No Brasil, a pesquisa TIC Domicílios divulgada em 2019 mostrou que 70% da população brasileira acessou a internet, o que equivale a 126,9 milhões de pessoas. Com o desenvolvimento de redes de infraestrutura tecnológica e de atendimento, a telemedicina pode assumir papel cada vez mais importante, auxiliando médicos a compartilhar conhecimentos e boas práticas e aprimorando a assistência a comunidades remotas, rurais e carentes com tratamentos atuais e diagnósticos mais precisos. Com apoio tecnológico e médicos capacitados, os serviços de saúde podem chegar às pessoas e lugares antes não considerados, os chamados vazios sanitários, em nosso país. É um avanço, um pouco atrasado no âmbito nacional, mas precisamos seguir em frente!
ESTELVIO SCHUNCK diz
TELEMEDICINA , um caminho sem volta. Inovador, seguro e poderá ajudar em muito a melhora da saúde pública no país.