Como seria a educação se um professor pudesse oferecer uma retroalimentação personalizada para cada estudante, ajudando-o a melhorar cada trabalho em tempo real? E se a tecnologia pudesse tornar mais eficientes as horas dedicadas a correção e avaliação, liberando tempo dos docentes para o que realmente importa? No Brasil, esta realidade está tomando forma com a ajuda de uma plataforma utiliza inteligência artificial para apoiar estudantes na redação de textos. Desta forma, a ferramenta contribui para revolucionar a forma de aprendizado.
Durante uma visita ao BID, Thiago Rached, um dos cofundadores da plataforma Letrus, falou sobre essa ferramenta apoiada pelo BID Lab, laboratório de inovação do BID. A Letrus está melhorando o desempenho acadêmico e fechando lacunas na educação.
Como a Letrus surgiu e o que inspirou sua criação?
A Letrus foi fundada inicialmente por Luis Junqueira, professor de português que entendeu muito bem os desafios enfrentados por docentes ao ensinar e por estudantes ao aprender. A principal preocupação dele era a sobrecarga de trabalho relacionada com qualificação e avaliação de textos dos alunos. É uma tarefa que exige muitas horas de trabalho e que não incentiva os professores a darem tarefas aos estudantes que realmente os ajude a melhorar. Além disso, o processo é totalmente analógico e não permite aos docentes entender em que ponto os estudantes estão no processo de aprendizagem.
Como a plataforma ajuda os professores?
Ao integrar tecnologia e inteligência artificial no processo, podemos identificar não apenas as lacunas de aprendizagem dos estudantes, mas também oferecer a eles a oportunidade de entender no que devem focar para melhorar. Isso permite que melhorem suas habilidades de escrita de forma mais rápida e com mais precisão.
Como funciona a plataforma?
Basicamente, o programa permite que os estudantes escrevam seus textos e reavaliem seu trabalho em uma plataforma integrada com a nossa inteligência artificial. Essa tecnologia indica os pontos específicos que precisam de atenção e as etapas que eles devem seguir para melhorar sua redação. Isso permite que os alunos melhorem tanto as suas habilidades de escrita como de leitura e se aproximem da concorrência nesses temas.
Quais os resultados alcançados com o uso dessa plataforma?
Fizemos um estudo randômico controlado em 2019, com financiamento da J-PAL, um laboratório do MIT, para avaliar o impacto da Letrus. Os resultados mostraram que os estudantes que usaram a plataforma tiveram rendimento significativamente melhor do que os que não a utilizaram. Conseguimos demonstrar uma redução de 9% na lacuna de qualificações entre os estudantes de escolas públicas em comparação com os de escolas privadas. Em média, os estudantes que usaram a Letrus conseguiram o segundo lugar na prova de escrita em um exame nacional, enquanto alunos do grupo de controle que não usaram a Letrus ficaram em oitavo lugar.
Qual a sua opinião sobre o papel dos professores com a inteligência artificial nas aulas?
Acredito que a inteligência artificial pode ser uma grande oportunidade, tanto para os estudantes como para o desenvolvimento e o papel dos docentes. A maioria dos professores tem um papel muito operacional, cumprindo tarefas de instrução, qualificação e avaliação, que poderiam ser realizadas pela inteligência artificial, liberando os docentes para se concentrar em aspectos mais estratégicos e educacionais. Ao reduzir a carga operacional, os docentes poderão ser muito mais efetivos.
Como abordar o tema da desigualdade no acesso à educação?
O acesso à educação de qualidade é um desafio global, e a nossa visão é nos adaptarmos às necessidades locais. Sabemos que a brecha de alfabetização não é uma exclusividade do Brasil e queremos levar nosso programa para mais países. Para isso, precisamos de políticas educacionais mais focadas e efetivas. É fundamental contar com o capital necessário para construir esses ecossistemas educacionais inovadores, e contar também com paciência, já que esses processos precisam de tempo para apresentar resultados e reduzir as desigualdades.
Como essa plataforma pode ajudar a reduzir as desigualdades na educação?
É fundamental que a legislação e as regulações permitam que inovações como as oferecidas pela Letrus façam parte das aulas. Desta forma, podemos testar nossa tecnologia com estudantes e professores e escalá-la de forma efetiva. Se não agirmos logo, o risco é que as desigualdades continuem crescendo, já que as escolas privadas, que têm mais recursos, vão se beneficiar mais da tecnologia do que as escolas públicas.
Que futuro vocês veem na integração da inteligência artificial nas aulas?
A inteligência artificial é uma realidade inevitável para todos. Não se trata de ‘devemos ou não integrar a IA e a tecnologia nas aulas?’, mas sim, sobre como fazer essa integração da melhor maneira possível para estudantes e docentes. Se não encontrarmos formas de servir a quem mais precisa, as desigualdades vão aumentar. É urgente agirmos rapidamente e de maneira eficiente, utilizando todos os recursos possíveis para construir algo que seja relevante.
Assista à entrevista na integra, em inglês, com legendas em espanhol:
Blog também disponível em espanhol, no blog Enfoque Educación.
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