Novo Hamburgo aspira ares de criatividade. Pertencente à região metropolitana de Porto Alegre, com seus 250 mil habitantes, a cidade busca soluções criativas para trilhar os caminhos rumo a um futuro desejável, explorando mecanismos inovadores de parceria entre a gestão pública e os agentes produtivos. A cidade ostenta o título de Capital do Calçado, mas assume que é chegada a hora de convergir seus potenciais a matrizes mais condizentes à era do intangível.
Por que audiovisual?
Com possibilidades reais de investimentos e fomento à produção de uma forte cadeia cultural na região, Novo Hamburgo está fazendo uma opção por integrar esse circuito criativo. Isso não só pela possibilidade de investimentos, mas em função da própria natureza plural e coletiva das produções audiovisuais, com a integração de diversas cadeias produtivas – culturais ou tradicionais – em função da diversidade das necessidades das obras a serem desenvolvidas, faz com que o histórico empreendedor e a qualidade em prestação de serviços possam ser canalizadas a essa nova proposta. Em paralelo a isso, existe no Brasil um movimento nacional em prol do desenvolvimento da economia criativa, sua indústria e seus ativos imateriais – dentre eles o audiovisual, com sólidas políticas desenvolvidas pela ANCINE – Agência Nacional do Cinema.
A política desenvolvida na cidade recebeu o nome de Novo Hamburgo Polo Audiovisual. Não se trata de uma estrutura física, mas de uma série articulada de ações, atividades e propostas que visam a inserção de Novo Hamburgo no circuito audiovisual, seja ele regional, nacional ou internacional. As atividades, que compreendem da formação ao fomento, foram divididas em cinco eixos, complementares e articulados entre si, que proporcionam à cidade a atração de produções e eventos, criando uma cadeia produtiva audiovisual, na qual os agentes locais sejam beneficiários diretos das ações. Os eixos são Profissionalização, Responsabilidade Sociocultural, Formação de Público, Estabelecimento de Rede Audiovisual e Fomento.
Em qualquer jornada, um dos passos mais importantes e determinantes é o primeiro, aquele momento em que as vontades, ideias e anseios começam a tomar corpo e materialidade. No desenvolvimento de políticas públicas, esse primeiro passo significa conseguir encontrar linhas, parceiros e arranjos que possam viabilizar a execução dessas propostas novas. No Novo Hamburgo Audiovisual, esse primeiro passo se deu através do PDMI – Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado – executado a partir de recursos do BID. Parte dos componentes ‘Desenvolvimento Econômico’ e ‘Prevenção à Violência’, pertencentes ao PDMI, foram moldados de forma a contemplar ações dos eixos estabelecidos no Novo Hamburgo Polo Audiovisual.
A partir das oficinas de Comunicação Cidadã e Audiovisual (componente Prevenção à Violência), jovens de 15 a 24 anos dos quatro territórios com índices mais alarmantes de vulnerabilidade são convidados a lançar novo olhar sobre sua realidade. Isso promove o eixo Responsabilidade Sociocultural, uma vez que aproxima o audiovisual da comunidade, o coloca enquanto alternativa viável e próxima a esse jovem e desperta vontades para futura profissionalização. As atividades promovem a reflexão sobre o espaço e a realidade onde estão inseridas, levando a produção de curtas que não só valorizam e ressignificam o local no qual desenvolvem suas vidas, mas eleva sua condição existencial ao guindá-la à universal linguagem cinematográfica. O cinema comunitário, também vinculado ao projeto, exibe filmes gratuitamente a comunidade, servindo como janela de conhecimento, diversão e oportunidade.
“O Assédio Nosso de Cada Dia”, curta-metragem produzido pelos alunos da oficina de formação em comunicação cidadã e audiovisual – eles foram responsáveis pelas histórias do roteiro até a edição final. Fonte: PMNH
Dentro do componente Desenvolvimento Econômico, está em construção o CIT – Centro de Inovação Tecnológica – que, dentre outras iniciativas, contemplará a existência de recursos audiovisuais voltados ao desenvolvimento de agentes a partir da experimentação e oferta de cursos profissionalizantes. Além disso, a partir do CIT foi possível promover a aquisição do material necessário à consecução do CineMóvel – estrutura que levará o audiovisual aos diferentes bairros da cidade, conscientes de que uma cidade só produz cinema se consome cinema.
Com atividades promovidas por diversas secretarias municipais – propostas a partir da Secretaria da Cultura (SECULT), mas apoiada por outros setores, como educação, desenvolvimento econômico, segurança – e agentes parceiros – como a Universidade Feevale – o Novo Hamburgo Polo Audiovisual é uma política pública que trabalha com a atração de investimentos à cidade, capacitação de agentes (audiovisuais ou não) para inserção na cadeia produtiva, formação de público, instigação de novos agentes através de oficinas para jovens e a promoção da cidade enquanto produtora de conteúdo e produtos criativos.
Um dos diferenciais da política hamburguense é a visão ampla de audiovisual, que compreende não apenas filmes e séries, mas também games. Outro aspecto que respalda as ações é o êxito no edital de coinvestimento regional da ANCINE, que resultará na promoção de editais para produção audiovisual no município, em valor superior a R$ 5 milhões. Novo Hamburgo reinventa-se, rearranja os potenciais criativos que já possuía, e ruma a ser um laboratório aberto de inovação.
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