Foto: Ministério do Meio Ambiente
Cassia Peralta*
“Fuleco” é o seu nome, mas ele também é conhecido como “tatu-bola” pela maioria dos brasileiros. O nome foi criado a partir da combinação das palavras “futebol” e “ecologia”, uma tentativa de destacar o papel da Copa do Mundo na preservação do meio ambiente. Vencedor por natureza, o tatu-bola, ou o Tolypeutes tricinctu, é uma espécie que só existe no Brasil e que transforma-se, quando ameaçado, em algo muito parecido à uma bola de futebol – escolha perfeita para mascote da Copa do Mundo em nosso pais, você não acha?
Sim, embora a bola nem sempre role redonda para o Fuleco, espécie em risco de extinção. De acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a população do Tolypeutes tricinctu já diminuiu mais de 30% ao longo dos últimos 15 anos. A caça e a destruição do habitat natural dos tatu-bolas, a caatinga (vegetação tipica do Nordeste que vem sendo substituída por plantações de cana de açúcar e soja) estão entre as principais causas dessa diminuição.
A Copa não só chamou a atenção para a possível extinção de seu mascote, mas também para os efeitos cruéis da mudança climática e do desmatamento como um todo. Entre os cinco principais biomas brasileiros, a caatinga é muito rica em biodiversidade. Historicamente, recebeu menos atenção das autoridades, mas felizmente isso vem mudando. Contudo, a ameaça da devastação caatinga se agrava ainda mais quando se leva em conta o fato de que as populações que habitam esta área são uma das mais pobres do Brasil e, portanto, mais dependentes dos recursos naturais para a sobrevivência. A destruição de seu microclima, devido à má gestão dos solos e técnicas agrícolas pode levar a mudanças no ecossistema, o que implica um impacto sócio-econômico negativo para os moradores das proximidades. Isso aumenta a importância das práticas de negócio e de produção sustentáveis na preservação da biodiversidade, que passam pela gestão do ecossistema com uma abordagem integrada, onde todos os participantes estão envolvidos.
Além do Fuleco como mascote da Copa, outras iniciativas de preservação do meio ambiente também focam na preservação dos tatu-bolas . Em maio deste ano, o Ministério do Meio Ambiente, por meio do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade, lançou uma campanha dirigida especificamente à redução do risco de extinção do tatu-bola nos próximos cinco anos. Em parceria com a Associação caatinga, The Nature Conservancy e do Grupo Especialista em Tatus, Preguiças e Tamanduás, o “Projeto Tatu-Bola ” busca criar áreas protegidas para a conservação do mascote da Copa e difundir o conhecimento sobre a caatinga, incluindo a promoção da educação ambiental. E, como no caso da Copa, os esforços pela preservação do tatu-bola e da a caatinga não ocorrem apenas no Brasil: pouco antes do lançamento do Projeto Tatu-bola, um grupo de cientistas de todo o mundo desafiou a FIFA e o governo brasileiro a proteger 1.000 hectares da caatinga para cada gol marcado na Copa do Mundo. Com uma das maiores médias de gols marcados na historia dos mundiais – até agora, 3,5 gols por jogo -, tal desafio pode representar uma grande conquista para os tatu-bolas, que nesse momento já são vencedores da fase de grupos por estarem em evidência.
Este post foi originalmente publicado pelo blog do BID Setor Privado
* Cássia Peralta é diretora de investimentos (investment officer) do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Seu trabalho é focado na estruturação de investimentos com o setor privado, estimulando o desenvolvimento através da implementação de práticas de negócios sustentáveis. Ela nasceu no Brasil, tem MBA da Wharton School of Business e é autora do premiado livro Born in Rio.
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