Diego Taborga*
Quem não gosta de uma boa história? Recentemente li um artigo de Paul Zak, para a Harvard Business Review, chamado “Por que seu cérebro gosta de boas narrações” (disponível em inglês). Neste artigo, Paul descreve a maneira em que as histórias conduzidas por personagens são capazes de fazer que o público libere maiores doses de uma neuroquímica chamada oxitocina. Segundo o acadêmico, esta química “é produzida quando os demais confiam em nós ou nos mostram sinais de bondade, o que motiva a cooperação com outras pessoas”.
O poder da narrativa de histórias encontra-se em sua capacidade de mudar o comportamento ou o conhecimento das pessoas. Consequentemente, esta prática tem grande potencial para extrair as mensagens e as lições que possuem nossos dados. Com mais frequência, estão sendo utilizadas histórias de dados para transmitir ao público as mensagens mais importantes que colocam os rigorosos trabalhos de armazenamento e exploração de dados. Por este motivo, surge uma pergunta importante: uma vez já analisados os dados e identificadas as principais conclusões que podemos extrair deles, como podemos apresentar estas ideias em formato de histórias? Não há dúvida de que a narração é um recurso excelente, mas há que se ter claro a mensagem e decidir se vai ser apresentada em um vídeo, infográfico, ilustração ou qualquer outro formato segundo o que se deseja transmitir.
Os seguintes passos te guiarão durante o processo de desenvolvimento de uma história sobre dados:
Defina uma chamada à ação
Este é provavelmente um dos passos mais desafiantes, mas também o mais necessário. Qual é a mensagem que se deseja transmitir? O que você quer de seus leitores (ou ouvintes) façam ou compartilhem depois de escutar sua história? Utilizamos as histórias sobre dados para transformar algo abstrato ou complexo em algo que a gente possa compreender, contextualizar e lembrar facilmente. Lembrar que “as anedotas superam os dados”.
Identificar uma chamada à ação nos permite focar no desenho e na narrativa de nossa história, o que incrementará as probabilidades de que nosso público compartilhe a história e comprometa-se a levar adiante ações concretas e/ou tenham as mudanças desejadas.
Escolha seu público
Pixar, o conhecido estúdio de animação, afirma que a regra dois das 22 regras para a narração de histórias é conhecer quem vai ser o público de nossa história e quais são seus interesses: “Há que se levar em conta o que interessa ao público, não o que te diverte fazer como escritor. Estas duas coisas podem ser muito diferentes”. Considere que vão se interessar pela mensagem que transmitem seus dados e a quem dirige a chamada à ação. Escreva a história para eles.
Imagine que o público escolhido tenha a oportunidade de se aprofundar nos dados já compilados, quais perguntas podem surgir? Quais decisões serão enfrentadas e quais informações necessitam para usar a mais adequada? Inclua o ponto de vista de seu público na história desenvolvida.
Seja transparente
É importante que seu público possa revisar os dados e se tem alguma pergunta, ou se não estão de pleno acordo com sua história. Durante a compilação, processo e análises dos dados, certamente você terá que tomar muitas decisões sobre o que selecionar e como registrar tudo; de um modo ou outro, interpretar algumas variáveis de uma maneira específica. Recordar todos os parâmetros e decisões que você tomou pode ser determinante, mas é importante documentar todo seu processo de trabalho e compartilhar a informação e as advertências mais relevantes com seu público.
Simplifique tudo o que puder
Quando apresentar seus dados, tenha sempre presente o seu público. Não mencione termos como desvio padrão ou o intervalo de confiança se o público não sabe sobre estatística. Neste aspecto, Jeremy Taylor tem desenvolvido uma série de passos que podem te ajudar neste processo. Por exemplo, recomenda começar mostrando estatísticas descritivas, sintetizar os dados com antecipação para focar na própria análise, ou incluir e reconhecer que o estudo não tenha obtido dados significativos. Você deseja se aprofundar mais em como apresentar dados estatísticos, também pode ler o manual das Nações Unidas “Como fazer compreensíveis os dados”.
Utilize apoios visuais para complementar a história
Os apoios visuais melhoram a história que se está contando, mas a escolha do que e de como projetá-los é de grande importância. Meg Cannistra, no Ceros blog, sugere que as escolhas sejam baseadas no tipo de relação dos dados que quer apresentar. Decidir como vai contar sua história pode ser muito complicado. Sempre tem que ter em mente qual é o objetivo da sua mensagem. Para que esta tarefa seja mais fácil, consulte aqui um artigo sobre diferentes tipos de apoios visuais e como eleger o mais adequado segundo a mensagem que se deseja transmitir. Também, no artigo “Narrative Visualization: Telling Stories with Data” (visualizações narrativas: narrar histórias com dados), pesquisadores de Stanford analisam narrações conduzidas por autores em comparação com aquelas conduzidas por leitores. Quer comunicar uma mensagem homogênea ou prefere fomentar a interação do público com os dados?
Conte uma história sincera
Em geral, nós humanos tendemos a cometer o erro de ver o que queremos acreditar. Se no momento de interpretar os dados sua hipótese não ficou clara, em algumas ocasiões é possível “encontrar” coisas nos dados que não são válidas mas que apoiam o ponto de vista que você quer provar. Portanto, certifique-se de contar uma história sincera que seja coerente com os dados, independentemente da mensagem que queira transmitir ou das decisões sobre as quais queira influenciar. Como referência, este artigo de Steve Cooper apresenta uma série de pautas que podem te ajudar na hora de interpretar seus dados. Por exemplo, recordar qual é o contexto, recompilar “pontos de interesse”, buscar desvios, entre outros.
Você tem alguma história de dados que desejar contar? Inclua seus comentários abaixo!
Blogpost publicado originalmente em espanhol no blog do BID, Abierto al público
*Diego Taborga é um cidadão americano e boliviano e trabalha como consultor no BID para o Setor de Conhecimento e Aprendizagem. Atualmente apoia o processo de desenho, implementação e avaliação dos planos de conhecimento e aprendizagem desenvolvidos por departamentos internos, com o objetivo de desenvolver maior eficiência e efetividade operativa. Além de apoiar o desenvolvimento de soluções integradas para as necessidades dos clientes e estabelecer associações para oferecer serviços de valor adicionado, sua área de interesse pessoal está focado em como melhorar a implementação destas atividades mediante o uso de dados. Diego possui licenciatura em Ciências Políticas e Psicologia pela Universidade do Kansas.
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