Pelo Facebook e aplicativos para o celular como o WhatsApp, jovens convocam encontros coletivos em shoppings
As acaloradas discussões sobre os rolezinhos estão tomando os mais variados rumos sem que se dê muito atenção a um aspecto fundamental: a falta de áreas de lazer nas cidades brasileiras, especialmente nas periferias, de onde vêm os jovens que organizam os encontros pelas redes sociais. “Vamos colar no shopping amanhã. A gente não tem nada para fazer mesmo”, dizia a convocação para o rolê promovido no sábado (14) no shopping Itaquera, em São Paulo.
Já faz mais de uma década que deixei o bairro cinza e sem graça da região metropolitana de São Paulo onde vivi toda a minha adolescência. Ali as opções de lazer eram, e continuando sendo, ficar em casa vendo televisão ou ficar na calçada conversando com os amigos. Todas as vezes que volto ao meu endereço de juventude sinto uma mistura de tristeza e de pena daqueles que, ao contrário de mim, seguem carentes de cultura e lazer.
Não há praça, quadra esportiva, biblioteca, centro cultural, cinema, teatro ou nada que o valha. Não há nem mesmo um posto de gasolina com loja de conveniência, o que em muitos bairros afastados do centro, mesmo naqueles não necessariamente considerados pobres, transformou-se em única opção contra o tédio.
A cidade de São Paulo conta com cerca de 100 parques. O site do Departamento de Parques e Recreação de Nova York informa que a Big Apple tem mais de 1700 – incluídos aí playgrounds e espaços de recreação. Ah, mas Nova York é muito mais rica que São Paulo. Sim, verdade, mas utilizei a cidade norte-americana como base de comparação porque, como a capital paulista, ela também é populosa. Peguemos então Buenos Aires: 250 espaços verdes.
Para ser justa com São Paulo, admito que, sim, Nova York e Buenos Aires podem contabilizar como parques áreas que não necessariamente o sejam, embora eu já tenha estado nas duas cidades e não tenha tido essa impressão. Também é importante deixar claro que a falta de áreas de lazer não é problema novo, mas antiquíssimo, e que a mesma situação se verifica em outras cidades brasileiras – casos de Manaus, Maceió e Rio, para citar algumas que conheço.
Não à toa, é comum que muitos amigos e familiares me convidem para passear no shopping nos finais de semana. Goste-se ou não dos centros comerciais, tratam-se de espaços limpos e relativamente seguros que tentam oferecer atrações para toda a família. Os shoppings converteram-se no verdadeiro playground da maioria dos brasileiros. É bem possível que em pouco tempo os rolezinhos virem coisa do passado. A falta do que fazer, contudo, não vai desaparecer. Será uma pena perder a oportunidade que eles nos estão dando para que melhoremos a qualidade de vida em nossas cidades.
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