Nas janelas e nas sacadas, os aplausos reconhecem o esforço de quem não pode parar apesar da pandemia, como médicos e enfermeiros (sobretudo no setor público, responsável por 75% dos atendimentos no Brasil), mas não apenas: o contexto atual tem exigido bravura e dedicação também de milhares de profissionais que atuam na retaguarda do funcionalismo, menos visíveis ao grande público, mas essenciais para garantir itens como pagamento de benefícios, recolhimento de tributos e equilíbrio das finanças do país.
E apesar de atributos como empenho, eficiência, agilidade e comprometimento não estarem comumente associados ao serviço público no imaginário popular do Brasil e da região, quem acompanha de perto os trabalhadores públicos sabe que essas características não são exceção nem são exclusivas de tempos de crise. E é nesse sentido que iniciativas como o Prêmio Espírito Público 2020, cujas inscrições vão até o próximo 29 de julho, têm relevância.
A premiação procura reconhecer o mérito de profissionais que transformam o serviço público brasileiro em seis categorias: Educação, Segurança Pública, Meio Ambiente, Governo Digital, Gestão de Pessoas e Projeto de Equipe em Saúde.
Além de jogar luz sobre a excelência e o profissionalismo de inúmeros servidores públicos no país, ações como essa ganham especial importância diante da crise reputacional que a máquina pública enfrenta na nossa região.
Entre 2008 e 2018, subiu de cerca de 55% para mais de 70% o percentual de latino-americanos que declararam ter pouca ou nenhuma confiança nos respectivos governos, segundo pesquisa do Latinobarómetro (arquivo em pdf em espanhol).
É evidente que níveis crescentes de descontentamento apontam para problemas e necessidades de melhoria. Mas é também verdade que nos últimos anos, em todas as esferas de governo, milhares de iniciativas, conduzidas pelos próprios funcionários públicos, avançam rapidamente no sentido de aumentar a confiabilidade, a transparência e a eficiência dos serviços prestados aos cidadãos.
Mudanças desse porte precisam ser acompanhadas de esforços de comunicação para a sociedade e de reconhecimento a quem se engaja – e esses são outros fatores que demonstram a pertinência de medidas como o Prêmio Espírito Público.
Este ano, a premiação chega à sua terceira edição, com inscrições abertas para servidores nas esferas federal, estadual e municipal com no mínimo dez anos de atuação. Há prêmios em dinheiro, além de cerimônia de reconhecimento e de divulgação do trabalho.
Os organizadores e parceiros incluem diversas instituições, como o BID, e o juri inclui nomes do governo, academia, terceiro setor e empresas com grande experiência nas respectivas áreas.
Excelência é a regra
Nas edições anteriores, nos deparamos com histórias como a de uma psiquiatra que desenvolveu ações para alertar sobre a questão do suicídio; a da juíza que extrapolou seu papel de julgadora e apoiou a formação de professores para amparar crianças vítimas de violência doméstica. Houve também o caso do profissional da Controladoria Geral da União que liderou a implementação de uma ferramenta digital para combater a corrupção, uma enfermeira que capitaneou iniciativas para empoderar grávidas em situação de vulnerabilidade e uma bióloga lutando contra crime ambiental.
São tantas as histórias bonitas vivenciadas nos anos anteriores que, além da vontade de conhecer os novos casos que se apresentarão este ano, fica como aprendizado a importância de criar espaços como esse para estimular e reconhecer aqueles que fazem a diferença.
‘Oscar do serviço público’
Formada por quatro organizações do terceiro setor (Fundação Brava, Fundação Lemann, Instituto Humanize e Instituto República), o Prêmio Espírito Empreendedor se inspira parcialmente na experiência dos Estados Unidos, que têm seus “Oscars” da administração pública federal organizados pela ONG Parternship for Public Service desde 2002.
Nos países vizinhos, iniciativas similares comprovam o sucesso de iniciativas de reconhecimento como essa. É o caso do Prêmio de Boas Práticas em Gestão Pública no Peru, que começou em 2005 pela ONG Ciudadanos al Día, do Prêmio Nacional de Alta Gerência na Colômbia organizado pelo departamento de Função Pública desde o ano 2000 e, mais recentemente, o prêmio “Eu Sirvo o Meu País” organizado pela Direção Nacional de Serviço Civil do Chile em 2019.
Seja no Brasil ou nos países vizinhos, além de medidas concretas para o avanço do setor, a brecha entre os esforços dos servidores e a percepção na sociedade poderá ser diminuída por meio de iniciativas como essas premiações. Pela posição estratégica que o BID enxerga nos funcionários públicos como promotores de desenvolvimento e catalizadores de melhorias de vidas, não só damos as boas vindas a essas iniciativas, como também incentivamos que outras com o mesmo propósito sejam executadas.
Leave a Reply